Home TVEpisódio Crítica | O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder – 1X05: Partidas

Crítica | O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder – 1X05: Partidas

E agora vai?

por Kevin Rick
3,2K views

  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos outros episódios da série, e, aqui, de todo nosso material de Senhor dos Anéis.

Qual é, mesmo quem discorda do meu argumento de que falta senso de exploração e movimentação na série, tem que perceber como o seriado continua terminando os episódios com a indicação de que uma aventura vai começar. Foi assim com a migração dos pés-peludos em Adar; com os voluntários em A Grande Onda; e agora novamente com os navios de Númenor zarpando neste episódio. Isso é tão frustrante. Não tenham dúvidas, os roteiristas querem fazer uma história com os personagens desbravando a Terra-média, mas caramba, como eles são enrolados e chatos para chegar nesse ponto. Mais da metade da temporada e cinco horas depois, e temos um episódio estacionário com ritmo glacial. O título chega a ser uma maldita provocação.

Não é nem um problema com um caráter introdutório mais, pois parece que Os Anéis de Poder está simplesmente arrastando a história com nada significativo acontecendo. Por exemplo, os eventos em Númenor são tão desnecessários nesse episódio, narrativamente dedicado a mostrar as preparações da viagem e alguns obstáculos bobos. Todas as cenas envolvendo Isildur e o filho de Pharazôn não levam a lugar nenhum (qual foi a consequência das explosões dos navios?), sem falar que seu draminha com seus amigos é desinteressante e genérico; o arco de Galadriel está apático desde o episódio passado, com a personagem andando pela cidade sem nenhum impacto na história; e nem quero falar muito da monótona Rainha Regente e seu pai demente, que não trazem qualquer efeito à narrativa.

Númenor deveria ter sido um ponto de parada na jornada de Galadriel, não um evento que dura três episódios com zero substância política e com a personagem andando para lá e para cá tentando convencer personagens pelo que me aparenta ser meses (a linha de tempo da série é tão confusa… os pés-peludos migraram durante um tempão, e a Galadriel parece estar em Númenor há poucas semanas, enquanto o bloco de Arondir se moveu por algumas horas ou poucos dias). E o pior de tudo, nós acabamos o episódio NO MESMO PONTO da semana passada. Quem discorda comigo, faça a pergunta do que mudaria na história se não tivéssemos as cenas de Partidas em Númenor?

Simples e pura enrolação. Não é nem introdução, e sim má vontade de progredir a história. A única exceção seria o momento que Galadriel convence Halbrand a ir para o Sul, mas não precisávamos de um episódio inteiro para isso. Os roteiristas do seriado estão tão interessados em emular a montagem de GoT, mas não percebem que a narrativa de Westeros se beneficiava de complexidades e nuances políticas, enquanto a Terra-média maniqueísta e de fantasia clássica se beneficia da jornada. Confesso, porém, que Galadriel dando uma surra nos soldadinhos foi divertido de assistir e a direção lidou bem com a coreografia e o humor, ainda que a sequência seja completamente dispensável no contexto geral.

A monotonia de Partidas também é um problema no núcleo de Arondir e Theo. O tema da corrupção de homens é até bem desenvolvido e articulado na história, com uma corrente sobre sobrevivência circulando o debate (a montagem inteligentemente conecta a discussão com Halbrand), mas o desenrolar do núcleo é lento e entediante, também nos encaminhando para um desfecho anticlimático que indica o ataque dos Orcs no próximo episódio – incrivelmente irritante a barriga que o seriado faz, sempre jogando eventos para frente.

Para o mérito da produção, o segmento dos pés-peludos retorna com um senso de progressão. As sequências do grupo migrando enquanto cantarolam, com sobreposições de mapas e cenas de paisagens dão uma sensação genuína de escopo e de uma jornada divertida com diversos riscos. Tudo acaba sendo rápido demais e comprimido em momentos específicos (o ataque dos lobos; a recuperação do Estranho), mas temos os primeiros momentos de aventura no seriado desde a apresentação de Galadriel – como eu adoraria ter visto mais de sua jornada à procura de Sauron, de modo ativo e não apenas como contextualização. Ademais, o mistério acerca de quem é o Estranho continua levemente curioso, sendo que a cena do gelo me faz pensar que é o Saruman (Gandalf era representado com fogo), mas a possibilidade (ruim) de ser Sauron é mantida.

Também continuo apreciando a história com Elrond e Durin. O roteiro faz um ótimo trabalho com as motivações dos personagens, suas decisões complexas e os dilemas entre raças que atrapalham sua amizade. Há a dicotomia de razões pessoais X obrigações políticas, sendo que os atores continuam entregando uma parceria genuína e simpática, assim como ótimas ligações entre o arco dos personagens e riscos catastróficos, a importância do mithril e até mesmo lendas élficas – que sequência animada fantástica, não? Dessa forma, a história do elfo e o anão se mantém em uma linha tênue entre pessoalidade e consequências épicas, algo que sempre amei no universo (Frodo e Sam; Aragorn, Legolas e Gimli; e até Bilbo e Thorin).

No fim, as qualidades de Partidas não deixam o episódio se tornar verdadeiramente ruim, mas ele chega perto. O núcleo em Númenor é simplesmente um desastre por qualquer ângulo que podemos pensar, seja de ordem narrativa (repetitivo, lento e cheio de cenas desnecessárias), seja em termos de arcos dos personagens, principalmente com o desenvolvimento estagnado de Galadriel, em tese a personagem central do seriado, ou a enfadonha participação de Isildur. O restante dos segmentos se encaminham bem, com destaque para Khazad-dûm, ainda que a progressão da narrativa geral continua estática e a direção limitada a cenários fixos. Mas agora as partidas começaram… certo?

O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder – 1X05: Partidas (The Lord of the Rings: The Rings of Power –1X05: Partings) | EUA, 23 de setembro de 2022
Criação: 
J. D. Payne, Patrick McKay (baseado no universo de J. R. R. Tolkien)
Direção: Wayne Yip
Roteiro: Justin Doble
Elenco: Morfydd Clark, Will Fletcher, Lenny Henry, Sara Zwangobani, Thusitha Jayasundera, Maxine Cunliffe, Dylan Smith, Markella Kavenagh, Beau Cassidy, Megan Richards, Robert Aramayo, Benjamin Walker, Ismael Cruz Córdova, Geoff Morrell, Nazanin Boniadi, Tyroe Muhafidin, Charles Edwards, Daniel Weyman, Owain Arthur, Sophia Nomvete, Peter Mullan, Joseph Mawle
Duração: aprox. 60 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais