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Crítica | Olhos Famintos 2: Antes e Agora

Uma análise retrospectiva da empolgante e eficiente sequência de Olhos Famintos.

por Leonardo Campos
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Lançado em 2016, o documentário Olhos Famintos 2: Antes e Agora emerge como um olhar fascinante sobre o processo criativo por detrás do filme de horror Olhos Famintos 2. Esta obra, concebida por Victor Salva, é particularmente notável por ter sido produzida durante o período em que ele se preparava para a realização de Olhos Famintos 3. A intenção por trás do documentário não foi apenas traçar a gênesis da sequência do filme de 2001, mas também reinterpretar a narrativa após mais de uma década de exibição nos cinemas, oferecendo uma reflexão sobre o legado e a evolução do gênero terror. O cineasta Victor Salva, que também assina o roteiro do primeiro filme, revela neste documentário que sua continuação foi inspirada por eventos trágicos da história recente, especificamente os ataques de 11 de setembro de 2001. Para ele, a continuidade da narrativa de sequência opera como uma parábola que reflete sobre o caos e a desolação que surgiram daquele dia fatídico. Assim como as Torres Gêmeas foram devastadas por um ataque vindo do céu, a nova ameaça em se materializa como um predador aéreo, simbolizando o pavor e a luta pela sobrevivência diante de forças incontroláveis. Essa conexão não apenas amplia a profundidade narrativa do filme, mas ressoam temas universais sobre tragédia e resiliência que transcendem o contexto do terror.

Em um aspecto mais técnico, o documentário revela como Salva, inicialmente, não tinha a intenção de criar uma sequência. A ideia de uma continuação só surgiu quando o renomado cineasta Francis Ford Coppola o incentivou a explorar o enredo ao final de Olhos Famintos, permitindo que a trama se desenvolvesse em um período marcado como o último dia de atividade do monstro Creeper. Esta mudança significativa não só tornou a narrativa mais complexa, mas também introduziu uma dimensão temporal que enriqueceu a história. O Creeper, que retorna a cada 23 anos, se torna, assim como muitos vilões clássicos do cinema, um símbolo do medo atemporal, perpetuando a ideia de que algumas ameaças nunca desaparecem completamente. Durante sua preparação para o filme, Salva se deparou com diversas influências cinematográficas, dentre elas, o clássico Um Barco e Nove Destinos, de Alfred Hitchcock. A obra do mestre, conhecida por sua tensão e suspense, serviu de inspiração para a estrutura narrativa do ônibus, que se transformou em um microcosmo da luta pela sobrevivência. Este cenário, que traz personagens limitados a um espaço confinado, reflete não apenas a claustrofobia do terror, mas também o senso de urgência e desespero diante de uma ameaça invisível que sobrevoa. A escolha de um ônibus, veículo associado ao transporte de pessoas e, paradoxalmente, ao isolamento, potencializa ainda mais o impacto emocional e dramático do filme.

Salva também destacou os desafios que enfrentou ao criar a estrutura visual de Olhos Famintos 2. Com um enfoque maior em cenas internas dentro de um ônibus, ele buscou desenvolver uma narrativa que não apenas colocasse os personagens em situações de confinamento, mas que também ampliasse a sensação de perigo ao fazer o Creeper sobrevoar uma vasta paisagem desértica. Essa estratégia visual se alinha à sua intenção de intensificar a experiência sensorial e a ansiedade do espectador, ao mesmo tempo em que compõe um cenário propício para o embate entre o humano e o sobrenatural. Diante desta dualidade, isto é, a segurança relativa do ônibus versus a iminente destruição do Creeper, enriquece a narrativa e coloca o público em um estado contínuo de tensão. Um dos personagens centrais do filme, Jack Taggart, simboliza a busca por justiça e vingança, sendo inspirado pela figura emblemática de Ahab em Moby Dick, o célebre romance de Herman Melville. Essa analogia literária confere ao personagem uma profundidade que extrapola a mera figura do herói em busca de resgate; ele se torna um reflexo das obsessões humanas e das consequências que elas trazem.

Ademais, o paralelo entre a busca de Taggart pelo monstro e a caça de Ahab pela baleia branca enriquece ainda mais o discurso filosófico que permeia Olhos Famintos 2, permitindo que os espectadores se conectem emocionalmente com os dilemas expostos. Por fim, o documentário Olhos Famintos 2: Antes e Agora se destaca não apenas como um produção relevante para os fãs do cinema, mas como uma aula envolvente sobre processos de composição no cinema. A edição organizada e a fluência dos depoimentos realizados por Victor Salva e outros envolvidos na produção proporcionam uma imersão no universo criativo da indústria cinematográfica. A comparação feita pelo diretor entre sua sequência e a obra de James Cameron em Alien, que ampliou as cenas de ação e intensificou o drama humano, solidifica a ideia de que Olhos Famintos 2 é uma continuidade ousada e autêntica de uma franquia. Assim, o documentário transcende o simples relato da criação de um filme de terror, transformando-se em uma reflexão profunda sobre a arte de contar histórias e o impacto que elas podem ter na sociedade contemporânea, indo muito além das fronteiras do gênero e das expectativas do público. Numa época de saturação no slasher e dos primeiros passos das refilmagens de filmes de terror orientais, Victor Salva e sua equipe nos entregaram um monstro genuíno.

Olhos Famintos 2: Antes e Agora (Jeepers Creepers 2: Then and Now) – EUA, 2016
Direção: Victor Salva, Tom Tarantini
Roteiro: Victor Salva, Tom Tarantini
Elenco: Jonathan Breck, Ray Wise, Nicki Aycox, Garikayi Mutambirwa, Eric Nenninger, Travis Schiffner, Lena Cardwell, Billy Aaron Brown, Marieh Delfino, Diane Delano, Thom Gossom Jr., Tom Tarantini, Victor Salva
Duração: 22 min.

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