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Crítica | Orfeu (2025)

Soterrando a história.

por Ritter Fan
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Baseado em poema ilustrado de Dino Buzzati, Virgilio Villoresi leva ao audiovisual mais uma versão do mito grego de Orfeu, que conta a jornada do personagem titular, um bardo trácio, ao submundo mitológico para salvar sua amada Eurídice de seu fim certo. Aqui, porém, a história é trazida aos tempos modernos, em Milão, com o pianista Orfeu, vivido por Luca Vergoni, depois de se apaixonar pela bailarina Eura Storm (Giulia Maenza) e de ficarem juntos por um breve período de tempo, subitamente a perde, precisando, em seu desespero para achá-la novamente, enveredar por uma porta que lhe dá acesso a um mundo mágico que, então, dá início ao seu périplo.

Apesar de, em linhas gerais, o longa (quase média metragem) seguir a estrutura da história clássica, sem se desviar dos eventos mais importantes, especialmente de seu fim, a execução da obra é um misto de filmagem com atores reais com diversos tipos diferentes de animação, seja ela tradicional 2D, stop-motion ou jogo de sombras, com uma estética lírica e onírica que por vezes lembra obras de Alejandro Jodorowsky, outras de Terry Gilliam, e outras vezes ainda de Luis Buñuel. A marca do trabalho de Villoresi é a mistura de técnicas e estilos, mantendo sempre uma atmosfera sombria, mas de cores fortes que, sob diversos aspectos, parece transpor a obra de Buzzati para as telas, mas sem se preocupar em manter unicidade visual absoluta, como um exercício estético de um cineasta deslumbrando com as possibilidades que o audiovisual lhe permite e que não consegue decidir-se o que usar nessa vasta caixinha de areia.

Villoresi não chega a se perder completamente em sua vontade de usar tudo o que está disponível, mas as mudanças visuais constantes acabam enfraquecendo a história e enfatizando a estética. Como um sonho que inquieta quem dorme ou luzes estroboscópicas que hipnotizam quem está na pista de dança, seu Orfeu é visual sobre substância do começo ao fim que, quando chega ao final, não permite a lembrança desse sonho ou o êxtase causado pelas luzes. É, apenas e tão somente, um laboratório de experiências que leva o espectador de uma imagem diferente a outra sem um norte exato que não seja, evidentemente, fazer uma versão do famoso mito, com o diretor e corroterista sequer confiando na habilidade do espectador em compreender o que ocorre no pano de fundo de suas viagens lisérgicas e surreais, o que o leva a recorrer a irritantes diálogos expositivos que explicam o óbvio ululante e torna a experiência cada vez mais frustrante.

Mas a história é contada e o diretor não perde tempo nesse processo, ainda que o filme pareça mais longo do que realmente é. Entre gritos de desespero de Orfeu, olhares lânguidos de Eura, criaturas variadas que obstaculizam e também promovem a jornada e uma infinidade de jogos visuais diferentes que formam uma rica tapeçaria narrativa que muda as formas na medida em que a minutagem avança para que o espectador possa testemunhar quantas técnicas diferentes Villoresi consegue usar em uma mesma sequência, o longa sem dúvida entretém daquele jeito inadvertidamente básico que apenas parece ousado e diferente. Quem sabe se, na próxima, o diretor não se deixe levar pelo afã de mostrar tanto ao ponto de abafar a história e escolhe apenas uma ou duas técnicas audiovisuais para empregar? Orfeu e Eurídice (ou Eura) com certeza agradeceriam.

Orfeu (Orfeo – Itália, 2025)
Direção: Virgilio Villoresi
Roteiro: Virgilio Villoresi, Alberto Fornari (baseado em graphic novel de Dino Buzzati)
Elenco: Luca Vergoni, Giulia Maenza, Vinicio Marchioni, Aomi Muyock, Ettore Altieri, Emanuela Andorno, Paolo Belletrutti, Alessandra Breviario, Llewis Busignani, Antonio Calafati, Daniele Cereghini, Olivia Chiaramello, Martina Cozzi, Giulia Cutrera, Barbara De Bortoli, Giulia Gonella, Alba Claudia Laudisio, Andrea Lavagnino, Anna Levoniuk, Barbara Loscerbo, Simona Maccarone
Duração: 74 min.

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