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Crítica | Quo Vadis (1951)

Uma superprodução com grandes questões, mas com um vigor mínimo.

por César Barzine
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Apesar de ser um filme medíocre e possuir uma extensa duração, Quo Vadis não chega a ser uma experiência cansativa, pois se apoia numa trama que, mesmo não sendo muito dinâmica, prende a atenção do espectador com as intrigas e dilemas em volta do romance vivido pelos protagonistas. São eles o general militar Marcus Vinícius, uma figura viril com a mentalidade baseada na conquista pelo poder e domínio dos mais fracos; e Lygia, serva de aspecto sereno e seguidora veemente do cristianismo – uma religião recente para aqueles tempos do século I. No enredo, o contexto histórico é formado pelo choque de dois polos: o campo político e o religioso. Isso num império romano majoritariamente pagão, onde o cristianismo era um forte alvo de perseguição.

O filme acaba sendo, então, essa junção de romance, épico e uma história religiosa. O romance está completamente atrelado à religião, pois é das diferenças morais entre os dois amantes que parte o seu conflito central. Lygia é escrava de Marcus, o que já deixa nítido, tanto para ela quanto para o espectador, a discrepância entre os dois. Porém, ao contrário do que poderia ser, a barreira entre eles não é uma questão de classes, mas sim da conduta filosófica que cada um possui. Dado isso, é Lygia, a mais desprivilegiada, que impõe essa barreira entre eles, já que sua religião não aceitaria um nobre cujos maiores feitos são seus escravos e homens mortos por ele próprio em batalhas. 

Quo Vadis apresenta perfeitamente um contraste nietzscheano: a moral dos escravos (que valoriza a humildade) e a moral dos senhores (pautada no poder sobre os mais fracos). Este ponto do roteiro é, talvez, a única parte chamativa de todo o longa, pois acaba formando um pequeno estudo de personagem em torno de Marcus. Agora, ele terá que escolher entre sua paixão ou a já estabelecida carreira de nobre militar. No entanto, apesar desse conflito interno fluir de maneira pertinente, há um problema acerca das atuações do casal e da construção do romance que pesa no envolvimento do espectador para com eles. 

Os intérpretes que formam o par romântico, Robert Taylor e Deborah Kerr, possuem atuações mecânicas e sofrem com a falta de um maior timing entre si; parte disso se deve justamente ao roteiro, que pavimenta de maneira seca a paixão dos dois, deixando de lado situações que poderiam aprofundar o romance entre eles, o que geraria uma maior química e coesão. Kerr é a que possui o pior desempenho, estando descarregada de qualquer emoção e sem alterações em sua expressividade. Já Taylor leva vantagem pelo fato de seu personagem ter certa densidade, mas também possui uma performance bem insípida. 

A questão de Quo Vadis ser um desses épicos milenares de Hollywood já o deixa automaticamente preso a uma expectativa de certo esplendor visual, como é costumeiro nessas produções megalomaníacas da Era de Ouro. De fato, o visual do filme é bastante chamativo, uma pena que desabe para o lado da breguice. A fotografia, em momentos chaves, passa do ponto ao tentar ser enfática demais, exagerando na composição das cores e soando excessivamente artificial. É o caso do céu completamente avermelhado em alguns planos e da cena em que Deus se manifesta por meio de uma luz no percurso que o apóstolo Pedro e uma criança fazem, onde aparece planos com uma abordagem bem pictórica que busca alcançar, junto com os sons ressonantes, um tom angelical próximo ao sentimento de fé. 

Nem só Marcus e Lygia que são personagens mal elaborados e com péssimas performances, Peter Ustinov, que interpreta o Rei Nero, também causa incômodo com sua veia meio burlesca. O personagem/ator é o responsável por tirar a seriedade da obra graças ao seu comportamento que fica parecendo um bebê chorão sem a menor postura de um rei. As cenas em que ele está presente sempre ganham um clima jocoso, soando também deslocadas do restante da trama. O famoso (e falso) episódio em que ele toca lira junto ao incêndio em Roma é retratado de forma constrangedora e nada épica. O mesmo pode-se dizer da patética sequência final em que os cristãos são jogados em meio aos leões como um espetáculo no Coliseu. A dinâmica da ação carece de emoção e ritmo, transmitindo um forte distanciamento ao público – mais ou menos parecido com quase todo o restante do filme.

Quo Vadis – Estados Unidos, 1951
Direção: Mervyn LeRoy, Anthony Mann
Roteiro: S.N. Behrman, Sonya Levien, John Lee Mahin, Henryk Sienkiewicz (romance)
Elenco: Robert Taylor, Deborah Kerr, Leo Genn, Peter Ustinov, Patricia Laffan, Finlay Currie, Abraham Sofaer, Marina Berti, Buddy Baer, Felix Aylmer, Ralph Truman
Duração: 171 minutos.

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