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Crítica | Star Trek: Strange New Worlds – 3X09: Terrarium

Uma amizade inusitada.

por Kevin Rick
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios da série e, aqui, de todo nosso material sobre Star Trek.

Depois de alguns episódios irregulares, Strange New Worlds encontra em Terrarium um retorno ao que a série faz de melhor: combinar um conceito clássico de ficção científica com uma trama que faz jus ao subtítulo da obra. É incrível como essa série se sobressai quando, de fato, explora mundos estranhos (o problema no final é mais de orçamento do que de ordem narrativa…). A premissa é familiar para quem acompanha o gênero, com dois inimigos forçados a cooperar para sobreviver, mas a execução aposta em uma personagem até então pouco explorada, Erica Ortegas, e transforma a fórmula repetida em algo com peso dramático inesperado em um ótimo capítulo para essa reta final da temporada.

Colocar Ortegas sozinha em uma missão de reconhecimento já é uma escolha que cria tensão imediata. Diferente de Pike, Spock ou Uhura, a piloto não tem um “destino escrito” dentro da cronologia da franquia, e isso dá ao episódio uma dose extra de suspense: aqui, a sensação de perigo é real, porque ela poderia, em teoria, não voltar, mesmo que seja improvável. O tom de sobrevivência, com fome, falta de comunicação, ambiente hostil, é batido, mas funcional dentro do teste de resistência. E Melissa Navia, finalmente no centro da narrativa, entrega uma boa performance com nervosismo, humor e fragilidade, dando desenvoltura a uma personagem que muitas vezes havia ficado restrita a frases de alívio cômico na ponte.

A chegada do Gorn muda o eixo do episódio. Até aqui, a série retratou essa espécie quase sempre como monstros implacáveis, ameaças sanguinárias. Terrarium surpreende ao inverter essa lógica: o Gorn aparece ferido, vulnerável, e acaba ajudando Erica. O que poderia soar forçado ganha corpo pela forma como o episódio constrói essa relação: pequenos gestos de troca, partilha de comida, tentativas rudimentares de comunicação e até a criação de jogos como forma de estabelecer laços. Chega a ser uma história fofa. A amizade improvável que surge ali não apenas amplia a personagem de Erica, mas reconfigura nossa visão sobre os Gorn, oferecendo um vislumbre de que mesmo os “inimigos absolutos” carregam complexidade.

O clímax é doloroso justamente porque rompe essa expectativa de empatia. O resgate da Enterprise chega, mas La’an, marcada pelo trauma de sua história com os Gorn, age instintivamente e mata a criatura. Senti falta de ver como La’an mudou com a situação, mas isso pode ser retificado posteriormente. O choque do momento é menos sobre o ato em si, previsível dentro do histórico da personagem, e mais sobre a reação de Erica, devastada ao ver sua nova ligação desfeita de forma brutal. É nesse contraste entre experiências, preconceito e quebras de expectativas que o episódio encontra sua força.

São lições morais simples, mas eficazes e bem desenhadas por uma trama competente e de fácil identificação (o trabalho técnico com o Gorn é fantástico, sem falar do design de todo o planeta). O epílogo, com a revelação de que tudo fazia parte de um experimento dos Metrons, amarra o episódio de forma elegante ao cânone da franquia. Mais do que fan service, essa escolha amplia a reflexão sobre a evolução moral da Federação.

Terrarium não revoluciona a fórmula de Star Trek, mas mostra que a série continua capaz de extrair frescor de ideias antigas quando decide colocar seus personagens no centro da ação e quando decide sair da nave. Erica Ortegas ganha um episódio para si que marca sua passagem pela franquia e que mostra a faceta de um clássico adversário de uma maneira extremamente interessante.

Star Trek: Strange New Worlds – 3X09: Terrarium (EUA, 04 de setembro de 2025)
Desenvolvimento: Akiva Goldsman, Jenny Lumet, Alex Kurtzman (baseado em personagens criados por Gene Roddenberry)
Direção: Andrew Coutts
Roteiro: Alan B. McElroy
Elenco: Anson Mount, Ethan Peck, Jess Bush, Christina Chong, Celia Rose Gooding, Melissa Navia, Babs Olusanmokun, Rebecca Romijn, Martin Quinn, Carol Kane
Duração: 55 min.

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