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Crítica | Star Wars: Andor – 2ª Temporada

A verdade persevera.

por Kevin Rick
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Assim como fiz na crítica da primeira temporada, vou tentar trazer uma visão mais abrangente e holística da segunda temporada do prelúdio de Rogue One, uma vez que meu colega Ritter Fan abordou os detalhes do seriado nas críticas por episódio, então seguir a mesma linha de raciocínio – até porque concordamos em absolutamente tudo sobre a obra – seria redundante. Obviamente que a opinião mais geral sobre essa segunda temporada terá a mesma trajetória de pensamento, mas quem sabe com um sabor diferente em termos de análise e do que Star Wars: Andor significa para o passado e o futuro da franquia. Já pensando nisso, vou evitar explicações e contextos do segundo ano para mergulhar direto no que quero abordar: a experiência de rever SW após Jedha, Kyber, Erso. Imagino que muitas pessoas assistiram Rogue One depois da conclusão da série, mas recomendaria, também, a revisitação à trilogia original.

Dou essa sugestão, porque Star Wars: Andor muda como enxergarmos a vitória de Luke Skywalker e companhia. Como já falamos antes aqui no site, a produção altera por completo a imagem do Império. O olhar para o ordinário revela as nuances do regime totalitário: Stormtroppers deixam de ser uma piada, matando abruptamente um companheiro do protagonista (algo inimaginável nos filmes da saga principal); sacrifícios de figurantes ganham destaque, com cada espião tendo seu espaço de heroísmo e de aflição, como vemos na abertura dessa temporada; heróis morrem aleatoriamente, como acontece com Cinta, ou então sem uma audiência, como ocorre com Jug e com o próprio Luthen. Coincidências aparecem para atrapalhar a jornada, não para facilitá-la, como se a mão do Império estivesse em todos os lugares. Querem um exemplo? O encontro de Andor com um grupo desesperado na floresta, que para todos os efeitos é algo que superficialmente não agrega à história principal ou que soa deslocado, mas que na realidade descasca a beleza dessa narrativa: o perigo constante a cada curva.

Nesse sentido, Andor te faz odiar o Império como nunca antes nessa franquia. Você sente essa raiva ao rever os filmes, ao entender a participação de oficiais e soldados na opressão da galáxia e os feitos de Luke, Leia e Han ganham peso. Do nada, não estamos apenas em uma ópera espacial com temas familiares, tudo ao redor tem novos significados e cada membro da Rebelião soa importante. Pequenos atos de insurreição e momentos espontâneos de rebeldia constroem a ação do “escolhido” Luke, que agora soa mais como o último soco de uma engrenagem azeitada e menos como o salvador destinado da galáxia. Vejo essa diferenciação na comparação entre o manifesto de Nemik, que termina dizendo “Tente” com a famosa frase do Yoda: “Faça ou não faça, não há tentativa“. Diferente dos grandes personagens com poderes dos filmes, a parte humana da Rebelião não tem o mesmo luxo, então precisam tentar e se sacrificar.

Outras obras da franquia mostraram outros cantos e perspectivas desse universo. Quadrinhos, livros, animações e o próprio Rogue One vêm à mente, mas nunca com esse nível de profundidade e com esse realismo visceral de heróis escondidos e desconhecidos, de uma arte anti-fascista, anti-imperialista e anti-radicalização que vai politicamente além do simples “fascismo é mau”, indo fundo em como funciona esse regime (colonialismo, doutrinação, manipulação da mídia, trabalho prisional forçado e, sim, capitalismo). O manifesto de Nemik é manifestado em toda essa temporada, do medo por trás da máscara da opressão de Dedra, Syril e Partagaz, da forma como a Aliança se move com diversos atos aleatórios de pessoas que se cansaram do Império (Luthen é praticamente o pai da revolução), e da forma como uma ideia pura como liberdade é alcançada através de sacrifícios. Que essa abordagem madura seja acompanhada de uma direção cinematográfica, tramas calmamente pensadas para nos recompensar, blocos inteiros de pura tensão (NENHUMA obra de SW entende perigo como essa série, transformando ação em suspense) e a transformação de set-pieces de “entretenimento” em incorporações visuais do que verdadeiramente é uma rebelião (o genocídio de Ghorman é, talvez, o bloco mais corajoso de toda a franquia) é a cereja do bolo.

Para mim, existe Star Wars antes e depois de Andor. Em um modelo de histórias cada vez mais interessadas em fan-service e autorreferências, Tony Gilroy seguiu o oposto: transformou Star Wars: Andor em referência; ressignificando tudo que veio antes e acompanhando como um sombra tudo que vai vir depois. Talvez esse não seja o SW que George Lucas gostaria e com certeza não é o SW que a Disney quer entregar, então é um milagre que essa produção tenha ganhado a luz do dia. Stellan Skarsgård disse que a série é “Star Wars para adultos” e, apesar de entender como a frase possa parecer diminuir o que veio antes, entendo perfeitamente o que o ator quer dizer: a produção é um passo maduro para a evolução da franquia. Infelizmente, não sei se veremos algo assim novamente, mas, felizmente, pudemos apreciar enquanto durou. De uma coisa eu sei: quem assistiu essa obra nunca mais vai ver esse universo do mesmo jeito.

Star Wars: Andor – 2ª Temporada (EUA, 2025)
Desenvolvimento: Tony Gilroy
Direção: Ariel Kleiman, Janus Metz, Alonso Ruizpalacios
Roteiro: Tony Gilroy, Beau Willimon, Dan Gilroy, Tom Bissell
Elenco: Diego Luna, Genevieve O’Reilly, Stellan Skarsgård, Adria Arjona, Denise Gough, Joplin Sibtain, Muhannad Bhaier, Kyle Soller, Faye Marsay, Elizabeth Dulau, Varada Sethu, Alastair Mackenzie, Bronte Carmichael, Ben Miles, Dave Chapman, Kathryn Hunter, Richard Dillane, Ben Mendelsohn, Forest Whitaker, Anton Lesser, Marc Rissmann, Robert Emms, Benjamin Bratt, Joshua James, Alan Tudyk, Jonjo O’Neill, Jacob James Beswick, Alistair Petrie, Jonathan Aris, Sharon Duncan-Brewster
Duração: 630 min. (12 episódios)

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