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Crítica | Tal Mãe, Tal Filha (Freaky Friday)

Nem mágica, nem memória afetiva.

por Iago Iastrov
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A temporada televisiva de 1994-95 da ABC trouxe uma iniciativa estranha: a Disney decidiu reviver quatro de seus clássicos dos anos 1970, transformando-os em telefilmes. Junto com Felpudo: O Cão Enfeitiçado, O Computador de Tênis e Fuga Para a Montanha Enfeitiçada, chegava também Tal Mãe, Tal Filha, e devo confessar que descobrir a existência desta versão foi uma dessas curiosidades que aparecem quando se vasculha uma franquia ou filmografia esquecida. Melanie Mayron, veterana do drama televisivo dos anos 1980, assume a direção e tenta transportar a sensibilidade feminista de sua geração para um material que parece resistir a qualquer profundidade emocional.

O roteiro de Stu Krieger insiste numa modernização que mais atrapalha do que ajuda. Aqui, Ellen (Shelley Long) é uma mãe solteira e empresária do ramo têxtil, uma versão domesticada das heroínas de Uma Secretária de Futuro, enquanto Annabelle (Gaby Hoffmann) vive a adolescente incompreendida. A inversão de corpos, explicada através de colares mágicos “orientais” (termo que soa desconfortável em 1995, e que hoje faria qualquer executivo de estúdio suar frio), deveria gerar o conflito central, mas Long e Hoffmann interpretam personalidades tão similares desde o início, que a troca se torna praticamente imperceptível. É como assistir duas atrizes interpretando a mesma pessoa em idades diferentes, numa espécie de Benjamin Button cômico.

A direção tenta criar algo profundamente engraçado aqui, mas não parece segura com nenhum dos atos, e o espectador percebe isso. Sem contar que a qualidade de produção pode ser bastante questionada: iluminação uniforme demais, cenários que gritam “estúdio!” e figurinos estranhos com etiquetas à mostra. A comédia da situação afunda numa série de cenas-pastelão com timing inadequado, e até parece que o filme quer sabotar suas ideias de propósito, principalmente nas cenas em que Shelley Long precisa fazer “atividades/interações como uma adolescente”. 

Entre os remakes da franquia Freaky Friday, Tal Mãe, Tal Filha é só uma curiosidade ruim somada a um teste de paciência do espectador; o produto de uma época na qual a Disney testava fórmulas para a televisão, ainda sem compreender que nem toda magia cinematográfica sobrevive ao formato doméstico. É um experimento que tenta atualizar um conto sobre empatia geracional sem entender o que o tornava relevante ou mesmo aceitável, para início de conversa. Em vez de reencantar uma nova geração, o telefilme gera uma combinação matadora de sono e vergonha alheia. Nada muito promissor, como se vê. 

Tal Mãe, Tal Filha (Freaky Friday) — EUA, 1995
Direção: Melanie Mayron
Roteiro: Stu Krieger (baseado em roteiro inicial e obra de Mary Rodgers)
Elenco: Shelley Long, Gaby Hoffmann, Catlin Adams, Sandra Bernhard, Eileen Brennan, Drew Carey, Carol Kane, Kevin Krakower, Taylor Negron, Alan Rosenberg, Andrew Keegan, Marla Sokoloff
Duração: 86 min.

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