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Crítica | Ted Lasso – 1ª Temporada

Uma série que aquece corações.

por Ritter Fan
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Nos tempos cínicos em que vivemos, é bem possível que uma série como Ted Lasso sofra todo o tipo de preconceito simplesmente por ser positiva até a raiz do cabelo, quase que como um conto de fadas, com um protagonista que, na medida em que o conhecemos mais, revela-se como um ser humano tão humano, tão compreensivo, tão doce e tão inteligente que ele simplesmente não pode existir, nem mesmo em uma obra de ficção. No entanto, é exatamente por isso que Ted Lasso é um pequeno tesouro que, justamente em nossos tempos, precisa ser descoberto e apreciado.

Produzido pelo Apple TV+ com base – pasmem! – em um personagem criado por Jason Sudeikis para uma série de comerciais do canal esportivo da NBC para a cobertura da Premier League britânica, a série usa a inusitada premissa de colocar um técnico de time de futebol americano do colegial como técnico do AFC Richmond, um dos times mais prestigiados da liga britânica de futebol como base para trabalhar um conceito que muitos podem ver como completamente deslocada no tempo, mas que é tão importante cultivarmos: a gentileza. Ted Lasso (Sudeikis) é o referido técnico que, juntamente com seu lacônico amigo e treinador Beard (Brendan Hunt), mudam-se para Londres a convite de Rebecca Welton (Hannah Waddingham), a nova dona do time que, secretamente, quer destruir o Richmond por vingança contra seu ex-marido mulherengo, já que esta era a propriedade que ele mais amava.

Acontece que Lasso é muito mais do que parece ser. Apesar de não entender absolutamente nada de futebol “não americano”, ele é um profundo conhecedor da natureza humana e tem interesse não em ganhar a qualquer custo, mas sim, simplesmente, ser um técnico para ajudar as pessoas a alcançarem seu potencial. Com isso, o simpático jeito caipira que Sudeikis imprime eu seu personagem vai, aos poucos, encantando todos ao seu redor, quebrando preconceitos, unindo pessoas e, claro, trazendo sorrisos aos rostos dos espectadores que conseguirem apreciar a inocência, mas ao mesmo tempo a inteligência emocional do protagonista. Afinal, é praticamente impossível não apreciar a forma terna como ele realmente dá atenção aos comentários de Nathan “Nate” Shelley (Nick Mohammed), um simples e humilde kit man (o funcionário responsável pelo equipamento dos jogadores) que conhece futebol como ninguém, aos poucos transformando um homem extremamente inseguro em alguém de grande valia para o time. Também é difícil esconder o sorriso quando Lasso estabelece a rotina diária de levar biscoitos para Rebecca todos os dias pela manhã, biscoitos esses que ele mesmo faz diariamente, encantando sua inicialmente traiçoeira chefe.

Mas os roteiros não se esquecem do próprio Ted Lasso e seus problemas maritais são também abordados com muito cuidado e elegância, sempre com uma abordagem positiva mesmo nas piores situações. Claro que chega a um ponto em que o espectador simplesmente sabe como o protagonista reagirá às piores revelações e estrelismos de seus jogadores – há um conflito permanente e perfeitamente representativo de jogadores de futebol em geral entre Jamie Tartt (Phil Dunster), uma estrela jovem que é orgulhoso e pedante e Roy Kent (Brett Goldstein), o carrancudo veterano e capitão do time já em final de carreira -, mas tudo é uma questão de conhecer a personalidade de Lasso e entender que ele é alguém que sempre vê o lado positivo de qualquer coisa.

E o melhor é que a história é cativante para além do próprio Ted Lasso, sem que seja necessário que o espectador goste ou mesmo conheça as regras do futebol (ainda bem, no meu caso!), pois o jogo é o que menos importa na estrutura narrativa. Cada personagem tem seu pequeno arco que funciona sem soluços, mas, ao mesmo tempo, sem que os roteiros encontrem soluções fáceis ou simplificadas para cada conflito que é estabelecido. Existe um cuidado em não transformar Lasso em um herói, quase como se ele fosse apenas um facilitador para que cada um que entra em contato com ele tenha seus 15 minutos de destaque.

No entanto, trata-se de uma comédia que só fará o espectador sorrir. Não há intenção em fazer piadas daquelas que levam à câimbras estomacais ou gargalhadas histéricas, sendo perfeitamente possível concluir que a série é muito mais uma dramédia do que simplesmente uma comédia. Por outro lado, a sensação de bem-estar, de conforto é constante, como se Ted Lasso fosse uma fuga para um lugar gostoso, quentinho e lindo onde podemos esquecer por algumas horas nossos problemas diários e simplesmente ficar com um permanente sorriso no rosto. Jason Sudeikis encanta como Ted Lasso e, como em um improvável passe de mágica, deixa tudo melhor, mesmo que por um curto, mas valioso, espaço de tempo.

Ted Lasso – 1ª Temporada (Idem – EUA, 14 de agosto a 02 de outubro de 2020)
Desenvolvimento: Bill Lawrence, Jason Sudeikis, Joe Kelly, Brendan Hunt
Direção: Tom Marshall, Zach Braff, Elliot Hegarty, Declan Lowney, MJ Delaney
Roteiro: Jason Sudeikis, Bill Lawrence, Joe Kelly, Jane Becker, Jamie Lee, Brett Goldstein, Bill Wrubel, Leann Bowen, Phoebe Walsh, Brendan Hunt
Elenco: Jason Sudeikis, Hannah Waddingham, Jeremy Swift, Phil Dunster, Brett Goldstein, Brendan Hunt, Nick Mohammed, Juno Temple, Toheeb Jimoh, Stephen Manas, Billy Harris, Kola Bokinni, Cristo Fernández, James Lance, Anthony Head, Keeley Hazell, Andrea Anders, Ellie Taylor
Duração: 309 min. (10 episódios)

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