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Crítica | The Last of Us: Left Behind

O começo de tudo.

por Kevin Rick
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The Last of Us: Left Behind é uma das minhas DLC’s favoritas, porque diferente de outros pacotes de extensão, a obra não é só uma missão a mais ou um conteúdo dispensável que capitaliza no jogo original. A campanha de algo em torno de duas horas traz algo diferente e é um agregado integral para a experiência do primeiro jogo, tanto em termos narrativos quanto de gameplay. Alternando entre duas histórias, Left Behind mostra o que aconteceu na elipse entre os dois capítulos de The Last of Us, se concentrando na busca de suprimentos médicos de Ellie para curar Joel, enquanto enfrenta inimigos em um shopping abandonado em Colorado, e, paralelamente, conhecemos sua “história de origem” antes da personagem descobrir sua imunidade ao Cordiceps, acompanhando Ellie em uma aventura com sua melhor amiga Riley em outro shopping abandonado, dessa vez em Boston.

A semelhança dos cenários não é coincidência: a narrativa é uma espécie de espelho entre passado e presente, mostrando alguém que Ellie perdeu, enquanto desesperadamente tenta salvar outra pessoa que ama. Em termos dramáticos, é uma composição de tramas realmente esperta, fazendo justaposições temáticas e aprofundando a protagonista do jogo com muita sensibilidade. Do lado do prólogo, existe uma certa leveza que é muito divertida, com a amizade de Ellie e Riley exuberando carisma em piadas bem-humoradas, diversos jogos no shopping, pequenas picuinhas entre as duas e uma atmosfera geral de juventude inconsequente, indo a lugares que não deveriam e descobrindo a si mesmas em alguns momentos mais sérios do texto, incluindo representações LGBT, com destaque para o receio de abandono de Ellie que perpassa a história, algo que a assombraria durante o restante de sua jornada em ambos os jogos principais.

Nesse recorte, a jogabilidade é um pouco mais narrativa, focada nas peripécias das duas, mas com um tom de exploração que não deixa a experiência ficar morosa, valendo destacar a construção cuidadosa em todo o ambiente, de arcades a lojas de roupas, dos espaços vivos do local até o underground obscuro, os designs são espetaculares e com um senso de interação típico da franquia. Passeando pelo shopping, as duas conversam bastante, descobrem diversos jogos simples (dos quais podemos jogar, o que é bem divertido), tiram fotos e brincam incessantemente (um trecho em particular das duas se atacando com armas d’água é simpaticíssimo), no que acaba sendo um núcleo de caracterização e identificação com a dupla. Talvez não seja o estilo de gameplay preferido de muitas pessoas, mas eu gosto dessa variedade e de algo um pouco menos denso, até porque a franquia lida muito bem com esses trechos de intimidade e vulnerabilidade, no que é uma apresentação do início de tudo que agrega bastante ao arco de Ellie.

Dito isso, Left Behind também não tem falta de tensão. No próprio prólogo, Ellie e Riley são atacadas, com um bloco inteiro de ambas as personagens fugindo dos infectados e atacando alguns deles na medida do possível. Sei que muitas pessoas não gostam das limitações de Ellie, ainda mais nesse cenário aqui, em que ela tem ainda menos variedade de combate do que no núcleo solo no primeiro jogo, mas particularmente, prefiro a dificuldade e a variedade que a gameplay aqui tem do que jogar só com Joel. A mecânica de combates da franquia é uma das melhores que tem por aí, mesmo com a limitação do corpo-a-corpo ou da escassez de armas (elementos que também agregam para o senso de realismo e de survival da produção), com o adendo da jogabilidade da DLC adicionar camadas em termos de exploração espacial dos cenários, de estratégias de “bater e correr” e de um grau de dificuldade e de perigo muito maior do que com Joel.

Com a segunda história, de Ellie buscando suprimentos, temos um tom similar, com uma sensação de vulnerabilidade constante e a exigência de um cuidado maior no combate, mas com diferenças claras na jogabilidade. Nesse recorte, o foco é maior em stealth, até porque boa parte dos inimigos são humanos, com algumas mecânicas engenhosas com arco e flecha, uso dos adversários como isca e, mais uma vez, um senso de exploração espacial completa do shopping. Gosto de como a gameplay soa inovativa em ambos os núcleos narrativos, com o prólogo tendo um caráter mais de exploração inicialmente e depois de pura correria, enquanto o outro bloco é mais objetivo e com um senso maior de uso de espaços, que dão outras camadas para a variedade e a fluidez da mecânica da série.

Com uma história autocontida, minimalista e extremamente sensível, The Last of Us: Left Behind é exatamente o que expansões devem ser: uma extensão do jogo principal com elementos novos que agregam à narrativa, que exploram com mais afinco as mecânicas e a gameplay que já conhecemos, e que se aprofundam nos personagens e no universo. A DLC é tão boa que a campanha soa curta, deixando um gostinho de quero mais em relação às missões, a jogabilidade com Ellie, a participação da magnética Riley e a exploração desses cenários, mas não tanto em termos dramáticos, já que é mais uma tragédia muito bem escrita em sua simplicidade narrativa e inteligente estrutura espelhada dos períodos temporais, que deixa outra cicatriz em Ellie e nos jogadores. Haja emoção para aguentar tanta desgraça e morte. Pelo menos, dessa vez, Ellie salva Joel…

The Last of Us: Left Behind
Desenvolvedora:
 Naughty Dog Software
Lançamento: 14 de fevereiro de 2014
Gênero: Ação, Terror
Disponível para: PS3 (há uma nova versão remasterizada para PS5)

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