- Obviamente, spoilers da 1ª Temporada, mas não posso te impedir mesmo, então não venha brigar comigo depois, ein!
Ninguém nessa platéia será o mesmo. Ouviu os aplausos?
Depois de assistir a 1ª Temporada de Mrs. Maisel levar para casa os principais prêmios das categorias cômicas no último Globo de Ouro, fui lembrando do quão alegre fiquei por ter assistido essa série e como concordei com cada uma das vitórias. É uma produção de qualidade que brilha entre os originais da Prime Video (o serviço de streaming da Amazon), e eu não poupei elogios na crítica do seu primeiro ano. Felizmente, os poucos aspectos que impediram a série de ser perfeita receberam maior atenção nesta nova temporada. The Marvelous Mrs. Maisel retorna com Midge (Rachel Brosnahan) trabalhando no setor telefônico da B. Altman já que não está com uma agenda cheia de apresentações por conta do desentendimento com Sophie Lennon (Jane Lynch), o que deixa Susie (Alex Borstein) apreensiva e desesperada por qualquer chance que tiver de colocar a Sra. Maisel no palco outra vez. Em cima de tudo isso, Midge tem que lidar com a relação com seu agora ex-marido e o desaparecimento voluntário de sua mãe, que decidiu ir para Paris por motivos dramáticos, porém compreensíveis.
Amy Sherman-Palladino tem uma assinatura bastante característica, há muita honestidade no que ela faz com seus personagens que poucos conseguem. Por ser responsável pela direção e roteiro da maioria dos episódios, sabe exatamente para onde tudo está indo, por isso o excelente ritmo e a atmosfera quase aconchegante de estar naquele mundo. O cinismo não é a piada, faz parte dela e quando temos um comentários sarcástico de Susie ou uma observação certeira de Midge, independente da velocidade que está sendo feita, não soa arrogante. E já que estamos nesse departamento, deixo aqui minha afirmação nada hiperbólica de que esta série tem alguns dos melhores diálogos da televisão. Rachel Brosnahan atira para todos os lados e acerta cada uma com uma sagacidade que poderia ser encontrada facilmente em um filme dos irmãos Marx, mas com um tratamento mais sofisticado e menos anárquico – se bem que essa série pode ter alguns casos de anarquia cômica, como a longa cena envolvendo a família de Midge tentando se acomodar em sua casa de férias ou o desentupidor de Susie. Além disso, vai demorar para eu esquecer da apresentação de Midge em um bar parisiense com uma tradutora improvisada.
O roteiro de Palladino parece ter dobrado a quantidade de páginas por conta dos segmentos de stand-up e as várias sequências de personagens debatendo as mais diversas maneiras de estarem insatisfeitos, e isso pode não parecer mas é um tremendo elogio. Se a primeira temporada deixou um pouco seus personagens secundários para escanteio, a segunda faz questão de apresentar tramas paralelas mais envolventes, algumas bem divertidas e outras absurdamente hilárias, como o encontro de Susie com uma dupla contratada para “acabar com ela” que termina da maneira mais engraçada possível. Joel (Michael Zegen), que antes não parecia tão cativante assim, agora é uma pessoa mais admirável por conta do espaço que recebe, e a presença de seus pais deixa tudo melhor. Essa nova temporada tem o retorno de Jane Lynch, o que é sempre uma boa notícia, e conta com a introdução de um personagem interpretado por Zachary Levi (fiquei bem surpreso na hora).
Por conta da forma cômica que Palladino constrói as diversas famílias e o meio judeu da qual fazem parte, uma das tramas mais agradáveis foi a de Abe (Tony Shalhoub) na busca pelo perdão de sua esposa. Shalhoub deveria estar concorrendo em toda premiação possível por ser o ator com a impossível tarefa de dividir a atenção do público com Brosnahan. O jeito que entrega suas falas me faz rir, até sua gesticulação parece um personagem próprio. Quando ele toma um susto com um cachorro em um restaurante ou muda completamente sua atitude depois de passar alguns dias em Paris, esses momentos são perfeitos. Mas ele também sabe balancear a sua parte cômica com o drama, como no quinto episódio, Midnight at The Concord, quando Abe decide passar uma noite longe dos familiares e colegas insuportáveis.
Mas há muito mais nessa temporada do que um elenco e roteiro muito bons, isso já não é novidade pra série. Pode ser que a direção seja mais convencional, mas ninguém é obrigado a fazer algo excepcional nessa área já que o foco está nos cortes rápidos e a câmera que não descansa com algumas tomadas muito bem executadas de planos que apresentam a geografia dos clubes, por exemplo. Ainda temos o figurino, maquiagem e fotografia, que fazem um trabalho bastante detalhado, e alguns momentos com representações visuais criativas, como a transição entre um país e outro com um rápido movimento de 180 graus que nos leva do Empire State para a torre Eiffel.
Mesmo que eu considere essa temporada melhor que a anterior, a série ainda não atingiu a perfeição por conta do tempo de duração dos episódios, que continua na média de uma hora, e agora temos dez episódios no lugar dos oito do ano anterior. Não é algo que atrapalhe o ritmo mas você não consegue deixar de pensar que os episódios poderiam ser bem mais concisos por conta da quantidade de informação recebida em cada um, sem esquecer que tudo isso é apresentado com uma agilidade que provavelmente faz algumas piadas passarem despercebidas pelo público. The Marvelous Mrs. Maisel volta com uma temporada ainda melhor que a anterior, com mais foco em personagens secundários, piadas hilárias, um elenco de primeira e situações engraçadas e memoráveis de um roteiro dinâmico e inteligente.
The Marvelous Mrs. Maisel – 2ª Temporada — EUA, 2018
Criação: Amy Sherman-Palladino
Direção: Amy Sherman-Palladino, Daniel Palladino, Scott Ellis
Roteiro: Amy Sherman-Palladino, Daniel Palladino, Sheila R. Lawrence
Elenco: Rachel Brosnahan, Alex Borstein, Michael Zegen, Marin Hinkle, Tony Shalhoub, Zachary Levi, Bailey De Young, Brian Tarantina, Luke Kirby
Duração: 10 episódios de aprox. 57 min.