- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas de todos os episódios da série e, aqui, de todo nosso material do universo The Walking Dead.
Apesar da nota, gostei de Become quase do mesmo tanto que os episódios anteriores. No entanto, é, sem dúvida alguma da minha perspectiva, a entrada mais fraca da temporada até agora e, de certa forma, até um capítulo estranho em determinados momentos e algumas escolhas que falarei mais à frente, desembocando em um desfecho que levanta preocupações para o grande final da minissérie na semana que vem. Depois da fuga em What We, fiquei me questionando qual seria o papel da CRM depois da saída do roteiro com o acidente do helicóptero, mas os roteiristas rapidamente amarram as pontas soltas com a participação de Janis, que acaba ganhando muita atenção no episódio.
Antes de falar sobre a antagonista, queria dar destaque para o começo de Become, que resgatou um pouco da leviandade que víamos no início da série original, que sempre vinha para conhecermos e nos identificarmos com os personagens logo antes dos problemas engrossarem e do sangue jorrar. Eu sei que muita gente vai revirar os olhos para a representação de amor e carinho dos protagonistas, da mesma forma que entendo como o texto consegue ser um pouquinho brega em determinados momentos, mas existe uma ternura simples e bonita na forma que acompanhamos um road trip de um casal compensando o tempo perdido e reencontrando seu relacionamento. Se aquela DR da semana passada era totalmente sobre confronto, o começo desse episódio é a lua-de-mel.
Consigo até relevar a aparente invencibilidade de Rick e Michonne, que é algo quase cômico nesse ponto da franquia, e a enxurrada de sorte e de conveniências que levam à sua jornada de volta para casa (pelo menos no início), porque há algo substancialmente dramático e empático sendo desenvolvido em torno da dupla. Particularmente, aprecio a sequência envolvendo o trio de sobreviventes que eles ajudam, para logo depois serem traídos e sua misericórdia vindo picá-los no tornozelo no ato final do episódio – a escolha difícil, a linha moralmente tênue e a consequência das ações dos protagonistas aqui me lembraram, dentre vários outros momentos, o dilema de Rick e companhia com os prisioneiros, lá atrás na série original. Não quero ficar soando nostálgico demais com esses acenos, mas é um indicador de como o texto desta produção tenta resgatar o que fazia a série original funcionar.
O que eu acabo não gostando, porém, é o foco demasiado em Janis. A participação de Gabriel (Seth Gilliam) até funciona através de uma edição em flashbacks que não é primorosa, mas que também não atrapalha o ritmo da narrativa, em uma tentativa de humanizar a antagonista que é razoavelmente funcional, mas sei lá, acho que é muito esforço sem necessidade. A vilã não é tão complexa quanto aparenta ser nesse discurso fanático da CRM (que é verossimilhante, por mais exagerado que soe; é só dar uma olhada em exemplos reais), e tampouco carismática como um Negan, Governador ou a Alpha. Gosto do uso da personagem como fio condutor da trama e basicamente como artifício para conectar a ameaça da temporada, mas nada além disso.
No mais, o jogo de gato e rato entre a antagonista e os protagonistas funciona. Temos uma boa perseguição de carro, ótimas coreografias, alguns zumbis curiosos e um mínimo de criatividade com cenários para deixar a fuga relativamente divertida e com boa velocidade, se não exatamente tensa ou horripilante como Michael E. Satrazemis parece tentar fazer. Revirei os olhos para alguns discursos intermináveis de Janis, mas o antagonismo da personagem funciona dentro desse episódio, em mais um capítulo de sobrevivência para Rick e Michonne. Para além do desfecho bonitinho e meloso com a proposta de casamento, fiquei preocupado com a missão apresentada de derrubar a CRM em, aparentemente, apenas um episódio, o que me parece muito pouco. Para mim, há três possíveis resultados: a minissérie é renovada (o que não é novidade mais); a história continue em outro derivado; ou o desfecho vai ser extremamente corrido, de longe a pior possibilidade dentre as três e também a mais improvável. De qualquer forma, estou curioso para ver o desenrolar da invasão à CRM e o plano de derrocada de um exército militar com a “verdade”. Será que a exposição de segredos vai mesmo causar uma implosão? Veremos!
The Walking Dead: The Ones Who Live – 1X05: Become (EUA, 24 de março de 2024)
Desenvolvimento: Scott M. Gimple, Danai Gurira, Andrew Lincoln
Direção: Michael E. Satrazemis
Roteiro: Gabriel Llanas, Matthew Negrete
Elenco: Danai Gurira, Andrew Lincoln, Pollyanna McIntosh, Lesley-Ann Brandt, Terry O’Quinn, Seth Gilliam
Duração: 59 min.
