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Crítica | O Filho De Drácula (1943)

Lon Chaney Jr. vive Drácula em filme ambicioso, mas irregular.

por Rafael Lima
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Entre as franquias estreladas pelos Monstros da Universal durante as décadas 1930 e 1940, talvez a série Drácula seja a mais diversa, pois ainda que haja elementos recorrentes entre os três filmes, cada um tem uma identidade distinta. Enquanto Drácula (1931) é um clássico gótico mais tradicional e atmosférico, A Filha de Drácula (1936), inclinou-se mais para um thriller psicológico mais pessoal, inserindo elementos de tragédia e erotismo. O Filho De Drácula, por sua vez, usa os elementos de terror como apoio para uma trama mais voltada para o melodrama, e até mesmo para o Noir, adotando uma abordagem moderna na forma de trabalhar os elementos góticos tão comuns ao universo de Drácula. Na trama, Katherine (Louise Allbritton) é uma jovem de Nova Orleans que aguarda a chegada do Conde Alucard (Lon Chaney Jr.), que conheceu em uma viagem à Europa, mas pouco antes da chegada do visitante, o pai da moça morre misteriosamente. À medida que o tempo passa, Katherine apresenta um comportamento cada vez mais estranho, e seu noivo Frank (Robert Paige), e o médico da família (Frank Craven), passam a desconfiar que a moça possa estar sendo influenciada pelo Conde.

Dirigido por Robert Siodmak, a partir do roteiro de Eric Taylor, O Filho de Drácula rompe com a ambientação europeia dos filmes anteriores, situando a trama em uma cidade de Nova Orleans. Essa escolha não só permite que o filme crie sequências inventivas, como aquela em que o caixão do vampiro emerge de um pântano, como permite que a história use os aspectos culturais da região para cimentar o interesse da personagem de Katherine pelo oculto, vide a relação dela com o vodu. O roteiro de Taylor constrói a sua primeira metade calcando-se em elementos melodramáticos, ao tornar o triângulo amoroso entre Alucard, Katherine, e o noivo dela, Frank, a principal base da trama. A ambientação rural reforça a identidade melodramática da obra, que atinge uma espécie de clímax ao desenhar uma tragédia, quando Frank atira no vampiro apenas para atingir a amada. Mas esse é apenas um ponto de virada para revelar as verdadeiras intenções do projeto.

Robert Siodmak alcançaria os seus maiores sucessos comandando filmes Noir como A Dama Fantasma (1944) e Os Assassinos (1946), logo, percebe-se o que pode tê-lo atraído para esse projeto. Afinal, depois que Katherine volta a vida como uma vampira, ela não se torna a Noiva vampira ansiosa para servir ao Conde, pelo contrário, ela passa a tentar manipular Frank para que ele mate Drácula, ficando claro que a mulher agiu desde o começo em nome de seus próprios objetivos. Katherine é a típica Femme Fatale das narrativas Noir, que usa a sua beleza e esperteza para manipular os homens à sua volta, e que mesmo que tenha um lado tenro, tem os próprios interesses como prioridade. Esse diálogo com o cinema Noir, que estabelece Katherine como uma Femme Fatale, e Frank como o homem caído em desgraça ao ser tentado por amor e paixão, cria o tipo de história que torna impossível um final feliz, já que de um jeito ou de outro, o casal protagonista vai acabar se destruindo.

Mas apesar de suas ambições, o filme tem muitos problemas, começando pelo personagem-título, que de filho de Drácula não tem nada, pois a obra rapidamente assume que estamos lidando com o Drácula original. Lon Chaney Jr., que na época havia se tornado uma figura quase onipresente nos filmes de terror da Universal, tem um grande desafio ao assumir o papel tornado icônico por Bela Lugosi no filme de 1931, mas infelizmente passa longe de acertar. Se Lugosi com a sua interpretação grandiloquente fez de seu Drácula uma figura mítica e elegante, enquanto Gloria Holden fez da Filha De Drácula uma figura sedutora e trágica, falta identidade ao vampiro que Chaney Jr. nos entrega. O ator é muito bom em viver tipos comuns e atormentados, mas não consegue convencer com um personagem mais excêntrico como o Rei dos Vampiros, sempre nos passando a impressão de ser apenas um ator com a capa de Drácula, e não o próprio Drácula. 

O roteiro também não ajuda, ao tratar Drácula como um mero dispositivo de enredo, não sabendo o que fazer com o seu personagem-título. A partir de certo ponto, torna-se claro que o centro dramático do filme não está no vampiro, e sim em Katherine e Frank, e o texto não parece interessado em Drácula para trazê-lo para o centro desse conflito, já que a relação dele com Katherine é nebulosa demais para sabermos se o Conde Vampiro também está sendo manipulado pela mulher, ou se tem alguma ideia das reais intenções de sua parceira. Por outro lado, o filme também nunca assume que a sua história não é sobre o Conde Drácula, com os personagens do Doutor Brewster e do Professor Lazlo (J. Edgar Bromberg) tendo longas e tediosas conversas sobre a real natureza do vampiro, dando ao personagem uma importância que a trama nunca dá.

Robert Siodmak é um diretor que sabe conceder aos seus projetos uma atmosfera igualmente pesada e elegante, compondo planos que aproveitam ao máximo o estado emocional de seus personagens, vide o desolador quadro que fecha o filme. Por outro lado, o Longa-Metragem parece empolgado demais por seus efeitos especiais, especialmente pelas trucagens, que criam a ilusão que os vampiros se transformam em morcegos e fumaça. Percebe-se que para época, eram efeitos bem impressionantes, mas que parecem ser usados em demasia, e em alguns casos até gratuitamente, tirando toda a força dessas transformações.

O Filho De Drácula talvez seja um filme que se leve a sério demais para o seu próprio bem, mas tendo em vista a proposta, não poderia ser de outro jeito. O filme de Robert Siodmak tem ambições maiores do que a maioria das produções de horror da Universal do período, e ainda que nem sempre o longa consiga ficar à altura dessas ambições, é preciso reconhecer que existe um esforço. O Filho De Drácula costuma ser o filme menos lembrado da Trilogia Drácula da Universal, com poucos recordando que Lon Chaney Jr já vestiu a icônica capa de Drácula, mas apesar dos seus defeitos, é um longa-metragem que merece ser redescoberto pela interessante articulação de terror, melodrama, e Noir que propõe.

O Filho De Drácula (Son of Dracula) – Estados Unidos, 1943
Direção: Robert Siodmak
Roteiro: Eric Taylor
Elenco: Lon Chaney Jr., Louise Allbritton, Robert Paige, Evelyn Ankers, Frank Craven, J. Edward Bromberg, Samuel S. Hinds, Adeline De Walt Reynolds, Pat Moriarty, Etta McDaniel, George Irving, Charles Bates, Joan Blair, Robert Dudley, Bem Erway, Jack Rockwell, Walter Sande, Jess Lee Brooks, Cyril Delevanti, Robert F. Hill
Duração: 79 Minutos

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