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Crítica | Love Lies Bleeding – O Amor Sangra

Paixão colossal.

por Felipe Oliveira
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Em seu segundo longa produzido pela A24, é interessante que a roteirista e diretora Rose Glass se jogou em um gênero diferente de Saint Maud, ainda assim, é notável o que há em comum entre esses dois trabalhos: o dedo de Glass em usar o visual para contar a história. A cineasta inglesa tem o estilo de pegar tramas simples e conquistar com sua liberdade criativa. É fácil pensar nas protagonistas de Love Lies Bleeding como algo inspirado em Thelma & Louise, mas em nenhum momento Glass deixa espaço para esse romance dramático cair em comparações. A cena de abertura é forte em destacar os corpos que treinam ao limite no fim de noite, com planos fechados e depois abertos, para então apresentar a ambientação que ilustra esse conto de amor e crime.

É graças a esse apelo com o visual que se torna automático simpatizar com a aproximação entre Lou (Kristen Stewart) e Jackie (Katie O’Brian). Desde o primeiro frame Ross estabelece a exploração de corpos, os músculos tensos, suados; mas não de forma sensual e sim pela busca do corpo ideal exótico. Mesmo tendo em mente que há um romance perigoso sendo contado, o visual do filme bebe da estética dos thrillers eróticos da década de 80-90 e isso torna Love Lies Bleeding rapidamente atraente, transmitindo um misto de sensações ao acompanhar essa história familiar, mas com muita força de vontade para ser contada.

Então, é aí que entra o tom exagerado, e a percepção de que o sangue é o que pinta essa fábula pela busca do sonho americano. A história é familiar, mas é por conta do exagero que  roteiro de Glass, co-escrito por Weronika Tofilska consegue disfarçar suas limitações e falta de urgência porque, por mais que a trama possa parecer indiferente, há uma força ainda mais notória do que a de Glass em escrever e dirigir: Kristen Stewart. O’Brian é ótima nesse que marca seu primeiro papel de destaque, mas Stewart domina uma performance que sustenta o filme mais do que qualquer coisa. Até quando Glass joga um pouco de surrealismo, horror body e suspense psicológico como elementos visuais, Stewart parece canalizar todo o ódio de sua personagem e vai contra essas escolhas criativas com uma entrega contida.

De um romance perigoso até para as decisões mais óbvias do roteiro, Glass dá um jeito de reforçar como o fator imagético e visual do filme são importantes aqui. Seja para criar momentos fantasiosos – como o estranho final – ou de terror gráfico para exemplificar que este é um mundo de crime e violência, Glass aponta em direções opostas do que obviamente parece. E ela não se limita em terminar as cenas com exageros, mas sempre de forma a lembrar que está incrementando diferentes estilos, que principalmente flertam com o lado visual. É por conta da fotografia tão específica nos corpos na abertura que ao flertar sobre a transmutação física, Glass se aproxima de uma fábula urbana do ponto de vista da morfopsicologia para trazer outros ângulos sobre esse romance.

E quem diria esse só seria um romance sobre uma fisiculturista que, a caminho de realizar seu sonho em Las Vegas, se apaixona por alguém que a envolve no abismo de crimes que é sua família. Chega a soar letárgico como, apesar da obviedade, falta emoção em acompanhar a tensão e caos que se desenrolam – mesmo para o ritmo que o filme assume, com a violência sempre por perto. Mas é ao propor um olhar imagético com exercício de gênero que Glass firma a sua personalidade como diretora. Se a lua é o que traz o lobisomem à tona, aqui, a fúria seria o que faz desse romance uma fábula, onde só assim elas poderiam se proteger e sobreviver nesse mundo.

Love Lies Bleeding – O Amor Sangra (Love Lies Bleeding – Reino Unido – EUA, 2024)
Direção: Rose Glass
Roteiro: Rose Glass, Weronika Tofilska
Elenco: Kristen Stewart, Kate O’Brian, Anna Baryshnikov, Jena Malone, Dave Franco, Ed Harris
Duração: 104 min

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