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Crítica | A Batalha do Biscoito Pop-Tart

Fast-food sobre fast-food.

por Ritter Fan
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Por que alguém em sã consciência gostaria de conhecer a história da invenção do Pop-Tart, uma espécie de biscoito pré-cozido altamente industrializado e recheado de substâncias químicas que, juntas, lembram de longe algo como geleia de frutas e que foi e continua sendo um sucesso nos cafés da manhã – e outras refeições – dos EUA? Jerry Seinfeld há muitos anos sabe bem a resposta para essa pergunta retórica, já que o dito “alimento” povoou suas rotinas cômicas e também sua famosa série de TV e, agora, serve de desculpa para ele debutar na direção de um longa-metragem que ele também produziu, co-roteirizou e estrelou para o Netflix.

E, em uma época em que até a linha de salgadinhos de isopor picante Flamin’ Hot ganhou um “filme de origem“, Seinfeld sabia que ele precisava enveredar por um caminho menos convencional, jogando pela janela qualquer semblante de verossimilhança e criando um sátira debochada à indústria alimentícia dos EUA, com direito à uma pitada de rivalidade real ferrenha entre as empresas Kellog’s e Post em 1963 ao redor do desenvolvimento de um “cereal que não precisa de leite para ser consumido” e um caminhão de elementos quase surreais como a existência de uma máfia do leite, de um cartel do açúcar e uma infinidade de atores convidados que fazem ótimas pontas, como é o caso de Dean Norris como um Nikita Khrushchov que fala em grunhidos incoerentes como os do Zé Buscapé.

Não é, de forma alguma, um filme brilhante, que mudará o mundo ou que será lembrado por muito tempo depois que os créditos começarem a subir, mas, na toada do escracho educado, da alfineta gentil e da esculhambação elegante que sempre marcou o estilo de Seinfeld, A Batalha do Biscoito Pop-Tart é um atraente exercício humorístico que abraça o que é, sem vergonha de ser feliz, ou seja, uma bagunça colorida que nem sempre funciona, mas que, quando funciona, funciona bem, seja pelo absurdo nojento de ver crianças saqueando as lixeiras das empresas atrás de guloseimas descartadas, o inusitado que é Melissa McCarthy como uma cientista da NASA de figurinos espalhafatosos que é recrutada por Bob Cabana (Seinfeld) para ajudar a desenvolver o tal biscoito, a idiotice completa que é um “raviolo” senciente que é criado nesse processo e, claro, a delícia que é ver Hugh Grant, com sua fleuma britânica elevada ao cubo, vivendo o ator shakespeareano Thurl Ravenscroft, escalado pela Kellog’s para ser ninguém menos do que o mascote Tony, o Tigre, em uma narrativa paralela que, mesmo não sendo lá muito boa, vale pelo Grant, claro. E, claro, há o hilariamente constrangedor enterro com “honras cereais” e o enfileiramento de pontas ilustres que é uma diversão à parte, pois não só elas não soam aleatórias, como, muito ao contrário, parecem ter sido cuidadosamente encaixadas na história doidinha que é contada.

Como o alimento que critica e que funciona como um símbolo da comida porcaria que é marca dos EUA, mas que já se espalhou – em maior ou menor grau – pelo mundo todo, A Batalha do Biscoito Pop-Tart é uma besteira que é muito mais forma do que substância. Mas, diferente do “biscoito” quase radioativo e de seus colegas de prateleira, por assim dizer, o pouco de substância que o longa aborda tem seu valor e vale o investimento de tempo desde que o espectador saiba que está assistindo quase que um projeto de vaidade de um Jerry Seinfeld que mostra que, ainda bem, não mudou nadinha em seu jeito de fazer comédia no alto de seus bem vividos 70 anos.

A Batalha do Biscoito Pop-Tart (Unfrosted – EUA, 03 de maio de 2024)
Direção: Jerry Seinfeld
Roteiro: Jerry Seinfeld, Spike Feresten, Andy Robin, Barry Marder
Elenco: Jerry Seinfeld, Melissa McCarthy, Jim Gaffigan, Max Greenfield, Hugh Grant, Amy Schumer, Peter Dinklage, Christian Slater, Bill Burr, Dan Levy, James Marsden, Jack McBrayer, Thomas Lennon, Bobby Moynihan, Adrian Martinez, Sarah Cooper, Mikey Day, Kyle Mooney, Drew Tarver, Tony Hale, Felix Solis, Maria Bakalova, Dean Norris, Kyle Dunnigan, Sebastian Maniscalco, Beck Bennett, Cedric the Entertainer, Fred Armisen, John Slattery, Jon Hamm, Aparna Nancherla, Andy Daly, Sarah Burns, Ronny Chieng, Rachael Harris, Cedric Yarbrough, Patrick Warburton, Ken Narasaki, Michael Joseph Pierce, Winter Bassett, Darrell Hammond, Jessica Seinfeld
Duração: 93 min.

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