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Crítica | Twinless

Perda, luto, solidão e amizade.

por Ritter Fan
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Em apenas seu segundo longa-metragem – e novamente com temática central semelhante, se pensarmos em linhas amplas – James Sweeney consegue criar uma cativante história de amor que aborda perda, luto, amizade e solidão com uma autenticidade desconcertante que faz rir na mesma medida em que emociona e constrói personagens inesquecíveis em uma narrativa original e bem concatenada com Dylan O’Brien e o próprio Sweeney, nos papeis principais, imediatamente estabelecendo uma química invejável. A experiência de se assistir Twinless é semelhante a ser instantaneamente transportado para 100 minutos no futuro tamanha é a fluidez da história que encanta do primeiro ao último minuto e que nos faz querer mais quando os créditos começam a rolar.

Na história, Rocky (Dylan O’Brien) morre em um acidente de trânsito fora da câmera em uma tomada elegante e somos levados a seu funeral, onde seu irmão Roman que, não demora, é revelado como seu gêmeo, recebe as condolências de pessoas que se emocionam só de ver seu rosto. Procurando ajuda para lidar com essa dor, Roman se socorre de um grupo de ajuda bem específico sobre gêmeos que perderam seu irmão ou irmã e acaba conhecendo Dennis (James Sweeney) por lá, logo estabelecendo uma conexão natural e genuína, com cada um preenchendo o vazio do outro. Como Rocky, Dennis é homossexual e essa relação dele com Roman, que é hétero, é um encaixe perfeito, pois é como se Roman tivesse de volta alguma parte do que perdeu. A troca é intensa na simplicidade das pequenas coisas, como fazer compras de mercado juntos e ir à partidas de hockey no gelo, mas, a grande verdade é que Roman e Dennis são pessoas profundamente complicadas, o primeiro violento e explosivo e o segundo tímido e quieto, algo que aprendemos com tranquilidade até o momento em que o título do filme finalmente aparece, levando a uma revelação que não é nem de longe inesperada e que, ao contrário, acrescenta outras camadas ainda mais difíceis a essa amizade que brota entre dois homens perdidos.

Não abordarei a revelação aqui, mas, como disse, ela vem cedo no filme e, portanto, não é exatamente algo cujo conhecimento prévio estrague a apreciação do longa. Mas, para garantir aos leitores uma experiência semelhante à que tive assistindo ao longa, não a comentarei, bastando dizer que tudo é feito de maneira lógica e orgânica com uma estrutura inteligente de flashback que não banaliza o artifício. O que realmente importa é que Sweeney, como diretor e roteirista, mostra-se absolutamente investido na construção de uma história que, mesmo tendo uma premissa improvável (trata-se de ficção, afinal), dialoga profundamente com sentimentos de difícil expressão, especialmente em uma obra que não parece fazer esforço algum para manter-se leve e poeticamente cômica, fugindo da abordagem sombria e pesada que temas como esses às vezes parecem exigir.

O’Brien constrói um personagem repleto de conflito interno que consegue ser adorável mesmo com todos os seus defeitos. Seu Roman é um homem de pouca cultura, que não sabe levar as coisas na brincadeira e que não demora a explodir em arroubos de violência e que se considera o “gêmeo ruim” na relação que tinha com o irmão, algo refletido no pouco que vemos do contato dele com sua mãe Lisa (Lauren Graham). Por seu turno, Sweeney faz de seu Dennis um homem frágil, dependente, mas profundamente entendedor da natureza humana que sabe o que esperar de sua conexão com Roman. Lógico que a revelação mencionada acima leva o espectador a alterar sua percepção sobre o personagem e esse é um dos objetivos dela, o que acaba exigindo uma reconstrução completa do personagem, algo que Sweeney consegue tirar de letra. Como um terceiro vértice nessa história, há a sempre simpática e iluminada Marcie (Aisling Franciosi), recepcionista do trabalho de Dennis que, por seu intermédio, acaba conhecendo Roman e criando o caminho pelo qual o longa é levado ao seu desfecho.

Todas as peças se encaixam bem, mesmo que, por vezes, Sweeney pareça sentir a obrigação de esmiuçar detalhes que talvez pudessem ficar apenas subentendidos e o que ele acaba entregando com Twinless é uma inspiradora jornada em que almas solitárias encontram-se e improvavelmente se completam em uma relação repleta de amizade e de conflitos. Como um poema inspirador sendo declamado, o filme abraça forte o luto e a solidão e indica que há uma luz no fim do túnel, afinal de contas.

Twinless (EUA, 2025)
Direção: James Sweeney
Roteiro: James Sweeney
Elenco: Dylan O’Brien, James Sweeney, Aisling Franciosi, Lauren Graham, Tasha Smith, Chris Perfetti, François Arnaud, Susan Park, Cree Cicchino, Katie Findlay
Duração: 100 min.

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