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Crítica | Wandinha – 2ª Temporada

Volta às aulas.

por Davi Lima
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Wandinha

Wandinha, Segunda Temporada, mostra a volta às aulas na Nevermore, após a protagonista se tornar famosa por resolver o caso do Hyde, que ameaçava a escola dos Rejeitados. Ela quer focar em seu livro, mas um novo caso surge, e a família Addams se envolve mais em seu cotidiano.

Três anos após a primeira temporada, surge a dúvida: a história da filha famosa dos Addams ainda importa? A segunda temporada responde diretamente, ciente de que o público pode estar menos interessado em Wandinha, especialmente após sua fama fora das telas, principalmente entre adolescentes.

A resposta aparece em três novas dinâmicas que Wandinha enfrenta, com a Netflix apostando na marca Tim Burton: a relação matrilinear dos Addams, o conflito entre Desajustados e Normais e a origem da Mãozinha. Esses temas buscam atender ao público da primeira temporada, destacando Mortícia (para fãs da família Addams), o contraste típico de Burton entre o estranho e o normal, e a Mãozinha como ícone visual da série, com seu estalo característico.

Com isso, Wandinha perde força como protagonista, tornando-se reativa e menos contrastante, já que está popular. Isso reflete na série, onde o estranho parece naturalizado. É a ironia da carreira de Tim Burton, que defende os desajustados, mas lucra com o circo da estranheza. O diretor Dort (interpretado pelo excelente Buscemi) representa isso, usando sereias para transformar a escola numa empresa de excluídos contra normais.

O que decepciona é a perda de humor quando Mortícia, Gomez e Feioso ganham destaque. A ideia original da família como sátira mórbida da família americana ideal se dilui na seriedade do whodunit que tenta abraçar todos os temas. Esse é o maior problema da temporada. Os quatro primeiros episódios, com eventos episódicos, soam como enrolação planejada. O “torneio tribruxo” ou “acampamento puro-sangue” no episódio três, no Acampamento Jericho, quebra o clima, mistura humor forçado e atrapalha o suspense. O retorno do tom da primeira temporada mais confunde do que reforça a identidade de Wandinha, que perde espaço para a família Addams.

Ainda assim, há bons momentos. Mortícia enriquece a trama ao confrontar a inconsequência adolescente de Wandinha, embora equilibrar isso com o humor da família seja difícil. Gomez e Feioso brilham com o zumbi Slurp, enquanto as micro-histórias da Mãozinha criam uma narrativa mais envolvente que a dinâmica entre Enid e Wandinha. Enid cresce, não só por sua trama com lobisomens e seu namoro, mas por destacar os erros de Wandinha. O momento “Se Eu Fosse Você” no episódio seis consolida a amizade delas e resolve buracos narrativos. A série sutura feridas abertas sobre a protagonista por meio dessas relações.

A investigação, porém, é uma ponte frágil para as subtramas, sem cair em melodrama ou na narração literária de Wandinha. As conclusões dos mistérios são simples, avançando a história ou criando ambiguidades para as decisões erradas da personagem. No fim, Wandinha é mais perseguida que investigadora.

A grande reviravolta é tornar Wandinha espectadora do que criou na primeira temporada. Sem seu momento de dança ou atos heroicos, os diretores, especialmente Burton, focam nas reações de Jenna Ortega, não em suas ações. Ela perde duelos, é enfeitiçada por uma sereia e quase morre pelas mãos do ex-namorado. A protagonista se torna passiva.

A segunda temporada é menos astuta que Wandinha, abraçando a evolução literal de um zumbi comedor de cérebros e revelando o mistério dos corvos na metade do ano. Muitos personagens morrem sem cerimônia, e a fotografia centraliza diálogos sem segundas intenções. Isso enfraquece a série, especialmente ao dramatizar mortes e mistérios.

Ainda assim, os dramas entre Mortícia, Wandinha, Enid e Mãozinha surpreendem ao quebrar expectativas. A essência irônica dos Addams é pouco explorada, mas Burton resgata essa ironia nos dois últimos episódios, mostrando que o roteiro acumulou bons desenvolvimentos. Apesar disso, a temporada falha ao tentar dar peso aos Addams com flashbacks e histórias da Nevermore, rivalizando com uma família mais estranha, sem recriar o impacto do vilão Tyler. O embate entre a família de Tyler e os Addams não convence.

O que salva a temporada e inova a cultura pop é a origem da Mãozinha. Entre Desajustados e Normais, ela se torna a verdadeira protagonista, num tom de cinema B que é puro Addams. A segunda temporada sugere que a Mãozinha pode importar mais que Wandinha. Afinal, se a fã adolescente Agnes luta para ser amiga de sua ídolo Wandinha por não ser ela mesma, a Mãozinha é sua parceira fiel, mostrando que ‘a parte é mais importante que o todo’. Essa frase define os melhores momentos da temporada.

Wandinha (Wednesday) – 2ª Temporada Parte I (EUA – 6 de agosto de 2025) e Parte II (EUA – 3 de setembro de 2025)
Criação: Alfred Gough, Miles Millar
Direção: Tim Burton, Paco Cabezas, Angela Robinson
Roteiro: Alfred Gough, Miles Millar, Matt Lambert, Valentina Garza, James Madejski
Elenco: Jenna Ortega, Gwendoline Christie, Hunter Doohan, Emma Myers, Joy Sunday, Georgie Farmer, Christina Ricci, Victor Dorobantu, Moosa Mostafa, Luyanda Unati Lewis-Nyawo, Georgie Farmer, Isaac Ordonez, Luis Guzmán, Catherine Zeta-Jones, Billie Piper, Evie Templeton, Steve Buscemi
Duração:  Em média 45 minutos por episódio (aproximadamente 400 minutos)

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