- Há SPOILERS! Leia aqui as críticas dos outros episódios. E leia aqui as críticas para a série em quadrinhos O Que Aconteceria Se…?
Marvel Zombies é um história ruim, e essa afirmação vale basicamente para todas as suas continuações. A minissérie original foi publicada em 5 edições, entre 2005 e 2006, com texto de Robert Kirkman e arte de Sean Phillips, que através dela procuraram explorar um pouco da febre zumbi que então renascia. Quando anunciaram que teríamos uma versão dessa bobagem em What If…, eu me resignei ao destino e torci intimamente para que houvesse, no episódio, ao menos alguma coisa que compensasse a meia hora de exibição. E… bem, até que não foi tão ruim quanto eu esperava. Foi “só ruim” mesmo.
Matthew Chauncey volta aos roteiros aqui, criando um ambiente temeroso desde a sequência de abertura, que tem todo aquele caráter já conhecido de “oh, violência!” das animações de super-heróis nos nossos dias, colocando Bruce Banner em contato com um mundo dominado pelos mortos-vivos. O cerne dessa sequência, aliás, traz aquilo que torna o episódio divertido até certo ponto, e claro, já é uma marca registrada da Marvel: o humor. Nesse aspecto, há que se elogiar o texto por conseguir fazer um bom número de referências dentro de uma situação de crise, conseguindo o riso pelo contraste em relação ao que estava acontecendo no mundo.
O ponto em que isso se torna verdadeiramente elogiável é quando o Homem-Aranha entra em cena. Explorar um mundo em crise a partir de um ponto de vista luminoso ou positivo é algo um tantinho difícil, já que o roteirista precisa tomar cuidado para não dar a impressão de que o tal indivíduo está indiferente à tragédia… ou é simplesmente babaca ou gratiluz, o que é a mesma coisa. Peter Parker veste maravilhosamente bem a carapuça de amigão da vizinhança e faz um comercial/aviso/brincadeira sobre o mundo em que vive, sendo este o momento que o roteiro tem para nos apresentar os não-contaminados pelo vírus. Funciona bem, é engraçado, é inteligente e está organicamente ligado à trama dos zumbis, ou seja, esta é melhor sequência do episódio, apesar de não ter em abundância aquilo que verdadeiramente o define.
Todavia, há pouco a se dizer sobre o restando do capítulo. O clichê das narrativas de zumbi é aplicado de forma rasa e a direção de Bryan Andrews tenta manter as notáveis cenas de ação que explorou nos outros episódios, só que aqui em diferentes núcleos. Por se tratar de uma fuga, num mundo condenado e com zumbis-heróis inteligentes e em exercício de seus poderes, o time de não-contaminados passa de lugar para lugar vencendo os mortos-vivos que encontram pelo caminho, terminando a luta num vergonhoso confronto envolvendo Visão e Wanda, com o sintozoide recebendo uma das piores conversões morais que já tivemos no Universo audiovisual da Marvel. Aliás, vocês perceberam que o roteiro cria aqui uma espécie de “vida na bolha” que procura espelhar WandaVision, só que invertendo o cônjuge morto?
Sebastian Stan ainda carrega o selo de pior dublador do elenco, mas esta performance é pelo menos cem vezes melhor que a realizada em What If… Captain Carter Were the First Avenger?. O restante do elenco faz um bom trabalho, e no meio de todo mundo, eu só tive dificuldade para reconhecer a voz de Jon Favreau, como Happy. Jurava que era outro ator interpretando o personagem. No todo, What If… Zombies?! até consegue trazer algo novo, algo mais leve na forma como trata um mundo dominado por heróis transformados em zumbis. Entretanto, somando o conceito já tortuoso vindo das HQs, a adaptação apressada, o conflito ético de Visão resolvido de maneira que não condiz com o personagem (como se ele não tivesse pensando em nenhuma outra possibilidade) e o encerramento abrupto conferem ao episódio a lanterninha de qualidade da temporada. Que o Vigia olhe por nós e não permita que haja um pior que este. Pelo menos essa interferência ele deve fazer.
What If…? – 1X05: What If… Zombies?! (EUA, 8 de setembro de 2021)
Direção: Bryan Andrews
Roteiro: Matthew Chauncey
Elenco: Jeffrey Wright, Mark Ruffalo, Chadwick Boseman, Paul Bettany, Sebastian Stan, Evangeline Lilly, Paul Rudd, Jon Favreau, Danai Gurira, Emily VanCamp, David Dastmalchian, Hudson Thames, Tom Vaughan-Lawlor, Josh Keaton, Mick Wingert
Duração: 31 min.
