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Entenda Melhor | Hellboy – Aniversário de 20 anos

por Ritter Fan
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  • Leia, aqui, todo nosso material sobre Hellboy.

Exatamente no dia de hoje, mas há 20 anos, nascia, na sua forma editorial final, Anung un Rama, mais conhecido como a Grande Fera ou Destruidor do Mundo ou Irmão Vermelho, mais conhecido ainda como o Braço Direito do Destino!

Dramático? Com certeza!

Mas esses são apenas alguns dos nomes apocalípticos do demônio vermelho de chifres serrados afetuosamente conhecido e amado por milhões de leitores de HQ pelo mundo simplesmente como HELLBOY, literalmente o “garoto do inferno”. Mesmo entre os que não são chegados a HQs (eu sinto muito por você!), Hellboy é um personagem conhecido, nem que seja de “ouvir falar”, graças aos dois filmes estrelados por Ron Perlman e dirigidos por Guillermo Del Toro lançados em 2004 e 2008.

No entanto, o grande nome a quem devemos agradecer pelo demônio mascador de charuto e bebedor de cerveja, que tem uma certa tendência a lutar contras monstros mais monstruosos que ele próprio, é o roteirista/desenhista americano Michael Joseph Mignola, conhecido em artes apenas como Mike Mignola.

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Olha o criador aí gente!

O primeiro desenho

Mignola, antes de ter sua epifania e criar Hellboy, já trabalhava aqui e ali para a Marvel e DC principalmente como capista e ilustrador de histórias secundárias em algumas HQs. Trabalhou com o Demolidor e Luke Cage e Punho de Ferro no começo da década de 80 e, na DC, ele teve sua grande oportunidade ao desenhar Odisseia Cósmica, escrita pelo então já renomado Jim Starlin. Isso foi em 1988.

hellboy odisseia cósmica mignola final

Já dá para ver um pouquinho de Hellboy em Odisseia Cósmica, não é? Uma pista: não estou falando do cara de capa preta…

Ganhando mais tração em sua carreira com sua parceria bem-sucedida com Starlin, Mignola começa a ser requisitado e a participar das inevitáveis convenções de quadrinhos. Para uma delas, precisamente a Great Salt Lake Convention, de 1991, Mignola desenha um demônio que é usado no livreto de programa do evento. Como a ilustração original abaixo deixa muito claro, de Hellboy o primeiro demônio de Mignola só tinha o nome na fivela do cinto e, mesmo assim, era Hell Boy…

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Reparou no urubu no ombro?

Essa foi a semente que o próprio Mignola plantou em sua mente e guardou nos recônditos mais obscuros de sua psiquê, que somente voltaria a tona anos depois.

Nasce Hellboy

Cansado de desenhar e escrever o trabalho originalmente criado por outros, Mignola parte para o risco e decide que quer escrever uma criação própria. Estamos falando do início dos anos 90, quando isso ainda era para poucos, como por exemplo (só para ficar na seara demoníaca) Spawn, criado por Todd McFarlane, em 1992. As editoras independentes ainda estavam lutando para achar um modelo de negócio conveniente e tentando colocar a cabeça para fora no dilúvio torrencial representado pela Marvel e DC.

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O que você está fazendo lendo esse artigo se você não sabe que esse é o Spawn, não o Hellboy?

Mas Mignola perseverou e, pinçando lá do fundo de sua mente, ele se lembra da semente de seu trabalho de 1991 e literalmente parte do nome para a criatura, mas uma criatura nova, completamente diferente e com uma rica mitologia ao seu redor. Meio que tentando seguir a tendência da época de “super-grupos”, Hellboy era para ser um de um grupo de cinco heróis, mas essa ideia foi logo descartada (ainda que depois retomada, como veremos adiante).

Nascia, então, Anung un Rama, um demônio lovecraftiano puxado de sua dimensão ainda criança durante a Segunda Guerra Mundial por Rasputin, a mando do Terceiro Reich, ainda que, claro, com seus próprios planos escusos. Mas dá tudo errado para o mago russo e Hellboy acaba nas mãos do exército americano e sob os cuidados do Professor Trevor “Broom” Bruttenholm, chefe do B.P.R.D. (sigla para Birô de Pesquisa e Defesa Paranormais).

Ao longo dos anos de publicação e do sucesso alcançado, Hellboy acabou tendo histórias tanto no presente, já completamente adulto, ao lado de outros seres especiais como Abe Sapien, um “sereio” altamente inteligente e sensitivo, Liz Sherman, uma pirocinética (e por quem Hellboy arrasta seu rabo), Roger, o homúnculo (uma espécie de Golem misturado com a criatura de Frankenstein), Johann Kraus o espírito gasoso de um médium encapsulado em uma vestimenta hermética e Ben Daimio, uma espécie de “homem-onça” Olmeca.

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Hellboy e seus amigos. Uma chance para adivinhar quem é quem!

Seu maior inimigo é Rasputin, que volta dos mortos para usar Hellboy para literalmente trazer o universo imaginado por Lovecraft para dominar a Terra. Ele tem a ajuda dos mais variados seres bizarros e, com sua insistência, acaba criando problemas morais e existenciais para Hellboy que tem que lidar com o que ele deveria ser versus o que ele é ou, pelo menos, aquilo que ele quer ser.

Essa camada filosófica no demônio de chifres serrados é que dá a verdadeira complexidade ao personagem, retirando-o completamente da categoria “monstro que luta com monstros”. Ele sabe o poder destruidor que pode liberar e tem que se debater sobre a melhor forma de evitar que isso aconteça. Com isso, Mignola, no decorre do histórico das publicações, afasta Hellboy do B.P.R.D. e de seus amigos e o coloca em uma jornada solitária e infeliz pelo mundo.

O histórico das publicações

Quando eu mencionei, logo no início, que hoje, há 20 anos, nascia Hellboy em “sua sua forma editorial final”, é porque havia uma razão para isso. A primeira aparição de Hellboy (não na versão da Great Salt Lake Convention, que tratei acima) foi na mais-do-que-obscura revista italiana (!!!) Dime Press # 4, de 1993, e só na capa. Nela, já vemos uma versão bem próxima ao Hellboy final, ainda que sem a característica cor vermelha e sem sua roupa padrão.

hellboy dime press proto-hellboy

Hellboy antes de pegar uma corzinha…

Em seguida, no mesmo ano, depois de Mignola ter oferecido Hellboy para a DC Comics que, apesar de ter gostado, teve problema em aceitar “Hell” em seu nome (vai entender essas frescuras, não é mesmo?), a Dark Horse Comics embarca na ideia do autor e publica uma história de quatro páginas com o personagem já em sua versão final na revista San Diego Comic-Com Comics #2, de 1993, publicação com tiragem de 1.500 exemplares voltada exclusivamente à distribuição na maior convenção de quadrinhos do mundo (e que já deixou há tempos de ser focada em quadrinhos, diga-se de passagem). Era um teaser anunciando o futuro lançamento de Hellboy em março de 1994.

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Aos puristas: essa NÃO é a primeira aparição de Hellboy que comemoramos nesse artigo!

E finalmente chega o grande dia, com a Dark Horse Comics publicando o primeiro número de uma série que até hoje não acabou: Hellboy – A Semente da Destruição # 1. E o mais interessante é que, apesar de o desenho e a história serem de Mignola, o roteiro propriamente dito é de John Byrne.

Os três números seguintes desse arco também ficaram ao encargo de Byrne que, porém, foi substituído pelo próprio Mignola a partir dali. Basicamente, absolutamente todo o material que se seguiu – 12 encadernados entre 1994 e 2012 – foram capitaneados pelo criador do diabão, com algumas exceções aqui e ali, tanto no roteiro quanto na arte.

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Novamente aos puristas: essa SIM é a primeira aparição de Hellboy que comemoramos nesse artigo!

Hoje, a série encontra-se no segundo volume de Hellboy in Hell, com o número 6 prometido para maio de 2014 e o primeiro encadernado – The Descent – já lançado lá fora.

O Universo de Hellboy

Acontece que, provavelmente, nem Mignola nem a Dark Horse sabiam exatamente o tamanho do sucesso que tinham em mãos. Mas Hellboy estourou com o público consumidor, tornando-se uma das publicações de propriedade de seu autor mais valiosas do mercado.

O resultado? O de sempre, claro: a expansão do universo originalmente criado.

Apesar da série Hellboy: Weird Tales, cujo primeiro encadernado saiu em 2003 e que permitia liberdade a outros autores para trabalharem Hellboy do seu jeito, o público clamava por mais.

Pois bem. Lembram-se quando eu falei que Hellboy havia sido criado para ser um dentro de uma espécie de grupo de “super-heróis” (as aspas cabem, pois Hellboy não é exatamente um super-herói)? O super-grupo era o B.P.R.D. e Mignola, ainda em 2003, fez o primeiro spin-off do herói, sem o herói, com foco integral em Abe Sapien e seu estranho grupo. Hoje, B.P.R.D. tem 14 encadernados (mais do que o próprio Hellboy!!!), além de outros três encadernados com minisséries e uma segunda série chamada B.P.R.D.: Hell on Earth, que começa a partir do 14º volume da série anterior e que já está no 8º encadernado.

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Bichos escrotos, saiam dos esgotos; bichos escrotos, venham efeitar; meu lar!

Mas a coisa não parou por aí e, com o passar dos anos, com o sucesso também de B.P.R.D., Mignola e a Dark Horse publicaram três encadernados solos de Abe Sapien e outros três de Lobster Johnson. Quem é Lobster Johnson? Ora, é um herói de publicações pulp dos anos 30 dentro do universo “hellboyano” de quem Hellboy é fã e que ele descobre que existiu de verdade depois que se encontra com o fantasma dele em uma de suas aventuras. Mignola pegou o gancho, rebobinou até os anos 30 e voilà!

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Uma pista para adivinhar quem é esse cara: o símbolo do peito é uma garra de lagosta, que, em inglês, é “lobster”…

Os filmes

Como falei no comecinho, Hellboy também foi adaptado em duas versões cinematográficas, a primeira em 2004 e a segunda em 2008, ambas dirigidas e roteirizadas por Guillermo Del Toro.

O primeiro filme, produzido pela Revolution Studios e distribuído pela Sony, foi decididamente um fracasso de bilheteria, custando USD 66 milhões e fazendo, no total, pouco acima de USD 99 milhões. Antes que alguém me venha com matemática de botequim, não, um filme que custa 66 milhões e faz 99 milhões na bilheteria NÃO se paga no cinema. Longe disso, aliás.

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Fala aí: Ron Perlman é ou não é os cornos (ih, olha o trocadilho!) do Hellboy?

No entanto, o filme teve uma boa carreira em home vídeo, o que levou o estúdio a tentar uma segunda vez, com o lançamento de Hellboy II: O Exército Dourado. Dessa vez, a coisa foi melhor, com o filme custando USD 85 milhões e fazendo na boca do caixa pouco acima de 160 milhões. E não, isso não é suficiente também. O filme ficou no vermelho.

Uma pena, pois Ron Perlman, no papel título, transformou-se no próprio Hellboy, encarnando o personagem tanto fisicamente quanto em personalidade. Um daqueles achados que só acontecem uma vez de muito em muito tempo, como por exemplo Robert Downey Jr. como Tony Stark.

Outras mídias

Hellboy também ganhou vida nas seguintes formas:

– Desenho animado: dois filmes de 75 minutos cada foram produzidos e lançados em TV e home vídeo. O primeiro foi Espada das Tempestades e, o segundo, Sangue & Ferro (ambos disponíveis no Brasil).

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Já tenho a espada. Agora só falta a tempestade!

– Videogame: foram quatro até agora: Hellboy: Dogs of the Night para PC, de 2004,  Hellboy: Asylum Seeker, uma porta do jogo de PC para o primeiro Playstation, também de 2004 e Hellboy: The Science of Evil, de 2008, que é baseado no primeiro filme e foi lançado para PS3, PSP e Xbox 360. Finalmente, em 2009, Hellboy II: The Golden Army – Tooth Fairy Terror, foi lançado para  iOS.

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Tá falando comigo?

– Livros: Nada menos do que 13 romances foram publicados tendo o herói como protagonista.

É, Hellboy conquistou corações nesses 20 anos de jornada. Pode não ter tido o sucesso fora do ramo editorial que todos esperavam, mas em termos de HQs, ele ainda é um sucesso e provavelmente continuará sendo por mais 20 anos, ou pelo tempo que Mignola achar que consegue sustentar histórias interessantes com o personagem. Bom para nós!

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