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Lista | 10 Filmes Sobre a Morte de um Papa e os Conclaves

O fim e o reinício de um papado.

por Luiz Santiago
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A morte do Papa Francisco (o argentino Jorge Mario Bergoglio), na manhã de 21 de abril de 2025, marcou o fim de um pontificado que é considerado revolucionário por uma parte dos fiéis e analistas da igreja: o primeiro papa latino-americano, defensor dos pobres (jesuíta) e da inclusão, que reformulou a imagem da Igreja Católica para o século XXI. Seu legado, entrelaçado a contradições entre a doutrina mais rígida (e certos movimentos mais conservadores na igreja) e esperanças de um acolhimento maior a todas as pessoas, tem um impacto não só na fé católica, mas também na cultura. A sucessão papal — ritualizada em uma votação secreta feita pelo Colégio dos Cardeais, chamada de Conclave — é um processo cheio de mistério, abraçado por questões políticas, sociais, ideológicas e, claro, fé e espiritualidade. O cinema já explorou todos esses temas em obras ficcionais e documentais. Esta lista reúne 10 filmes que considero marcantes sobre a morte de um papa e/ou o consecutivo Conclave (não necessariamente como único tema da obra, mas que precisa constar com peso, além de estar centrada em torno do pontífice/cardeal), com tramas que abordagem intrigas vaticanas, crises de fé e a complexidade humana por trás da figura humana mais importante do catolicismo.

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1. Os Homens Não Olham Para o Céu

Gli Uomini Non Guardano Il Cielo  |  Itália, 1952

Filme pouco conhecido do cinema italiano pós-guerra, este longa de Umberto Scarpelli aborda a vida de Giuseppe Melchiorre Sarto (Pio X). Com uma mise-en-scène que lembra o Neorrealismo Italiano, mas com toques de dramaturgia clássica, o filme captura a tensão de um Vaticano dividido entre tradição e renovação. O diretor faz um estudo de caráter, com cardeais confrontando suas próprias convicções em diálogos afiados que apontam para os desafios de uma liderança eclesiástica em um mundo cada vez mais complexo. Scarpelli acerta ao evitar o sensacionalismo, optando por uma abordagem introspectiva que privilegia o humano sobre o institucional. A fotografia em preto e branco reforça a austeridade, mas há momentos em que o ritmo cambaleia, especialmente na continuidade de grandes rituais. Um achado para quem busca cinema clássico, pensamento religioso cinquentista e a relação entre renovação e fé.

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2. O Cardeal

The Cardinal  |  Estados Unidos, 1963

Este aqui é o filme menos óbvio da lista, mas tem os dois elementos que caracterizam o meu recorte: a morte de um papa e o Conclave. Otto Preminger sabe muito bem manejar grandes narrativas, levando-nos à votação fictícia que marca a ascensão de Stephen Fermoyle (Tom Tryon). A trama narrada, porém, atravessa décadas, abordando coisas que vão desde o racismo (com direito a uma ação da KKK) até o avanço do nazismo. O Conclave, embora não seja o foco absoluto aqui e apareça somente como resultado, com o anúncio da fumaça branca, é retratado com uma solenidade que Preminger usa para contrastar com as lutas pessoais do protagonista e sua sociedade. Há uma ambição desmedida, porém, e o filme às vezes se perde em sua própria escala (são muitas coisas abordadas!), mas o diretor consegue manter profundidade temática e os debates sobre direitos civis que fazem a sessão valer a pena.

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3. As Sandálias do Pescador

The Shoes of the Fisherman  |  Estados Unidos, 1968

Michael Anderson assina uma das mais ambiciosas incursões de Hollywood nesse universo papal, adaptando o romance de Morris West em um momento delicado da geopolítica mundial. Anthony Quinn é Kiril Lakota, um arcebispo ucraniano que, após anos como prisioneiro político, é eleito Papa em um Conclave que engloba as tensões da Guerra Fria. A produção é visualmente impressionante — cenários opulentos e um elenco que inclui Laurence Olivier, Vittorio De Sica e John Gielgud — mas não se limita ao visual. Discute-se o papel da Igreja num mundo à beira do caos nuclear, com uma visão quase profética de um papa do Leste Europeu, algo que realmente aconteceria anos depois, com a eleição do polonês Karol Józef Wojtyła (João Paulo II). Existe um certo didatismo que incomoda no desenvolvimento da trama, mas isso não apaga o brilho de Quinn, que basicamente carrega o filme nas costas. Um clássico que equilibra grandiosidade e introspecção com muito talento.

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4. Conspiração no Vaticano

Morte in Vaticano  |  Itália, Espanha, México, 1982

Gabriele Lavia assina esse thriller bem diferente (outro pouco óbvio da lista) e cheio de elementos místicos, que transforma o Conclave em um ninho de conspirações em diversas camadas. Terence Stamp é um cardeal enigmático nas sombras do Vaticano, seguindo uma linha dramática que nos remete aos gialli. Vemos desencadear uma trama de traições e segredos, e Lavia equilibra suspense e crítica institucional com habilidade, a despeito da estética datada. Contudo, o clima paranoico e a ousadia temática (alguns certamente vão se irritar muito com essa abordagem) tornam o filme um destaque. Não é sutil, mas é exatamente essa falta de pudor que o faz constar nessa lista.

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5. Querem Matar o Papa

The Pope Must Die  |  Reino Unido, 1991

Esta comédia de Peter Richardson traz uma abordagem irreverente que usa a morte acidental de um papa como ponto de partida para uma eleição bastante caótica e inesperada. Robbie Coltrane é um padre simplório elevado ao papado por engano, e o Conclave vira palco de “absurdos deliciosos” que fazem a gente rir com gosto. A sátira é afiada, mirando na corrupção e na hipocrisia da Igreja sem meias-palavras, mas nunca perde o tom leve. Falta refinamento em alguns diálogos e a produção modesta às vezes trai a ambição da ideia, mas o humor desbocado e a originalidade compensam. É um alívio bem-vindo em meio a tantos dramas solenes sobre o tema.

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6. Karol – O Homem que se Tornou Papa

Karol, un Uomo Diventato Papa  |  Polônia, Itália, 2005

Telefilme de Giacomo Battiato que retrata a vida de João Paulo II, com foco, em sua parte final, no Conclave de 1978, após a morte de João Paulo I (Albino Luciani), após 33 dias de papado. Piotr Adamczyk entrega uma atuação sólida como Karol Wojtyła, capturando sua jornada de sacerdote a pontífice em meio a um Vaticano posto sob suspeita. O drama biográfico retrata com muita atenção os detalhes históricos e a jornada pessoal e de fé do homem que se tornaria um dos papas mais populares e queridos da modernidade. Acredito que o tom hagiográfico suaviza demais as complexidades do protagonista e do cenário em que ele estava vivendo, mas a recriação do Conclave e suas consequências tornam o filme essencial para quem busca ver um momento definidor da Igreja na fase final e imediatamente posterior à Guerra Fria.

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7. O Conclave

The Conclave  |  Canadá, Alemanha, 2006

Mergulhado no Renascimento italiano, o diretor Christoph Schrewe recriou, em O Conclave, a eleição papal de 1458, responsável pela eleição de Enea Silvio Piccolomini (Pio II). A fidelidade histórica é o chamariz aqui: figurinos exuberantes e uma ambientação que mostra a força visual da época. O roteiro também explora as rivalidades e ambições dos cardeais com muita crueza. A morte do papa, aqui, revela certas brechas nos ritos da Igreja, e Schrewe acerta ao não romantizar o processo, fazendo da eleição um campo de batalha político disfarçado de ritual. Falta, talvez, um pouco mais de ousadia narrativa, mas a precisão estética e o foco temático (o Conclave, claro, como destaque do enredo) tornam o longa essencial para quem busca entender processos de votação papal bem mais antigos.

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8. Os Borgia

Los Borgia  |  Espanha, Itália, 2006

Filme de Antonio Hernández que explora o tumulto político do Renascimento (de novo!), recriando o conclave de 1492 que, após a morte de Giovanni Battista Cibo (Inocêncio VIII), eleva Rodrigo Borgia (Lluís Homar) ao papado, como Alexandre VI. Subornos e ambições moldam o ritual sagrado aqui, trazendo uma construção luxuosa que contrasta com a decadência ético-moral da Santa Sé. Homar entrega uma atuação magnética, equilibrando carisma e cinismo, enquanto a narrativa expõe a Igreja como arena de corrupção. Para os fascinados pela família Borgia e sua relação com a igreja, este filme é a pedida certa.

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9. Temos Papa

Habemus Papam  |  Itália, França, 2011

Uma pérola de Nanni Moretti, este filme transforma a eleição papal em um estudo sobre a fragilidade humana. Michel Piccoli é o cardeal Melville, que, após a morte do papa e sua escolha no Conclave, cede ao peso do cargo numa forte crise existencial. Moretti mistura humor agridoce e melancolia com muito jeito, fugindo dos clichês de conspiração para focar no homem por trás da mitra. O Conclave, aqui, é o espelho das dúvidas que corroem o protagonista, refletidas em cenas simples, mas muito poderosas. É verdade que poderia ser mais incisivo no aspecto institucional, mas o que fica é a delicadeza de um enredo que prefere ser humano e luminoso, recompensando-nos com emoção genuína e uma sessão maravilhosa.

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10. Conclave

Conclave  |  Reino Unido, Estados Unidos, 2024

Thriller afiado de Edward Berger, que disseca o poder, as manipulações e a fé em igual medida, baseado no romance de Robert Harris. Ralph Fiennes vive o cardeal Lawrence, um homem de princípios num Conclave carregado de segredos e intrigas. A recriação do Vaticano é impecável, mas o que impressiona é a tensão psicológica, com cada voto e cada olhar funcionando como uma peça de xadrez num jogo mais sério do que parece. Berger não tem medo de apontar as contradições da Igreja e o filme ganha força ao expor como a santidade pode conviver com a ambição. Há momentos em que o ritmo oscila, mas a inteligência do roteiro e a atuação bárbara de Fiennes fazem deste um marco contemporâneo sobre o tema — um retrato que é reverente, sem deixar de ser crítico.

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