Avaliação da temporada
(não é uma média)
- Há spoilers.
Fiquei matutando que nota final daria à segunda temporada de Pacificador e acabei usando como parâmetro algo que tento evitar, mas que, aqui, não consegui, ou seja, a comparação com a temporada anterior. Minha lógica inicial para os três HALs que acabei dando para a primeira temporada foi que ela havia sido mediana com viés de alta, o que me levou a mentalmente arredondar o 2,5 original para cima. Ao traçar um comparativo, não pude afastar a sensação de que o segundo ano foi justamente o contrário, ou seja, mediano com viés de baixa e isso me levou à nota final. Isso e a sensação de ter perdido meu tempo vendo e escrevendo sobre os episódios de uma temporada, sensação essa que, por mais que eu assista muitas séries por ano, raramente sinto.
Afinal, o que acabou ficando evidente nesse segundo ano é que James Gunn só teve duas ótimas ideias, uma delas simplicíssima e executada à perfeição e outra mais complexa, mas não só executada de maneira completamente desleixada. A primeira ideia foi como fazer de Pacificador como um todo uma série do novo Universo Cinematográfico DC e não do velho e a execução que mudou a ponta da Liga da Justiça para a Gangue da Justiça foi uma sacada genial. O problema é que essa sacada genial executada de maneira também genial sequer faz parte da segunda temporada, o que, claro, é um problema, pois a segunda e única outra grande ideia, introduzir a Terra-X, foi uma queima lenta inacreditavelmente modorrenta que enrolou a temporada por cinco episódios até o momento da “grande reviravolta” que foi, então, resolvida em um piscar de olhos, mesmo que tenha resultado no único episódio realmente bom de toda a temporada, o 2X06.
O restante foi composto de destaques completamente injustificados para a esposa de James Gunn, em um exemplo de nepotismo descaradamente equivocado que não via desde O Poderoso Chefão – Parte III, a transformação de todo o restante da equipe do Pacificador em coadjuvantes semiesquecidos, muitas vezes até mesmo figurantes, a manutenção do próprio protagonista em constante estado de dormência e a inexplicável tentativa de colocar uma série sobre um personagem Z da DC Comics em pé de igualdade com o maior herói de todos os tempos. Ok, ok, admito que o lance da “cegueira aviária” teve seus dois minutos merecidos em prateleira próxima da de “ideias geniais” e que o personagem de Red St. Wild foi bacana também pela mesma quantidade de tempo. Ou seja, Gunn, desavergonhadamente, desperdiçou bons personagens (Vigilante e Adebayo) e uma linha narrativa com potencial para entregar uma temporada que parece a reunião fragmentada de conceitos mal desenvolvidos.
E o que dizer do humor? Se as pessoas já reclamavam dos filmes e séries da Marvel Studios, fico espantado que não reclamem muito mais aqui em Pacificador, pois Gunn mostrou, pela terceira vez seguida (duas temporadas de Pacificador e uma de Comando das Criaturas) que ele não consegue adequar sua forma de escrever passagens cômicas para o formato serializado. Funciona bem em filmes, mas é um completo horror na base de episódios semanais, com repetições intermináveis, tentativas de subversão que não passam de bobagens pouco inspiradas de 5ª Série e uma pretensão de fazer humor adulto que o confunde com humor meramente idiota, o que esvazia mais ainda o elenco. Fica a torcida para que, em futuras séries e mesmo em eventual continuação de Pacificador (seja uma terceira temporada, seja Xeque-Mate ou qualquer outra coisa nesse formato), Gunn passe a tocha adiante.
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Como fazemos em toda série ou minissérie que analisamos semanalmente, preparamos nosso tradicional ranking dos episódios para podermos debater com vocês. Qual foi seu preferido? E o que menos gostou? Mandem suas listas e comentários!
8º Lugar:
Como um Keith na Noite
2X07
Muito sinceramente, eu não esperava um tratamento grandioso para as consequências da revelação de que a dimensão paradisíaca em que o Pacificador encontrou sua paz era, na verdade, a Terra-X, em que a Alemanha Nazista ganhou a Segunda Guerra Mundial, mas eu também não esperava o tratamento acanhado que essa linha narrativa tão promissora acabou recebendo. Foram cinco episódios que andaram de lado para supostamente preparar o terreno para esse grande momento e o grande momento foi abordado como se fosse apenas mais uma terça-feira na vida dos personagens, o que tirou todo o poder da história e a transformou em algo indefensavelmente banal, como se James Gunn tivesse tido essa única ideia, mas nenhuma ideia efetiva de como desenvolvê-la ou orçamento para usar em algo minimamente mais interessante.
7º Lugar:
Chave Nelson
2X08
Havia uma chance enorme de o episódio final da segunda temporada de Pacificador ser melhor do que o anterior, já que Como um Keith na Noite havia conseguido a façanha de ser o pior até semana passada. E, de fato, Chave Nelson conseguiu superar o anterior, mas não por muito, pois, justiça seja feita, James Gunn levou o drama pessoal do protagonista e de essencialmente todos os seus amigos (nenhum deles, porém, com um arco dramático minimamente decente para dizer que ele foi encerrado) até um fim satisfatório e, na mesma toada, usou a série para abrir uma nova linha narrativa que pode ou não ser a terceira temporada da série, pode ou não ser usada nos filmes do Universo Cinematográfico DC 2.0 e pode ou não ser objeto de uma nova série que continue essa, talvez Xeque-Mate como o final dá a entender.
6º Lugar:
O Que Mais Porta Dizer?
2X04
Que Mais Porta Dizer?, episódio que marca a metade da segunda temporada de Pacificador, contém uma cena que é quase um exemplo eficaz de metalinguagem se o objetivo dela fosse ser um exemplo de metalinguagem, o que muito obviamente ela não é. Falo da sequência em que John Economos, daquele seu jeito sem jeito, faz o que pode para atrasar a decodificação da fechadura eletrônica da porta da Câmara Quântica da casa de seu amigo Chris. Afinal, o que foi o capítulo que não James Gunn, daquele seu jeito sem jeito, fazendo o que pode para atrasar mais uma vez o começo efetivo da temporada? Se pelo menos a enrolação tivesse momentos que valessem a espera, nada a reclamar (tanto), mas não é isso o que acontece e, se Outro Rick na Manga prometia algo de interessante, tudo o que ganhamos aqui foi a mequetrefíssima “história de origem” do gadget multidimensional do pai do Pacificador.
5º Lugar:
Os Laços Que Desgastam
2X01
Como fazer com que Pacificador, série cuja primeira temporada fazia parte da versão original do Universo Cinematográfico DC, transforme-se em uma série do novo Universo Cinematográfico DC? Alguém muito preocupado em dar satisfações para fãs inventaria um monte de imbecilidades exageradas e pseudoteológicas ou mágicas para resolver o problema, mas James Gunn, pelo visto, não está interessado em complicar e, ao simplificar, ele genialmente – sim, genialmente – converteu a chegada da Liga da Justiça ao final de Chutando o Pau da Bavaca na chegada da Gangue da Justiça, de seu Superman, com uma refilmagemzinha marota, sem firulas, em uma cena que aparece não no episódio inicial da segunda temporada, mas sim na recapitulação da temporada anterior. Se a Marvel Studios “inventou” as cenas pós-créditos, agora a DC Studios pode bater no peito e afirmar com orgulho que inventou (sem as aspas), o retcon no recap. E, assim, como um juiz batendo seu malhete, Gunn disse para todo nós que sim, Pacificador inteira é uma série do UCDC 2.0 e ponto final.
4º Lugar:
De Volta à Sutura
2X05
Posso estar enganado, mas a impressão que me dá é que os cinco primeiros episódios dessa segunda temporada de Pacificador têm, no máximo dos máximos, com aquela boa vontade que me é costumeira, material para preencher um episódio de 60 minutos (ou dois de 30, obviamente), pois, entre a descoberta de um universo paralelo que parece ser uma utopia para o protagonista e ele finalmente tomando a decisão de largar seu inferno pessoal por esse suposto paraíso nos segundos finais de De Volta à Sutura, nada de realmente relevante aconteceu. Claro, fomos apresentados a dois personagens excêntricos novos, além da sede de vingança de Papai Flag, mas James Gunn refestelou-se no modo “pneu girando em falso na lama”, preenchendo os espaços com piadas sem graça, tentativas de dar aquele ar adulto à série, repetições ad nauseam de situações cansadas e o mais completo desperdício dos personagens estabelecidos, com exceção de Emilia Harcourt que, tenho certeza, não tem relação alguma com o fato de Jennifer Holland ser sua esposa.
3º Lugar:
O Pássaro do Homem Determina Seu Valor
2X02
Depois de um começo não mais do que mediano, Pacificador mantém o ritmo de construção de uma história ao primeiro deixar bem claro que Rick Flag Sr. realmente quer se vingar de Christopher Smith pela morte de seu filho, usando a conveniência da assinatura quântica do armário dimensional como instrumento de seu ataque, e, depois, para deixar marcado que Chris, no lugar de lutar para consertar a vida que tem, muito provavelmente tentará tomar o lugar de sua contraparte extradimensional. Para uma série com apenas oito episódios não particularmente curtos, diria que é pouco demais, já que esses dois primeiros episódios não fazem muito em termos de desenvolvimento, com James Gunn preferindo derramar sua verborragia de sempre e as sequências cuidadosamente feitas para “chocar”.
2º Lugar:
Outro Rick na Manga
2X03
Apesar de o retorno de Christopher Smith à dimensão em que ele é um filho e irmão querido, além de um herói adorado por todos, não trazer nada que já não tivesse sido abordado nos dois episódios anteriores da temporada, era importante, tematicamente, que víssemos o espelho da relação dele com Emilia Harcourt nesse outro universo depois da festa no telhado do prédio dela em O Pássaro do Homem Determina Seu Valor. O simples fato de James Gunn não fazer do Pacificador dessa outra dimensão um sujeito perfeitamente ajustado à sua vida comparativamente muito melhor que à do Pacificador Prime, evidenciando seu problema com drogas e a relação estremecida com a Harcourt de lá já merece pontos positivos, pois cria o drama necessário que torna o contraste mais desafiador e interessante.
1º Lugar:
O Que os Olhos Não Veem, o Chrisão Não Sente
2X06
O Que os Olhos Não Veem, o Chrisão Não Sente (o tradutor, coitado, está se esforçando!) era, obviamente, o ponto em que James Gunn queria chegar, era sua grande ideia que, porém, era também sua única ideia, o que o levou a inclementemente enrolar a temporada por cinco episódios inteiros em que ele basicamente jogou os coadjuvantes para escanteio, colocou Emilia Harcourt no pedestal e transformou Christopher Smith em um homem apaixonando chorando pelos cantos. Mas a boa notícia é que, depois de um longo e tenebroso inverno, finalmente chegamos a esse momento e toda a revelação sobre a natureza dessa dimensão alternativa em que Chris tem pai e irmão vivos é muito bem conduzida, com Gunn correndo atrás do prejuízo e até deixando o Vigilante, criminosamente reduzido a figurante até agora, aparecer mais do que por breves segundos de cada vez.