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Crítica | A Ilha da Caveira (Skull Island) – 1ª Temporada

Bichões e melodramas.

por Luiz Santiago
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Desde o lançamento de Godzilla (2014), a produtora Legendary Entertainment, uma das responsáveis pelas obras da franquia Monsterverse — há de se considerar aí também as parcerias com a Toho, na produção das obras que elencam o lagartão; e a Warner, na distribuição dos filmes — deixou claro que gostaria de experimentar sua temática em inúmeras mídias. E de fato, além do cinema, a marca já licenciou games, quadrinhos e livros, fechando o ciclo de criação com duas séries de TV  lançadas em 2023: a primeira, A Ilha da Caveira, pela Netflix; e a segunda, Monarch – Legado de Monstros, pela Apple TV+.

Na  versão animada do projeto, temos Brian Duffield no papel central de todo o processo criativo, atuando como escritor, criador, produtor executivo, diretor e showrunner do programa. Num consórcio entre a Legendary Television, a Powerhouse Animation e a Tractor Pants Productions, a presente animação tem como um dos objetivos estabelecer terreno temático para os eventos de Godzilla X Kong: The New Empire (2024), e faz isso com alguma competência narrativa e boa constituição visual, embora termine de forma reticente e frustrante demais. O enredo se passa nos anos 1990, com dois grupos de navegadores com intenções e armamentos bem diferentes, colocados na trilha de uma adolescente chamada Annie, e isolados na Ilha da Caveira.

No aspecto de aventura com os kaijus, a série cumpre o seu papel de maneira aceitável. Até a forma como o núcleo humano é apresentado, no episódio de estreia (Maritime Pilot), chama a atenção do espectador e cria uma tensão e curiosidade fortes em relação ao que de fato está acontecendo. Os mistérios em torno de Annie, o grupo de navegadores militares e os personagens jovens (Charlie e Mike), que se destacam com enorme facilidade, conseguem fazer a série valer a pena desde o início, e mesmo que posteriormente tenhamos problemas com a finalização dessas mesmas partes (ou com o papel da edição nos dois primeiros episódios, que tem momentos terríveis), não ficamos diante de algo tão ruim que retire o interesse pelo show ou estrague de verdade toda a experiência. Mas que existe frustração com o rumo da trama, ah, existe.

Talvez o lado melodramático do roteiro seja a pior coisa que ele tem, no desenvolvimento. Há um quê de “novela mexicana“, na relação entre Annie e Irene que enfraquece todas as sequências próximas, e a alternância entre os exagerados choramingos familiares e o que realmente importa — o drama de sobrevivência mais a luta contra os mais absurdos monstros possíveis — termina irritando o espectador. Ainda assim, vale ressaltar a boa interação entre partes cômicas e tensas, especialmente na linha dramática dos personagens mais jovens, além da fantástica interação de Annie com o seu “cachorro” e o encanto que alguns outros personagens têm diante da mortal e exuberante natureza da ilha. Se o texto focasse exclusivamente nesses elementos, certamente teríamos uma temporada mais divertida e memorável, muito provavelmente com um final que não parecesse feito de qualquer jeito.

O cliffhanger para uma possível segunda temporada aparece de forma abrupta, seguida de um clímax que necessitava imensamente de um período de adequação das consequências; e, pior ainda, com isolamento de uma personagem principal, ignorando completamente todos os outros. Se o episódio final, You’ll Never Catch a Monkey That Way, tem algo de bom, isto é apenas a luta entre King Kong e o bichão do oceano e as cenas de tensão na Ilha da Caveira. A maneira como criador e escritor resolveu encerrar a temporada, porém, estraga muito do que foi feito antes e apresenta um suspense que joga a série para uma ordem diferente, tirando Annie do elemento que de fato faz sentido aqui (a Ilha da Caveira), tentando criar um “efeito Lost” que nos causa imensa vergonha. Para nossa sorte, há kaiju, luta e perseguições o bastante para nos fazer feliz ao longo dos 8 capítulos, além de momentos notáveis do núcleo humano (que é um problema recorrente nesse tipo de produção) e bons flashbacks de contexto. Uma boa temporada com um final ruim, mas um desenvolvimento que vale a pena ser apreciado.

A Ilha da Caveira (Skull Island) – 1ª Temporada – EUA, 2023
Criação: Brian Duffield
Direção: Willis Bulliner, Daniel Araya, Amanda Sitareh B., Julie Olson
Roteiro: Brian Duffield
Elenco (vozes): Nicolas Cantu, Mae Whitman, Darren Barnet, Benjamin Bratt, Phil LaMarr, Betty Gilpin, John DiMaggio, Mara Junot, Trevor Devall, Yuki Matsuzaki, Sunil Malhotra, Fryda Wolff, Ian James Corlett, Tania Gunadi, Alejandra Reynoso, Charlie Townsend
Duração: 8 episódios, cerca de 25 min. cada um.

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