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Crítica | Aliens vs. Vingadores

Muita ambição, poucas páginas.

por Ritter Fan
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Posso apostar que os planos para o primeiro crossover da franquia Alien com os super-heróis da Marvel Comics mudaram em algum momento durante suas elásticas e consideravelmente irritantes datas de publicação que fizeram a minissérie com apenas quatro edições se arrastar de agosto de 2024 até junho de 2025. Atrasos são comuns e, considerando o quanto Jonathan Hickman tem de trabalho na editora e também a arte mais complexa e rica de Esad Ribic, eles já eram de se esperar, mas o que chama a atenção é o quanto o resultado final pareceu tímido, apressado e canhestro, apesar de uma premissa engajante e que claramente tinha grande ambição, como se a dupla criativa tivesse pisado no freio no meio do caminho e remodelado tudo para fazer a história caber mal e porcamente dentro de um número limitadíssimo de páginas para o que eles, lá no fundo, queriam contar.

Não é que Aliens vs. Vingadores não funcione e seja imprestável, pois a minissérie está longe disso (afinal, não estamos falando dos crossovers de edição única como os Godzilla vs. Marvel). No entanto, sua pegada cósmica somada à premissa “futuro cataclísmico de um dos vários universos que fazem parte do multiverso” – pois não, não estamos falando do universo padrão da editora, o Terra-616, ainda que o final da história aponte para uma direção em que isso provavelmente acontecerá – precisava de mais tempos de maturação e desenvolvimento, especialmente porque Hickman, em sua usual megalomania, lida com diversos núcleos gigantescos, começando com o Império Intergaláctico de Wakanda chegando a uma nave aparentemente dos Shi’ar em que os xenomorfos estão sendo incubados para serem usados como armas biológicas de destruição em massa, continuando com uma abordagem da última cidade da Terra, construída por um Tony Stark idoso e cadeirante, que ainda resiste às criaturas e passando pelo êxodo mutante para Marte, com o estabelecimento de uma colônia por lá. Só esses três aspectos macro da minissérie mereciam minisséries próprias, se é que me entendem, mas Hickman vai além e não só lida com a mitologia dos super-heróis mais idosos que inclui na narrativa (além do Homem de Ferro temos destacadamente Hulk, Homem-Aranha Miles Morales, Capitã Marvel e Valeria Richards), como também não se furta de trabalhar a mitologia dos xenomorfos em si, incluindo os Engenheiros e o androide David 8. E isso sem contar que vemos, mesmo que de relance, a história de mais do que apenas um universo paralelo…

O resultado final, portanto, decepciona não por ser ruim, mas sim principalmente porque tudo isso parece jogado, sem que Hickman enriqueça os personagens para além do que já conhecemos e esperamos de cada um deles e sem que a passagem temporal desde a chegada dos xenomorfos na Terra, algo como 20 anos, ganhe os contornos épicos que podem ser vistos até mesmo em obras como Zumbis Marvel ou outras do tipo “a última história do personagem tal” que a Marvel gosta tanto de publicar. Os núcleos de Wakanda e dos mutantes de Marte parecem mais arremedos narrativos que foram enxertados no que parece ser o maior foco de Hickman, ou seja, tudo aquilo que gira em torno de Tony Stark e dos últimos heróis no planeta, com os xenomorfos ganhando presença genérica, como uma força destruidora completamente imparável que poderia ser qualquer coisa, de fumaça tóxica a vírus invisíveis. Não há nem o horror de Alien, O Oitavo Passageiro e nem o tipo de pancadaria visceral que vemos em Aliens, O Resgate, com a trama vilanesca por trás de tudo sofrendo por sua falta de relevância dentro da própria história sendo contada e não passando de um gatilho consideravelmente simplista para que tudo que tem que acontecer aconteça.

Se os alienígenas com sangue ácido realmente entrarem no universo principal da Marvel Comics, eu sinceramente espero que eles ganhem um tratamento um pouco mais interessante do que sua transformação em mais uma ameaça cósmica qualquer da editora como a Ninhada ou coisa do gênero. É desnecessário que a abordagem tenha o escopo épico que Hickman impõe aqui em seu universo paralelo que é mais uma desculpa para ele fazer o que quer, do jeito que quer, sem ter que se preocupar com as consequências. Os xenomorfos podem e devem servir de instrumentos de destruição mais autocontidos, até porque as melhores histórias com essas criaturas – no audiovisual e nos quadrinhos – são aquelas de espaço confinado e não de mundo aberto em que elas perdem suas melhores características. Ou, claro, a Marvel Comics pode simplesmente destacar essa ideia de fundir os universos e continuar a tratar dos bicharocos que são a tara da Weyland-Yutani como uma praga separada mesmo.

Aliens vs. Vingadores (Aliens vs. Avengers – EUA, 2024/25)
Contendo: Aliens vs. Avengers #1 a 4
Roteiro: Jonathan Hickman
Arte: Esad Ribic
Cores: Ive Svorcina
Letras: Cory Petit
Editoria: Lindsey Cohick, Sarah Brunstad, Martin Biro (somente edição #4), C.B. Cebulski
Datas originais de publicação: 28 de agosto e 06 de novembro de 2024; 19 de fevereiro e 18 de junho de 2025
Páginas: 152

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