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Crítica | Bom Comportamento

por Guilherme Coral
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Ao longo da história do Cinema, vimos alguns atores ou diretores estigmatizados por alguns ou alguns de seus trabalhos anteriores, questão, que, na maioria das vezes, não passa de uma grande injustiça em relação ao artista, já que seu talento não pode ser definido por um papel apenas. Nesse cenário temos Robert Pattinson e, claro, Kirsten Stewart, que ficaram indevidamente marcados pelo seu desempenho na saga Crepúsculo. Enquanto que a atriz mais do que mostrou do que é capaz, em obras como Personal Shopper, Pattinson também mostrou a que veio em Cosmopolis e, agora, em Bom Comportamento, papel que exige dele uma postura totalmente diferenciada.

Exibido no Festival do Rio 2017, o longa-metragem nos conta a história de Connie Nikas (Pattinson), que, junto de seu irmão, Nick (Benny Safdie), deficiente mental, roubam um banco. Tudo, no entanto, sai errado e Nick acaba sendo preso – cabe ao seu irmão, portanto, tirá-lo do cárcere e, para isso, tenta juntar dinheiro das mais variadas maneiras a fim de pagar a fiança. No processo ele acaba se envolvendo com um traficante e inicia uma jornada verdadeiramente louca, sem nem mesmo dormir até ver o seu irmão livre.

Um dos aspectos mais notáveis de Bom Comportamento é como ele nos coloca na posição do protagonista através da decupagem de Benny e Josh Safdie. Com constantes closes nos rostos dos atores, a dupla busca passar a sensação de instabilidade, com um ar frenético, que incomoda visualmente, mas que cumpre sua função, nos fazendo entender a preocupação do personagem, enquanto que ele próprio soa como se estivesse sob efeito de drogas, embora não esteja. Isso, claro, dialoga com sua ausência de sono, que já é bem marcada pela eficiente montagem de Ronald Bronstein e do próprio Benny Safdie, que esconde a transição entre sequências, de tal forma que sentimos como se tudo fosse estivesse acontecendo seguidamente em poucas horas.

Por outro lado, o texto de Bronstein e Safdie não funciona tão bem, já que os atos são muito bem delineados através da inserção e exclusão de certos personagens, o que não combina com a intenção de esconder a passagem de tempo. Cria-se uma narrativa fragmentada, que dilata a nossa percepção da duração da obra, fazendo-a parecer ser mais longa do que efetivamente é. Esse aspecto, porém, é um deslize bastante pontual, que não chega a comprometer nosso aproveitamento geral do filme, especialmente considerando os outros fatores que trabalham a seu favor.

Um dos mais notáveis desses acertos é a atuação de Pattinson, cujo olhar, tom de fala e linguagem corporal perfeitamente representa a sua situação de desespero, aspecto que funciona perfeitamente em conjunto com sua caracterização, tanto pelo figurino mais “sujo” e constante suor no rosto, como se estivesse correndo o tempo todo. Essa percepção é ainda mais fortalecida pelo cabelo do personagem, sempre oleoso, evidenciando a falta de banho e até mesmo o descuido com a própria imagem, o que nos leva à sua preocupação exclusiva com o irmão – ponto que aparece com forte veia trágica, já que são suas próprias ações que acabam com a vida de Nick, independente das boas intenções do irmão. Connie é estabelecido como uma figura verdadeiramente destrutiva, gerando caos por onde passa.

Não podemos, também, descartar a Sean Price Williams, constante colaborador do ótimo Alex Ross Perry, que faz uso de cores contrastantes, com boa presença do neon, a fim de passar a percepção do uso de drogas alucinógenas, embora essas, como já dito, não sejam usadas pelo protagonista – a intenção é  ilustrar essa “viagem”, muitas vezes surreal, do personagem. Essa cor mais enfática, ocasionalmente, abre espaço para algumas luzes mais duras ou o escuro que toma conta da tela, contribuindo para o desconfortante realismo da obra, que tão bem contrasta com a forte presença de cores, essas que aparecem, também, nos figurinos, como já ditos, sujos, desgastados, mas sempre em tons vibrantes.

Dessa forma, Bom Comportamento nos leva por uma jornada incessante, frenética e, muitas vezes, surreal, que somente nos oferece um tempo para respirar em seu desfecho. Ainda que sofra com certos problemas de ritmo, com sua narrativa ocasionalmente fragmentada, a obra nos traz um retrato, que incomoda, de uma pessoa destrutiva, que prova, de uma vez por todas, que Robert Pattinson não deve permanecer estigmatizado por um único papel.

Bom Comportamento (Good Time) — EUA, 2017
Direção:
 Benny Safdie, Josh Safdie
Roteiro: Ronald Bronstein, Josh Safdie
Elenco: Robert Pattinson, Benny Safdie, Jennifer Jason Leigh, Taliah Webster, Barkhad Abdi, Necro
Duração: 101 min.

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