Home QuadrinhosArco Crítica | Deadly Hands of Kung Fu #1 a 3 + Edição Especial

Crítica | Deadly Hands of Kung Fu #1 a 3 + Edição Especial

por Luiz Santiago
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O presente compilado traz as 3 primeiras edições da revista Deadly Hands of Kung Fu, que foi originalmente publicada entre os anos de 1974 e 1977, ao longo de 33 edições. Nesta série, acompanhamos as aventuras de Shang Chi, Mestre do Kung Fu, que fizera a sua estreia naquele mesmo ano de 1974, nas páginas da Special Marvel Edition #15 e 16.

Nota: Os textos deste compilado são de minha autoria, exceto o da edição O Golpe Diabólico, que foi escrito pelo meu colega Davi Lima.

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Shang Chi, Mestre do Kung Fu e Os Filhos do Tigre

The Testing of Shang-Chi / Origins of the Sons of the Tiger

Esta primeira edição de Deadly Hands of Kung conta com duas diferentes histórias. A primeira delas, escrita por Steve Englehart e Jim Starlin, volta ao passado de Shang-Chi, contando uma história de quando ele tinha 14 anos de idade e seu pai Fu Manchu contratou quatro assassinos para tentar matá-lo. Esse teste tinha por objetivo determinar se Shang-Chi possuía o “instinto assassino”. O texto não perde muito tempo com teorias sobre o comportamento ou o pensamento do protagonista, mas consegue inserir muitas dessas ideias no decorrer da trama, mostrando a fixação maluca de Fu Machu pela brutalidade, tentando fazer do filho um assassino, um veículo imparável de morte, sem perceber que essa brutalidade é quem afasta o menino dele. As lutas, a meditação e as escolhas de Shang-Chi mostram o nível de preparação do personagem e faz com que a gente o admire muitíssimo, sensação que cresce ainda mais quando o vemos se colocar contra o pai, que o manipula (ou pelo menos tenta) o tempo todo.

Já a segunda história, escrita por Gerry Conway, não tem a ver com Shang-Chi. Ela nos traz a origem dos Filhos do Tigre. Na trama, Lin Sun retorna ao seu dojo e encontra seu mestre morrendo, após se atacado por ninjas. Com seu último suspiro, o mestre dá a Lin os amuletos do Tigre de Jade. Junto com seus amigos Abe Brown e Bob Diamond, Lin forma os Filhos do Tigre para vingar o mestre, embora o roteiro trate toda a questão como uma “vitória parcial e amarga”, primeiro porque tem muita coisa ainda para explorar e depois porque o mestre que o trio tanto ama, está morto. Eles caçam o líder dos assassinos, Sui Ti Kama, e explodem o seu covil de ópio, mas esse é apenas o primeiro passo de uma grande jornada que o leitor já imagina que trabalhará com conspirações, desejo de dominar regiões para o tráfico ou, quem sabe, ambições muito maiores de controle de pessoas e coisas.

Deadly Hands of Kung Fu #1 (EUA, abril de 1974)
No Brasil:
Kung Fu n°1 (Ebal, 1974), Mestre do Kung Fu n°21 (Editora Bloch, 1977)
Roteiro: Steve Englehart, Jim Starlin (primeira história) e Gerry Conway (segunda história)
Arte: Jim Starlin (primeira história) e Dick Giordano (segunda história)
Arte-final: Al Milgrom (primeira história) e Dick Giordano (segunda história)
Letras: Dave Hunt
Editoria: Don McGregor (primeira história) e Roy Thomas (segunda história)
15 páginas (cada história)

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As Monstruosidades de Fu Manchu

Shang-Chi: Master of Kung Fu

Algumas comparações quadrinísticas acabaram me vindo, sem querer, nessa segunda edição de Deadly Hands of Kung. A primeira delas tem a ver com Fu Manchu, que seguindo todos os seus problemas de composição como personagem (vindos da literatura, já que ele foi criado por Sax Rohmer, num conto publicado em 1912) incorpora todo o mal possível, manipulando e até mesmo modificando fisicamente indivíduos que deveriam ser seus servos. A comparação que me veio aqui, guardadas as devidas proporções, foi com Anton Arcane. Um grau de parentesco com seu inimigo, uma grande extensão de poder, uma ambição demoníaca e, agora, essas modificações físicas. Tudo isso acabou me trazendo o pensamento em Arcane assim que bati o olho nos inimigos que Shang-Chi enfrenta nessa história.

Já a outra comparação é mais uma impressão geral do que qualquer outra coisa. Quando entra no covil das “monstruosidades de Fu Manchu“, como diz o título brasileiro, Shang-Chi encontra-se com um personagem que me trouxe à memória ninguém menos que Jesus de Sade, de Preacher, também guardadas aí as devidas proporções. As lutas, mais uma vez, são o grande destaque da edição e o final chegou a me impressionar bastante. Quando o infame Fu Manchu perguntou a Ducharme se estava “tudo pronto” eu não fazia ideia do que ele queria dizer… até que a tragédia final acontecesse. Impossível não odiar cada vez mais esse vilão. Coitado de Shang-Chi.

Deadly Hands of Kung Fu #2 (EUA, junho de 1974)
No Brasil:
Kung Fu n°2 (Ebal, 1974), Mestre do Kung Fu n°16 (Editora Bloch, 1976)
Roteiro: Steve Englehart, Alan Weiss
Arte: Alan Weiss
Arte-final: Al Milgrom
Letras: Tom Orzechowski
Editoria: Roy Thomas
15 páginas

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O Golpe Diabólico

The Master Plan of Fu Manchu (Part III)

Por Davi Lima

Mais do que a história em si, envolvendo a terceira parte, e outro herói tentando desarmar o grande plano de Fu Manchu, pai de Shang Chi, para criar uma discórdia mundial entre a China e os EUA, o mais legal dessa dupla Doug Moench e Mike Vosburg é que não importa quase seja o tema ou narrativa, sempre se mantém o espírito taoísta do Mestre do Kung Fu estampado nos quadrinhos. Isso é legal porque desarticula clichês estabelecidos sem necessidade de alterar a linha clássica de script com as imagens. Ao mesmo tempo, esse segmento de história do protagonista contra o Fu Manchu carrega nas poucas páginas tanto o poder que o vilão tem de enganar personagens, como também o herói descalço tem uma visão de mundo perspicaz com muito pouco a se captar com os desafios que ele se dispõe a enfrentar. A sensação de ler as onze páginas é tanto ágil como inteligente, com fugas elaboradas e ação bem calculada para resolver com o tempo a plausibilidade dos fatos de acordo com o drama proposto.

Sendo menos abstrato, se Fu Manchu foge é porque ele precisa lutar contra um número considerável de capangas que se estabelece metodicamente, que ele vai contar até não sobrar nenhum para derrubar. Outro exemplo semelhante se refere a como o vilão cria outra possibilidade se seu plano ser preservado, mesmo com a presença do filho atrapalhá-lo, de forma que o leitor compreenda. São tantos delegados da ONU, então deve-se escolher dois para caber no helicóptero, assim como o plot twist duplo de planejamento, que torna Shang Chi estupefato e cego para a capacidade do pai surpreendê-lo, mesmo com sua calma e inteligência de resolver problemas insolúveis sem agressividade. Isso, essa forma que Doug transforma Shang Chi um personagem por vezes passivo, mesmo quando é extremamente ativo, é uma característica dramática de um herói que está sempre aprendendo e é recorrente em finais que quebram a expectativa de leitores da Marvel, mesmo acostumados com as HQs do Homem-Aranha. Sem dúvida é uma história empolgante e com um final que o próprio Mestre do Kung Fu admite ter ficado cego para as artimanhas de Fu Manchu.

Deadly Hands of Kung Fu: Special Album Edition (EUA, junho de 1974)
No Brasil:
Kung Fu n°22 (Bloch, 1977)
Roteiro: Doug Moench
Arte: Mike Vosburg
Arte-final: Dan Adkins
Letras: Jim Novak
Editoria: Tony Isabella
11 páginas

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A Trama das Víboras Sangrentas

Web of Bleeding Vipers

Todos nós sabemos que a paz de espírito não é algo exatamente fácil de se encontrar. Nesta história escrita por Doug Moench, uma reflexão sobre esse assunto abre o enredo, colocando Shang-Chi em uma posição de questionamentos sobre a paz interior e as perturbações que o mundo exterior constantemente nos traz. É então que ele ouve passos e, ao se deparar com uma perseguição, tenta ajudar uma garota, Linda Fong, que está sendo perseguida por bandidos. Ela está em fuga de um indivíduo chamado Adder (na verdade, Robert Fong), que é quem está por trás do tráfico de drogas em Chinatown e no Harlem. O primeiro embate de Shang-Chi com os capangas desse bandido não é lá nada interessante e o mesmo se dá com as lutas que surgem depois, no covil do tal “Víbora”, mas a curiosidade é quem move a leitura como um todo.

Depois do grande enfrentamento no covil do bandido, Shang-Chi consegue libertar Linda de seus perseguidores (o “Víbora” é morto no processo), e aí surge a revelação melosa e nada inspirada no meio do enredo, com a garota lamentando, dizendo que Shang-Chi “não entendia nada“, porque “não sabe o que é ter um pai vilão“. Um flerte metalinguístico pobre dentro de uma história que começou bem, mas que foi encaminhada de maneira bem rasteira. Ao menos a arte é interessante.

Deadly Hands of Kung Fu #3 (EUA, agosto de 1974)
No Brasil:
Kung Fu n°3 (Ebal, 1974)
Roteiro: Doug Moench
Arte: Paul Gulacy
Arte-final: Al Milgrom
Letras: Charlotte Jetter
Editoria: Tony Isabella
15 páginas

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