Home TVEpisódio Crítica | Doctor Who – 6X12: Closing Time

Crítica | Doctor Who – 6X12: Closing Time

O retorno de Craig Owens.

por Rafael Lima
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Em minhas resenhas anteriores da era do 11º Doutor, apontei como o Showrunner Steven Moffat parece muitas vezes encarar o protagonista como essa figura fabular, que entra na vida de pessoas normais, e através de desafios extraordinários, inspira essas pessoas a encontrar a coragem e a força para enfrentar os desafios da vida mundana, aprendendo a valorizar o que realmente importa. A jornada de Amy Pond na quinta temporada, por exemplo, foi em muitos aspectos, sobre encarar o amadurecimento da vida adulta, simbolizado pelo casamento. Mas talvez os episódios mais ilustrativos nesse ponto sejam aqueles estrelados por Craig Owens, o perfeito arquétipo do homem médio, cujas histórias são muito mais sobre os desafios do dia-dia do que sobre ameaças alienígenas.

Na trama, descobrimos que Craig Owens, visto pela última vez no episódio The Lodger, casou-se com a sua namorada Sophie, e agora tem um filho de alguns meses de idade chamado Alfie, com quem é deixado sozinho pela primeira vez quando a sua esposa sai em uma importante viagem de trabalho. A situação de Craig se torna ainda mais caótica quando o seu antigo inquilino, o 11º Doutor, aparece em sua porta para fazer uma visita social. Mas essa simples reunião de amigos pode tomar outros rumos quando o Time Lord passa a desconfiar que alguns velhos inimigos possam estar por perto.

Escrito por Gareth Roberts, que também escreveu o citado The Lodger, The Closing Time foi um bem-vindo respiro na temporada após os episódios mais sombrios que o antecederam. Como dito anteriormente, o foco do roteiro de Roberts está nas situações do cotidiano de um homem que está aprendendo a ser pai, e se questionando se realmente leva jeito para isso. Esse não foi um tema novo nessa 6ª temporada da série, já tendo sido abordado em Night Terrors, mas este episódio aborda a questão de uma forma muito mais direta e pungente, mesmo porque Craig é um personagem simpático, com quem já temos alguma intimidade. A habilidade do Doutor de falar a língua dos bebês, apresentada em A Good Man Goes To War, é usada aqui ironicamente para ilustrar a falta de entendimento de Craig em relação ao seu filho até de forma cômica, vide o Time Lord traduzindo que o bebê se recusa a usar o nome que o seu pai lhe deu, ou referindo-se a Craig simplesmente como Não Mamãe.

É interessante observar como o episódio funciona como uma sequência natural de The Lodger, que também girava em torno das inseguranças de Craig; com a primeira história sendo sobre a dificuldade do personagem em se relacionar romanticamente, e está sobre os temores que vem com a formação de uma família. O roteiro é inteligente ao tratar os aspectos mais excêntricos da história quase com descaso, o que contribui muito para a comédia. Dessa forma, Roberts consegue fazer algumas ótimas piadas rápidas e referenciais sobre a série, como a envolvendo um cãozinho robô, ou o crachá escrito Doutor, só para o caso de o protagonista esquecer quem é. Por outro lado, aspectos mais mundanos são tratados de forma menos ligeira, vide o ótimo momento em que o Craig e o Time Lord são confundidos com um casal. Claro, nem tudo são flores no roteiro. A participação dos Cybermen como vilões é bastante fraca. Eu posso entender que essa é uma aventura mais leve, e que até exige uma abordagem mais sentimental, e porque não, piegas, mas a forma como o velho recurso do poder do amor surge aqui no clímax, quando Craig resiste a ciber conversão me soa um movimento bastante preguiçoso por parte do texto, mas que felizmente, é sustentado pelo trabalho dos atores em cena.

Uma grande parte da responsabilidade desse episódio funcionar tão bem é a grande química de cena e o timing cômico de Matt Smith e James Corden. Com Smith representando a excentricidade inconsciente do Décimo Primeiro Doutor e Corden cuidando da constante exasperação com o absurdo de Craig, a dupla é uma alegria de se ver em tela, onde cada troca entre eles gera um enorme sorriso no rosto do espectador. Além disso, os dois atores conseguem transmitir um forte senso de companheirismo entre os seus personagens, deixando claro que a amizade entre eles é tão forte quanto improvável.

A direção deste episódio ficou a cargo de Steve Hughes em seu único trabalho para Doctor Who até o momento (2024), em um trabalho que não chama muito a atenção. Não há nada de errado na condução da história, que permite que seus atores brilhem através dos bons diálogos entregues pelo roteiro. Mas quando comparado, por exemplo, com The Lodger, da temporada anterior, que tinha proposta semelhante, falta um pouco do dinamismo da decupagem e da montagem mais inventiva para aproveitar o potencial máximo das situações que são apresentadas.

Closing Time é um episódio divertido, que convida o público para uma trama leve e boba, mas que através da comédia, apresenta situações com as quais muitos podem se identificar. Além disso, após uma sequência de episódios explorando o lado mais sombrio do Doutor, e as consequências danosas que ele pode trazer para aqueles à sua volta, é bom ver uma história que traga o lado mais positivo da presença do Time Lord, e que se foca mais no impacto micro que ele tem na vida das pessoas do que em suas ações grandiosas. O episódio se fecha de forma igualmente competente, fazendo uma transição suave, mas inequívoca, para o tom mais fúnebre da trama central da temporada, ao colocar o 11º Doutor e sua assassina em direção ao seu destino no Lago Silêncio para a Season Finale.

Doctor Who – 6X12: Closing Time (Reino Unido, 24 de Setembro de 2011)
Direção: Steve Hughes
Roteiro: Gareth Roberts
Elenco: Matt Smith, Karen Gillan, Arthur Darvill, James Corden, Daisy Haggard, Alex Kingston, Frances Barber, Seroca Davis, Holli Dempsey, Chris Obi, Lynda Baron
Duração: 46 Minutos

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