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Crítica | Doctor Who: The Glorious Dead (Doctor Who Magazine #272 a 299)

por Rafael Lima
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Lançada pela Panini Comics em 2006, a coletânea The Glorious Dead reuniu uma série de arcos e One Shots da série mensal do 8º Doutor na Doctor Who Magazine no fim dos anos 90, além de algumas histórias bônus. Seguem pequenas ressenhas das histórias presentes neste compilado da Panini (britânica) na ordem em que foram postas na revista.

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The Fallen

O arco inicial é quase uma Season Premiere ao apresentar elementos que seriam reutilizados posteriormente, além de recordar como se deu a parceria entre o 8º Doutor e sua  Companion, a geek Izzy Sinclair. A trama também é uma sequência do telefilme do 8º Doutor ao trazer Grace de volta e lidar com consequências daquela história. O Plot, onde o comentário do Doutor á Grace em seu primeiro encontro sobre ela ter um futuro grandioso influencia a cirurgiã a buscar tal futuro, realizando  perigosas experiências com o DNA do Mestre obtido em São Francisco, é instigante, pois lembra ao Time Lord que suas palavras podem ter consequências desastrosas. O roteiro de Scott Gray e a arte de Martin Geraghty e Robin Smith são competentes, mas sem  destaque.

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Unnatural Born Killers

Esta One-Shot nos apresenta Kroton, um Cyberman com consciência e (algumas) emoções, que  vive isolado em um planeta humilde e tecnologicamente pouco avançado. Lembrando tramas Western onde um pistoleiro aposentado volta a pegar em armas para defender inocentes, o roteiro de Adrian Salmon (que também ilustra  a história) traz Kroton protegendo um povoado de um grupo de Sontarans que chega para colonizá-lo. É um plot direto, que nos faz simpatizar com o protagonista, cujo humor seco o torna um anti-herói muito carismático. A arte é boa em transmitir a ação exigida, mas é feia, especialmente em seu retrato dos Sontarans que surgem quase irreconhecíveis.

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The Road To Hell

No melhor arco da coletânea, o Doutor e Izzy chegam ao Japão no período do Shogunato, e se envolvem em uma guerra entre clãs samurais; mas um dos lados parece contar com a ajuda de poderes místicos. O roteiro de Gray é excelente em explorar diferentes aspectos da cultura japonesa, desde o código de honra dos samurais, até o trauma da bomba atômica. Esta é uma ótima história para Izzy, onde a inusitada amizade da moça com Sato, um samurai vingativo, que pretende cometer Seppuko (suicídio) após concluir a sua vingança guarda os melhores momentos do arco. Os Gaijins (estrangeiro em japonês), alienígenas que querem entender o conceito de honra, e que fornecem a “magia” utilizada pela vilã Asami se articulam bem com os temas da narrativa.

A conclusão, onde o Doutor no impulso de salvar uma vida, impõe á alguém a imortalidade me remeteu diretamente ao episódio The Girl Who Died, e assim como no episódio televisivo, tal decisão voltaria para assombrar o Time Lord. A arte de Geraghty e Smith, que  ganha o reforço de Fareed Choudhury é digna de elogios, não só pelo dinamismo das cenas de combate samurai, mas pela forma com que se solta nas passagens mais surreais, como aquela onde Asami vê o futuro do Japão na mente de Izzy.

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The Company Of Thieves

Este arco serve só para inserir Kroton no time da TARDIS. A TARDIS se materializa em um cargueiro espacial, atacado por piratas. Kroton está a bordo depois de entrar de forma clandestina no cargueiro e, após um desentendimento inicial, o trio se une para lutar contra os piratas. Enfim, Gray traz uma trama sem sal, que vale só pela cena final, mostrando a reação de Kroton ao interior da TARDIS, que conquista de vez a confiança do 8º Doutor no “Nice Cyberman”.

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The Glorious Dead

O arco começa com a chegada da TARDIS a Paradost, um planeta-museu, cujos cristais mnemônicos permitem que lembranças sejam armazenadas e vistas. Quando Paradost é atacado pelas forças do Cardeal Morningstar, um fanático do planeta Dhakan que prega que a vida é uma ilusão, o Doutor e seus Companions traçam um plano para proteger o planeta. Entretanto, o Time Lord descobre que as apostas são maiores do que imaginou, ao se deparar com um velho inimigo.

O conceito dos cristais Mnemônicos apresentados por Gray é usado para desenvolver os Companions, especialmente Kroton, que teme usá-los por medo das emoções que podem despertar nele. Os Monges de Dhakan surgem como vilões assustadores ao incinerarem os seus corpos para ressurgirem como os Ash Wraiths, lembrando terroristas suicidas. Algumas edições chamam a atenção por assumir um tipo particular de narrativa ou arte, como aquela em que de forma delirante, o Doutor visita uma série de realidades alternativas. O legal é que cada realidade tem um tipo de arte, com destaque para a hilária passagem onde vemos um confronto entre o Doutor e a Rani versão Peanuts. A revelação do Mestre como o vilão da trama não chega a ser uma surpresa, devido a sua aparição no fim de The Fallen, mas eu esperava que ele fosse o rosto por trás da mascara de Morningstar. Por isso, fiquei positivamente surpreso quando o  mascarado foi revelado como Sato, o samurai tornado imortal em The Road To Hell, que corrompido pelo Mestre, volta para se vingar.

O roteiro de Gray mantém um bom ritmo ao longo das dez edições, embora se perca um pouco em uma reviravolta batida envolvendo o planeta Dhakan. Por outro lado, o twist envolvendo o duelo do Doutor e do Mestre pela poderosa fonte de energia conhecida como A Glória, é muito bem montado. É só uma pena que Kroton se despeça neste arco, tendo ficado tão pouco tempo na TARDIS, pois queria mais desse Cyberman humanizado. Por fim, a arte de Geraghty e Roger Langridge tem seus momentos de brilho, e proporcionam a escala grandiosa sugerida pelo texto.

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The Autonomy Bug

Após um arco ambicioso, Gray traz uma trama descompromissada, onde atendendo ao pedido de um amigo, o 8º Doutor e Izzy visitam a Clínica Blueberry, comandada pela Dra. Hastoff, local para onde são enviados robôs com “erros graves de programação”.  Ao investigarem, o Doutor e Izzy logo descobrem que Hastoff submete os robôs que desenvolvem algum tipo de pensamento próprio a um processo de lobotomia eletrônica, que como consequência, transforma-os em máquinas assassinas irracionais. Inspirado em Um Estranho No Ninho, o arco traz uma inversão curiosa das tramas de A.Is que adquirem consciência, ao vê-las sob um olhar positivo. Há uma aura fabulesca na história presente também na arte de Roger Langridge, com seus traços quase cartunescos. Em resumo, um conto singelo sobre aceitação das diferenças e da individualidade.

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Happy Deathday

Nesta One Shot comemorativa dos 35 anos da série, o Guardião Bege (segundo o próprio, não havia mais cores legais) sequestra as oito primeiras encarnações do Doutor no intuito de destruí-los… e se provar para os outros Guardiões. Dividindo os Doutores em quatro duplas, o Guardião Bege os coloca em desafios mortais, mas as coisas não saem bem como planejado, especialmente com os Doutores sentindo-se incomodados com algo que não é o Guardião. Este divertido especial escrito por Scott Gray apela especialmente para o nonsense, o que mais uma vez é acompanhado pela arte de Roger Langridge, exagerando as características físicas de todos os Doutores. O grande destaque é a hilariante conversa entre o 4º e o Doutores sobre as alergias alimentares que adquirem a cada regeneração, com o 4º desolado em saber que ira se tornar alérgico a páprica. A reviravolta final, onde descobrimos tratar-se de um multi-doctor fake, pois toda a história é um videogame jogado por Izzy (algo deduzido pelos Doutores) fecha de forma acertadamente surreal esta divertida One Shot.

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TV Action!

Esta One Shot curiosamente é baseada em um roteiro não produzido da televisão, que veria o 4º Doutor chegando aos estúdios da BBC em “nosso mundo”, onde sua vida é uma série de TV, inclusive se encontrando com Tom Baker. O roteiro de Alan Barnes substitui o 4º Doutor pelo 8º, que vem ao “nosso mundo” ao lado de Izzy enquanto persegue o terrorista espacial Beep O Meep. Barnes, entretanto, mantém Baker na história, que vestido como o 4º Doutor, acaba salvando o dia ao lado de Izzy e resgatando o Doutor e todos os funcionários da BBC de Beep. É uma história cheia de referências, mas que acaba não sendo tão divertida quanto a premissa prometia. A arte fica a cargo de Langridge, que repete o traço cartunesco das histórias anteriores, ainda que de forma mais sutil.

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Throwback: The Soul Of a Cyberman

Doctor Who Weekly – Edições 5 a 7. Escrito por Steve Moore e desenhada por Steve Dillon, este arco publicado no fim dos anos 70 na Doctor Who Magazine traz a primeira aparição de Kroton (e por isso ao meu ver, deveria ter sido posto mais cedo na coletânea). Aqui, vemos como o Cyberman participa de um ataque para eliminar os focos de resistência no planeta Mondaran, e aos poucos passa a questionar a própria programação ao começar a observar algumas ações dos humanos, como o ato de se sacrificar por alguém, ou de trair a própria espécie. A história não dá pistas lógicas do por que Kroton estaria se voltando contra a sua programação, mas isso não faz falta alguma, porque esse não é o ponto aqui. O roteiro de Moore tem ambições mais filosóficas, onde um ser preso entre a emoção e a lógica questiona livre arbítrio, autopreservação e altruísmo, e acaba abraçando a beleza da incerteza, voltando-se assim contra a própria espécie. A arte de Steve Dillon é simples, mas muito bonita, e dá ao arco o tom contemplativo e melancólico exigido.

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Ship Of Fools

DWM 23 e 24. A coletânea se encerra com mais uma história solo de Kroton, tendo mais uma vez roteiro de Steve Moore e arte de Steve Dillon. Neste arco, após passar anos vagando sozinho no espaço depois de ter ajudado os nativos de Mondaran a escapar, a nave de Kroton cai em uma fenda temporal, se chocando com o cruzeiro Holandes Voador II. O cruzeiro está preso em um vácuo temporal, motivo pelo qual todos os relógios pararam, e os passageiros não sentem fome. Trata-se de uma trama de mistério bem conduzida, muito menos contemplativa que a história anterior de Kroton, mas que ainda vale a leitura. O desfecho, que vale-se de trágica ironia, reforça a natureza de herói maldito do Kroton, já que a tentativa do Cyberman de salvar os passageiros acaba tendo desdobramentos desastrosos. A arte de Dillon é competente em transmitir o mistério e o suspense sugerido pelo roteiro, utilizando bem as sombras para transmitir as emoções do rosto impassível do protagonista.

A coletânea The Glorious Dead vale a leitura. Ela traz uma boa série de aventuras que desenvolvem de forma competente a relação entre o 8º Doutor e sua Companion Izzy, além de apresentar uma série de ideias bem interessantes, com destaque para Kroton, o Cyberman do bem. A arte também é muito bonita e funcional, na maior parte das histórias, transitando entre desenhos mais realistas e cartunescos, de acordo com o que os roteiros pedem. Em resumo, uma ótima contribuição da Panini para a longa era do Doutor de Paul McGann.

Doctor Who: The Glorious Dead (Reino Unido, 02 de Outubro de 2006).
Publicação Original: Doctor Who Weekly 05 a 07 + 23 e 24 e Doctor Who Magazine 272 a 299
Roteiros: Scott Gray, Adrian Salmon, Alan Barnes, Steve Moore
Arte: Martin Geraghty, Robin Smith, Adrian Salmon, Fareed Choudhury, Roger Langridge, Steve Dillon
244 Páginas.

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