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Crítica | Dreadstar Returns

por Luiz Santiago
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Depois de muitos anos espera e até de um acidente com a mão direita de Jim Starlin, que o impossibilitou de desenhar por um considerável período de tempo, Dreadstar está de volta! A one-shot Dreadstar Returns (2021) foi possibilitada através de um financiamento coletivo no Kickstarter, e com essa história o autor abre as portas para ele ou outros artistas darem continuidade à saga desse fantástico personagem, aqui acompanhado principalmente de Willow 327, Oedi, Tueton, Fixx e Sergey 376. Trata-se de uma legítima história de reencontro de antigos parceiros para uma nova jornada contra um inimigo que a todos ameaça.

Ainda no processo de criação da HQ, um certo personagem chamou a atenção da mídia, o antagonista Plunddo Tram, que Starlin deixou claro desde o início tratar-se de uma sátira ao presidente Donald Trump, inclusive na forma nojenta e doentia como o tal rei se comporta. O bom disso é que não falamos aqui de uma alfinetada política por ela mesma. Essa cena inicial, com o desprezível governante, coloca Vanth Dreadstar em cena e de maneira claramente irônica estabelece um golpe de Estado, onde o herói destitui Plunddo de seu trono, deixando o planeta sob observação do Willow Consortium, inteligência artificial que substituiu a Instrumentalidade.

O debate inicialmente proposto pelo autor tem uma grande importância contextual. Mesmo com tudo o que se passou na Galáxia Empírica e todo o preparativo cheio de massacres de proporções assustadoras vistos nas aventuras Odisseia da Metamorfose (1980), O Preço (1981) e Uma Saga Cósmica (1982), esse Universo ainda enfrenta uma porção de problemas de ordem política, algo que Dreadstar segue tentando remediar com a mesma moeda: através da força. Anos atrás, quando conheci o personagem, entrei em um debate onde comparavam a linha política desse personagem com a de John Difool e Cia. em O Incal, e eu consigo ver semelhanças aí, mas acredito que na obra de Jim Starlin o elemento social e tecnológico está em maior evidência, enquanto a parte fantasiosa/sobrenatural é colocada apenas como uma camada auxiliadora.

Notem que muitas das preocupações do time que aqui se reúne é burocrática, olhando para aquilo que conquistaram e tentando entender e eliminar a nova ameaça. Vanth acaba sendo chamado até o planeta onde Willow está, e a partir desse ponto o texto se assemelha bastante ao que conhecíamos do personagem antes. Melhor ainda: a diagramação e a arte também ganham uma nova cara, uma nova riqueza, também assemelhando-se a muito do que vimos de Dreadstar em aventuras do passado. Confesso que me causou uma certa estranheza o trabalho artístico do início, mas consegui reconhecer a arte de Jim Starlin na segunda metade da graphic novel — e vale também destacar o nível de detalhes que a finalização de Jaime Jameson expôs nesse momento da HQ.

Conhecendo o autor, não era possível esperar uma aventura que entregasse tudo o que fosse possível de uma vez só. A bem da verdade, Dreadstar Returns concentra um nível alto de recriação de problemáticas, e isso é algo aplaudível. Mesmo a simplicidade com que o problema inicial é tratado, ao fim, tem uma grande força, por estar aliado a eventos e pessoas do passado da série, um passado que Starlin referencia, homenageia, mas se recusa a fazer-se refém dele. Uma melhor interação entre a primeira e a segunda parte da história poderia trazer maiores benefícios para o volume como um todo, mas o que temos nessa edição é um retorno que faz jus ao personagem e agora só me resta rogar ao Universo para que o Mestre Starlin viva ainda por muitos e muitos anos e dê continuidade ao ciclo que aqui se reinicia.

Dreadstar Returns (EUA, 2021)
Roteiro: Jim Starlin
Arte: Jim Starlin
Arte-final: Jaime Jameson
Cores: Jim Starlin
Letras: Dave Lanphear
Editora original: Ominous Press
100 páginas

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