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Crítica | Elio (2025)

Para além deste mundo.

por Felipe Oliveira
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Nos últimos anos, desde o fabuloso Coco: A Vida é Uma Festa, que a Pixar não consegue emplacar tão bem nas bilheterias com longas originais. Com 29 filmes já lançados, a receptividade se mostra mais favorável quando o assunto são as famigeradas sequências, e embora o efeito não seja o mesmo que em Coco, se olharmos para Luca, Turning Red e Elio, há uma trilogia distinta no estúdio da luminária que se entrelaça pela familiaridade do tema: o comig of age. De maneira diferente, as três produções lidam sobre o amadurecimento conforme a particularidade dos seus personagens, e isso é o que pontua a Pixar pelo seu estilo característico de contar histórias. Se bem que a reação é como se o estúdio estivesse com mais cara da Disney – mais magia, e menos valor emocional, verdadeiro – ainda há de se louvar quanto ao estúdio que conhecemos por suas animações sinceras.

Se Red: Crescer é uma Fera traçou uma alegoria sobre a transformação do corpo, Elio compartilha semelhanças com Luca ao dialogar sobre pertencimento num prisma de fuga de realidade ao termos um protagonista que se sente solitário e deslocado e deseja ser abduzido por alienígenas. Diferente de Soul, a animação do menino-peixe e do panda vermelho, que versavam sobre fisicalidade e ancestralidade, Elio busca olhar para o lado mais melancólico do seu protagonista para atingir a nota emocional de que ela precisa. Tal escolha aponta outra nova aposta da Pixar em tornar suas animações mais íntimas e próximas de uma representatividade que toque em temas contemporâneos de forma que não fique tão escancarada – como, por exemplo, os sintomas da masculinidade tóxica sendo discutida através da relação entre um pai e seu filho aliens, o que é representado na caracterização da armadura do “antagonista”.

Certo de que há aquele velho reconhecimento de que a história é familiar pela narrativa convencional de conflitos e resoluções, porém, o que faz a aventura em Elio ser agradavelmente assustadora é por trazer um tema delicado para o centro e por se inspirar em clássicos do terror e ficção científica para tornar a animação mais criativa – o que por pouco, teríamos uma das produções mais sombrias da Pixar. Ao contrário de apresentar uma alegoria que melhor representasse o estado emocional do seu personagem-título, o trio de diretores – que também idealizaram a trama – contrasta a tristeza, luto, falta de conexão e não-pertencimento de Elio com as cores e visual inventivo do chamado Comuniverso. Mesmo não tendo o tratamento de que conhecemos em termos de construção narrativa ao aprofundar os temas que propõe, há o que ainda faz de Elio uma aventura divertida.

Porém, esse destaque visual termina ficando na linha de demonstração, uma vez que essa não é a prioridade da animação, e sim em investir no que dá ritmo à história. O ponto é que Elio segue pelo caminho mais fácil ao querer ser comovente, apelando para uma fórmula esperada nas relações dos personagens. Talvez não temos uma cena com o mesmo nível emocional da abertura de Up – Altas Aventuras a qual definiu o tom do longa, por exemplos, mas há pequenos vislumbres que nos fazem criar empatia pela busca de reconhecimento e lugar no mundo do protagonista, como quando ele se envolve em situações embaraçosas para não ser mandado de volta para a Terra: ao mesmo tempo que as atitudes partem do desespero, o Comuniverso funciona dentro da perspectiva infantil, de como Elio enxerga aquele mundo, e assim é feita a fantasia de possibilidades.

E por falar em visuais, é um tanto interessante observar como as referências e inspirações com a ficção e terror se contentam em ser sutis, mas, ainda assim, servem para ilustrar como a animação transita por vários gêneros. Se as cenas de acampamento flertam com o horror e visual genérico de alienígenas, há o que salientar sobre como o cinema de Spielberg influencia a trajetória de Elio, seja nas semelhanças com E.T.: O Extraterrestre ou Contatos de Imediato do Terceiro Grau – ao seguir uma premissa inversa com o humano buscando contato – ao termos uma criança que lida com a perda e a solidão, acreditando que não tem mais presente as pessoas que o compreendiam. Nesse contexto, o roteiro traça um paralelo da relação de Elio e a tia Olga com Glordon e seu pai Lord Grigon (dois aliens com aparência de lesmas) como dois adultos que se preocupam com os dilemas da responsabilidade, enquanto as crianças têm outra visão de mundo: da infância, do afeto, de serem vistos por aquilo que são.

Ainda que Elio não tenha o mesmo efeito de ser emocionalmente memorável e criativo como Coco, ou Divertida Mente, é possível perceber que o estúdio está investindo em outra abordagem para os filmes originais e deixando a carga humana e verdadeira ao representar sentimentos para as sequências, e prezando por um olhar otimista na sua fase atual. Não que isso signifique uma mudança radical, mas uma forma de se inspirar em outras histórias e narrativas e incrementar ao seu estilo, isto é, o que a Pixar faria com uma trama alienígena? Ou sobre as mudanças físicas que acompanham a transição para a vida adulta? O estúdio da luminária continua sendo o mesmo, um pouco mais simples, mas ainda emocional.

Elio (Elio – EUA, 2025)
Direção: Adrian Molina, Madeline Sharafian, Domee Shi
Roteiro: Julia Cho, Mark Hammer, Mike Jones
Elenco: Yonas Kibreab, Zoe Saldaña, Remy Edgerly, Brad Garrett, Jameela Jamil, Young Dylan, Bradon Moon, Jake Getman, Matthias Schweighöfer, Ana de la Reguera, Atsuko Okatsuka, Shirley Henderson, Naomi Watanabe, Brendan Hunt, Anissa Borrego, Shelby Young, Bob Peterson, Kate Mulgrew, Tamara Tunie
Duração: 99 min

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