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Crítica | Eu Sei O Que Vocês Fizeram No Verão Passado (Edição Comentada por Jim Gillespie)

Em edição comentada pelo diretor e seu editor, clássico moderno slasher dos anos 1990 é apresentado em seu processo de composição.

por Leonardo Campos
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No lançamento em mídia física para Eu Sei O Que Vocês Fizeram no Verão Passado, o diretor Jim Gillespie e o editor Steve Mirkovich foram convidados para entregar ao público uma versão comentada da eletrizante narrativa que fez bastante sucesso e acabou se tornando uma franquia futuramente, com continuação direta agendada para 2025. A faixa comentada do filme oferece algumas interpretações interessantes, embora a baixa qualidade sonora exija que o espectador aumente o volume para ouvir as observações dos participantes, que falam de forma suave. O filme, que tenta se apresentar como um policial, falha em proporcionar pistas que permitam adivinhar a identidade do assassino, mesmo para aqueles que conhecem o livro. Escrito por Kevin Williamson, conhecido também por Pânico, o longa apresenta alterações significativas na trama do livro, especialmente em relação à revelação do criminoso. A tentativa de mesclar sustos e uma narrativa mais elaborada não atinge o efetivo, resultando em cenas que, embora algumas sejam boas, muitas vezes caem no delicioso genérico que amamos, com os personagens se embrenhando em situações sem saída repetidamente.

Os realizadores expõem o DVD se destaca por sua transferência anamórfica de qualidade, sendo a cinematografia o ponto forte do filme, resultado do trabalho do diretor Jim Gillespie e do diretor de fotografia Denis Crossan, que demonstram influências do estilo de John Carpenter. Embora a impressão tenha um leve aspecto sujo e um realce nas bordas, isso não compromete a experiência visual. A mixagem Dolby Digital 5.1 é eficaz, mas poderia ter explorado melhor os canais traseiros. A cena inicial do helicóptero, com seus impressionantes efeitos panorâmicos e uma boa captura do som das ondas, exemplifica a qualidade sonora do filme, onde os níveis de graves são fortes, mas sem exageros, e os diálogos permanecem claros ao longo da obra.  Lançado em 1997, é um slasher baseado no romance homônimo de Lois Duncan, publicado em 1973. A história gira em torno de quatro jovens amigos que se tornam alvos de um assassino portando um gancho, um ano após encobrirem um acidente de carro que resultou na morte de um homem. Em seu desenvolvimento, a trama se inspira também na lenda urbana do Homem do Gancho, adicionando uma camada de terror à narrativa.

Kevin Williamson, como já mencionado, havia escrito Pânico no ano anterior, e então, foi convidado pelo produtor Erik Feig para adaptar o romance homônimo, reformulando a história para se encaixar nos moldes dos filmes slasher populares da década de 1980, ao contrário do tom satírico da saga de Ghostface. Além de questões de contexto e de estética, a faixa comentada mergulha nos bastidores, expondo que as filmagens ocorreram na Califórnia e na Carolina do Norte durante a primavera de 1997. Embora o filme tenha recebido críticas mistas, ele obteve um sucesso comercial significativo, arrecadando US$125 milhões em todo o mundo contra um orçamento de apenas US$17 milhões, mantendo-se em primeiro lugar nas bilheteiras dos EUA por três semanas consecutivas. Adicionalmente, Eu Sei O Que Vocês Fizeram No Verão Passado foi reconhecido em diversas premiações, conquistando prêmios e indicações, específicas do universo das narrativas de terror, algo que reforça seu impacto e popularidade no cenário do cinema de terror da época.

O roteiro de foi escrito por Kevin Williamson vários anos antes da produção, sendo posteriormente levado à tela pela Columbia Pictures. O produtor Erik Feig inicialmente propôs a ideia de adaptação à Mandalay Entertainment e, em seguida, escolheu o dramaturgo para reestruturar os elementos centrais do romance de Lois Duncan, de modo a aproximá-lo do também já mencionado estilo típico dos filmes slasher dos anos 1980. Inspirado por seu pai, que era pescador comercial, Williamson alterou o cenário do livro para uma pequena vila de pescadores e transformou o vilão em um assassino usando um gancho, o que se tornou um ícone do filme. O assassino está diretamente ligado à lenda urbana do Homem do Gancho, que os protagonistas discutem em uma conversa ao redor de uma fogueira no início da trama, estabelecendo uma conexão com o medo e a tradição oral.

O cineasta Jim Gillespie expressou sua alegria ao trabalhar no filme, enfatizando a intenção de utilizar elementos familiares do gênero e, ao mesmo tempo, surpreender o público. Ele buscou fazer com que a audiência reconhecesse as convenções típicas do terror, enquanto os fazia saltar em momentos de tensão. Gillespie também comenta que, embora o roteiro de Williamson tenha sido rotulado como um “filme slasher básico, mas eficiente”, ele via a obra mais como “uma história realmente boa”, ressaltando um fundo moral na narrativa. Essa abordagem permitiu ao filme se destacar não apenas como uma exploração do terror, mas como uma reflexão sobre as escolhas e consequências que os personagens enfrentam ao longo do reinado de horror do vingativo Ben Willis.  O diretor conta foi convidado para dirigir após uma recomendação do roteirista. As filmagens principais começaram em 31 de março de 1997 e se estenderam por dez semanas, durante a transição entre a primavera e o verão daquele ano.

Aproximadamente sete das dez semanas de gravações foram realizadas à noite, uma condição que Gillespie considerou desafiadora tanto para o elenco quanto para a equipe. Essa escolha de horário também gerou agitação nas pequenas cidades onde as filmagens ocorriam, especialmente devido ao envolvimento de jovens atores que já gozavam de grande popularidade na televisão e no cinema. Para criar a estética visual do filme, Gillespie solicitou ao diretor de fotografia Denis Crossan que estabelecesse um esquema de cores predominante em tons de azul, evitando cores brilhantes. Embora a história se passe na Carolina do Norte, algumas das filmagens iniciais ocorreram nas áreas costeiras do Condado de Sonoma, na Califórnia. Cenas como o pôr-do-sol em uma costa acidentada foram filmadas em Kolmer Gulch, ao norte de Jenner, na Pacific Coast Highway, e a cena do acidente de carro foi gravada na mesma localidade. Uma das sequências icônicas, onde os quatro amigos se reúnem em volta de uma fogueira ao lado de um barco naufragado, foi inspirada por uma pintura que Gillespie viu em um livro de referência; para a filmagem, o departamento de arte comprou um barco velho em Bodega Bay, cortou-o ao meio e o colocou na praia para alcançar a imagem desejada.

As filmagens das cenas restantes de um filme ocorreram principalmente em Southport, Carolina do Norte, destacando os desafios enfrentados durante a sequência final do barco. Essa parte foi filmada no Rio Cape Fear, onde a equipe e os atores enfrentaram dificuldades devido às águas voláteis, quase perdendo o barco ao tentar atracar. Após esse contratempo, decidiram filmar outras cenas até o dia seguinte. O diretor fez a escolha consciente de evitar a representação explícita de sangue para não tornar o filme excessivamente violento. Um exemplo disso foi a cena em que Elsa corta a garganta de um personagem, filmada de forma a não mostrar sangue visível no vidro. No entanto, após preocupações do produtor Feig sobre a credibilidade da cena, Gillespie optou por adicionar um efeito visual de sangue durante a filmagem posterior. Além disso, durante as sessões de testes do filme, uma decisão importante foi tomada em relação à construção da narrativa; foi decidido incluir uma sequência inicial de mortes para aumentar a sensação de perigo entre os personagens principais.

Assim, a cena do assassinato de Max na fábrica de caranguejos foi filmada e incorporada ao corte final do filme, embora originalmente seu personagem não tivesse esse destino. O final do filme também passou por mudanças significativas; o planejamento inicial previa que Julie recebesse um e-mail com a mensagem “Eu ainda sei”, mas essa ideia foi substituída por uma conclusão mais dramática e impactante, onde Julie encontra a mesma mensagem rabiscada em um chuveiro, pouco antes do aparecimento do assassino. Essa mudança visou criar um clímax mais intenso e envolvente para a história. Dentre outros comentários, o diretor e o editor delineiam que a trilha sonora do filme foi um aspecto destacado, com duas versões: uma composta por John Debney e outra contendo várias músicas de rock que permeiam a história. Além disso, as estradas utilizadas para a cena do atropelamento e fuga são as mesmas que apareceram no clássico Os Pássaros, de Alfred Hitchcock.

Outra curiosidade envolve a cena em que Jennifer Love Hewitt se esconde em um barco; o gelo utilizado nessa sequência era, na verdade, feito de gelatina, permitindo que a atriz se movimentasse com mais conforto durante as filmagens. A escolha do elenco foi um processo repleto de revezamentos, especialmente para os papéis de Helen e Julie. Jennifer Love Hewitt inicialmente estava escalada para interpretar Helen, enquanto Sarah Michelle Gellar fez audição para Julie. Melissa Joan Hart, que estava em ascensão com seu papel em Sabrina, a Aprendiz de Feiticeira, também foi considerada para o papel de Julie, mas recusou por pensar que o filme era uma versão de Pânico que não faria sucesso. Reese Witherspoon chegou a fazer audições, mas desistiu, recomendando seu namorado, Ryan Phillippe, para o papel de Barry, apesar de o personagem ter uma descrição que contrastava com a aparência dele. O diretor Jim Gillespie, no entanto, acreditava que Freddie Prinze Jr. era a escolha certa para o papel de Ray, caracterizando o “homem comum”. Após muitos testes e esforço, Prinze Jr. finalmente conquistou o papel, demonstrando que “a persistência é fundamental na indústria cinematográfica”, conforme comentários sutis, mas humorados e centrados da dupla comentada para a faixa.

Envolvente, a faixa comentada de Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado traz um amontoado de curiosidades para quem admira o cinema e os seus bastidores. A vítima do atropelamento é um homem adulto, enquanto no livro de Lois Duncan, ele é um garoto de apenas 10 anos, que possui uma ligação com o assassino. Essa alteração significativa na trama reflete o desejo dos cineastas de criar uma atmosfera mais sombria e impactante típica dos filmes slasher. Além disso, o filme inclui referências à cultura pop, como a praia fictícia Dawson’s Beach, uma alusão ao popular seriado Dawson’s Creek, também escrito por Kevin Williamson. Outra diferença marcante entre o livro e o filme, que não interessa para quem compreende que uma produção cinematográfica é uma tradução entre suportes semióticos, mas que aqui, funciona para a nossa curiosidade em torno do que está por detrás das cortinas de uma produção, é o destino dos personagens principais. Enquanto no livro todos eles sobrevivem até o final, o filme opta por manter uma abordagem mais dramática e violenta. A autora Lois Duncan expressou abertamente seu descontentamento com a adaptação, afirmando que detestou a forma como sua obra foi transformada em um slasher, o que destaca a frustração que muitos autores experimentam quando suas histórias são reinterpretadas para novas mídias.

Em suma, uma faixa comentada interessante, que foca bastante em curiosidades, mas também nos fornece uma envolvente aula de linguagem cinematográfica.

Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado (I Know What You Did Last Summer, Estados Unidos – 1997)
Direção: Jim Gillespie
Roteiro: Kevin Williamson
Elenco: Jennifer Love Hewit, Sarah Michelle Gellar, Freddie Prinze Jr., Ryan Philipe, Bridgette Wilson, Anne Heche, Johnny Gakecki
Duração: 101 minutos

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