Publicado em 1973, para quem não sabia, Eu Sei O Que Vocês Fizeram no Verão Passado é uma novela com mais de quatro décadas, mas que possui temáticas ainda muito relevantes, além de ser um material de entretenimento acima da média. A sua relevância se mantém não apenas pela sua narrativa envolvente, mas também pelos temas atemporais que aborda. A história gira em torno de um grupo de amigos que, após um trágico acidente de carro no verão, optam por esconder o ocorrido no intuito de proteger suas vidas e reputações. No entanto, essa escolha rapidamente se transforma em um pesadelo, à medida que o passado começa a cobrar seu preço. Duncan tece uma trama em que o suspense se intensifica, levando os personagens a confrontarem seus próprios demônios e os erros que cometeram. Essa narrativa nos força a refletir sobre a ética das nossas decisões e a inexorabilidade das consequências.
Um dos principais temas do livro, traduzido para o cinema em uma narrativa eletrizante em 1997 é a culpa. Os protagonistas, ao tentarem se esquivar da responsabilidade, acabam se aprisionando em uma espiral de medo. O sentimento de culpa é representado como uma força poderosa que molda suas vidas, levando-os a questionar a moralidade de suas ações e a natureza do caráter humano. Tanto livro quanto o filme nos questionam até que ponto nós estamos dispostos a ir para proteger a nós mesmos, e qual é o custo real desse autoengano? Ademais, as narrativas tocam em questões de amizade e lealdade. À medida que a pressão se intensifica, as relações entre os personagens começam a se deteriorar, nos permitindo refletir sobre a fragilidade das conexões humanas e como segredos podem corroer essas relações. O comportamento dos amigos é um estudo sobre como as crises podem revelar as verdadeiras faces das pessoas. Marcada por um clima de tensão e angústia, a versão para o cinema veio na onda do sucesso de Pânico, em 1996, responsável por revitalizar o subgênero slasher.
E, diante do exposto, o leitor deve se perguntar: por que tal circunferência para chegar ao ponto e analisar o filme em questão, a terceira parte de uma trama que se tornou franquia? A resposta não é difícil: de tão ruim e desnecessária, este que seria o exemplar representante de uma trilogia em desfecho toma de empréstimo alguns elementos que deram certo no primeiro filme, para entregar uma história curiosa, que seria intrigante se melhor desenvolvida, mas que na verdade não faz sentido algum, tal como a versão televisiva de apenas uma temporada, um tedioso ciclo de dez episódios que perde constantemente o seu ritmo ao adentrar por subtramas excessivas e personagens sem carisma. Sendo assim, vamos então ao que este “Eu Sempre Vou Saber” tem para nos oferecer. Sem os protagonistas já conhecidos, que retornaram em seus papeis somente na versão de 2025, seguindo o mesmo que fizeram com outros clássicos e seus personagens-legado, desta vez, nós trafegamos pelas zonas limítrofes entre realidade e alucinação.
Depois do sucesso de 1997 e da sequência que faturou nas bilheterias, mas enfrentou duras críticas, alguns realizadores resolveram ousar com Eu Sempre Vou Saber o Que Vocês Fizeram no Verão Passado, lançado em 2006, dirigido irregularmente por Sylvain White e com roteiro de Michael D. Weiss, responsável por um texto que também não ajuda, só com algum diretor milagroso para fazer a história ter relevância como parte desta franquia. Com uma duração de 92 minutos, a narrativa tenta se aproveitar do sucesso dos filmes anteriores da franquia, mas traça uma narrativa que se desenrola em torno de elementos sobrenaturais. A história destaca a presença de um assassino que realiza mortes sangrentas e realistas, o que contribui para a atmosfera de suspense e terror, mas que, apesar de sua tentativa de seguir a linha dos anteriores, aqui não há razão de ser para a existência de uma trama coesa. Parece um filme realizado por fãs, brincando com o gancho e com a imponência da figura do pescador psicótico.
Em sua estrutura dramática, a figura de Ben Willis se transforma em uma lenda urbana, sendo tratado de maneira ridícula, comparado a um “papai Noel para adolescentes levados”, expressão que li em alguma crítica sem qualquer dose de humor, completamente irritadiça, lá na época de lançamento do filme, desconfio. Em um cenário onde a cidade celebra o Dia da Independência, um grupo de amigos toma uma decisão imprudente: criar uma brincadeira envolvendo uma roupa de pescador e um gancho adquirido no eBay, alegando que faz parte da verdadeira lenda. No entanto, essa ação resulta em uma tragédia quando um dos amigos finge perseguir o filho do xerife, o que desencadeia consequências inesperadas. Um ano depois do incidente, eles começam a receber mensagens misteriosas que revelam que alguém sabe o que realmente aconteceu no verão anterior, trazendo à tona o peso de suas ações e a possibilidade de uma nova ameaça. Daí, nós já sabemos mais ou menos o que será colocado em perspectiva: mortes violentas, uma final girl e as revelações óbvias do desfecho.
Eu Sempre Vou Saber o Que Vocês Fizeram no Verão Passado (I’ll Always Know What You Did Last Summer, Estados Unidos – 2006)
Direção: Sylvain White
Roteiro: Michael D. Weiss
Elenco: Brooke Nevin, David Paetkau, Torrey DeVitto, Ben Easter, Seth Packard, K.C. Clyde, Michael Flynn
Duração: 80 minutos
