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Crítica | Fear the Walking Dead – 6X07: Damage from the Inside

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leia, aqui, as críticas de todos os episódios da série e, aqui, de todo nosso material do universo The Walking Dead.

Pela primeira vez desde que passou a ter 16 episódios lá em seu 3º ano, Fear the Walking Dead terá uma temporada desequilibrada, com sete episódios na primeira parte e nove na segunda. Culpa da pandemia, claro, que forçou a pós-produção a parar o trabalho mais ou menos na metade do 8º episódio. Seja como for, pelo menos Damage from the Inside funciona bem como capítulo de metade de temporada, considerando a revelação sobre o paradeiro da gravidíssima Grace ao final e todas as incertezas sobre os demais personagens.

Mas isso não quer dizer que o episódio é uma maravilha, pois ele está longe, bem longe disso. Ele é, como praticamente todos dessa primeira metade, apenas um trabalho que orbita ali entre as esferas do “mediano” e do “bom”, o que, temos que convir, já é um avanço para a série depois de duas temporadas seguidas cheias de altos e baixos, com saldo final não muito positivo. O episódio volta a focar em Alicia depois de um longo e tenebroso inverno, mais precisamente desde Welcome to the Club em que, ainda por cima, ela foi usada apenas como coadjuvante de luxo em história focada em Strand. E é justamente Strand, já estabelecido em local confortável na hierarquia de “chavinhas” de Virginia, que mais uma vez convoca Alicia para o serviço, mas desta vez deixando a jovem ter destaque sozinha, ou quase sozinha, considerando que ela, agora, é mentora de Charlie, a assassina de seu próprio irmão se é que alguém ainda se lembra disso.

A missão é encontrar Dakota que desaparece de um comboio liderado por Strand que tinha como objetivo levá-la até um esconderijo já que o grande projeto de mundo novo de Virginia começa a fazer água em razão do grupo terrorista que acabou com Tank Town. Por alguma razão qualquer que o roteiro não se preocupa muito em explicar, Strand não pode ir atrás da moça sozinho e precisa da valiosa ajuda de Alicia que, de uma hora para outra, aparentemente tornou-se especialista em achar pessoas perdidas. Tudo bem, dá para fechar os olhos para isso com uma certa tranquilidade, mas que a lógica por trás é furada, ah isso com certeza é. E ela se torna mais furada ainda quando tudo o que Alicia e Charlie precisam fazer é andar em linha reta a partir do ponto em que estava o carro de Dakota para encontrá-la em uma cabana de caça que parece ter sido tirada diretamente de O Massacre da Serra Elétrica, com um morador solitário cujo hobby é criar versões ainda mais bizarras dos desmortos, fundindo-os com galhadas e outras partes de animais para “assustar” eventuais visitantes.

Se por um momento isso parece artifício-galhofa típico de Z Nation, por outro o taxidermista Ed (Raphael Sbarge) faz um esforço enorme para parecer uma ameaça no estilo de seu companheiro de profissão Norman Bates, mas falhando miseravelmente. Todo o mistério ao seu redor, todas as historinhas sobre a família morta por culpa dele, tudo o que ele sabe e teme de Virginia e sua própria presença sem qualquer traço de ameaça não funcionam realmente, inclusive suas atitudes incongruentes que, se de um lado quer proteger Dakota, ao mesmo tempo atrai “suas criações” com música aos berros. O que funciona bem é a ambientação, como mencionei, já que a cabana de caça é um inspirado trabalho da produção que consegue criar incômodo desde os primeiros segundos que vemos seu interior repleto de animais empalhados, com uma fotografia que realça seu aspecto labiríntico cuja arquitetura é difícil de realmente entender. Mas Ed, por seu turno, é só mais um maluco padrão de uso unitário com um pouco de oferta de lição de vida que já vimos algo como umas 50 vezes ao longo das séries do universo The Walking Dead. E isso contando por baixo, claro.

O que ajuda na história é a presença surpresa de Morgan, revelado como sendo quem atacou o comboio de Dakota com o objetivo de sequestrá-la para usá-la como moeda de troca em futura barganha com Virginia. Mesmo considerando que esse aí é o “novo Morgan”, chega a ser uma surpresa ele ter dizimado os cavaleiros que protegiam a menina e ter imaginado um plano tão frio – ainda que lógico – como esse. Alicia, por seu turno, também fez seu Gambito da Rainha (só para usar o título da série que todos falam por aí, ainda que o correto, no Brasil, seja Gambito da Dama) e estava pronta para sacrificar Dakota em prol dela mesma e de Charlie. Gosto de ver cada um pensando em seu umbigo apenas, pois a constante tentativa de se manter a utopia de “um por todos, todos por um” em séries pós-apocalípticas é uma rotina completamente irreal.

Por outro lado, foi um tal de mudar de ideia nesse episódio que não está no gibi, basicamente demonstrando que ninguém sabe realmente o que está fazendo. Bastou um pouquinho de chororô e pronto, Alicia passou de traidora a melhor amiga e defensora resoluta de Dakota. Da mesma forma, bastou um pouquinho de confrontação e voilà, Morgan desistiu completamente de seu plano, plano esse que ele já devia estar pensando e maturando há um bom tempo. Faltou coragem dos showrunners em investir de verdade no desagradável, no “errado”, preferindo manter os mocinhos ainda mocinhos, sem a vilania subjacente que começava a se manifestar. Só Strand, ao que tudo indica, tem um raciocínio sólido na base do “doa a quem doer”, mesmo que ainda não saibamos qual é. No mínimo dos mínimos, ele não é que nem o Múcio, aquele hilário personagem sem personalidade e sem opinião do Jô Soares em Viva o Gordo, programa da época em que era permitido usar a palavra gordo para caracterizar pessoas gordas.

E, com isso, chegamos ao final do episódio, com Strand subindo mais um degrau na hierarquia “virginiana” (e do nada, pois ela deve estar desesperada precisando de gente para confiar para simplesmente aceitar Strand em seu círculo próximo…) e a ele sendo revelado o paradeiro de Grace, atochada em uma jaula como se ela fosse um tesouro que precisasse ser escondido a todo custo. Apesar do cliffhanger e apesar de todos os mistérios que ainda precisam ser abordados, confesso que meu interesse pelo futuro da série e de seus personagens vem desaparecendo a cada novo episódio e Damage from the Inside não fez nada para reavivá-lo…

  • A temporada entrará em hiato a partir de agora, ainda sem data de retorno.

Fear the Walking Dead – 6X07: Damage from the Inside (EUA, 22 de novembro de 2020)
Showrunner: Andrew Chambliss, Ian Goldberg
Direção: Tawnia McKiernan
Roteiro: Jacob Pinion
Elenco: Lennie James, Alycia Debnam-Carey, Maggie Grace, Colman Domingo, Danay García, Garret Dillahunt, Austin Amelio, Alexa Nisenson, Rubén Blades, Karen David, Jenna Elfman, Colby Minifie, Demetrius Grosse, Michael Abbott Jr., Zoe Margaret Colletti, Devyn A. Tyler, Christine Evangelista, Peter Jacobson, Cory Hart, Raphael Sbarge
Duração: 47 min.

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