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Crítica | Garotos Detetives Mortos (Dead Boys Detectives) – 1ª Temporada

Os monstros salvam o dia.

por Kevin Rick
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Baseado nos Garotos Detetives Mortos, personagens criados por Neil Gaiman na série Sandman que eventualmente ganharam seus próprios quadrinhos, a mais nova produção da Netflix tem um por trás das cenas curioso. Inicialmente, a adaptação foi concebida para a HBO Max como um spin-off de Patrulha do Destino, uma vez que os personagens foram apresentados na terceira temporada, mas o projeto acabou não tendo seguimento e mudou de casa para a Netflix, que decidiu colocar a série como um derivado que se passa no mesmo universo e na mesma continuidade da adaptação de The Sandman. Inclusive, Kirby Howell-Baptiste repete sua interpretação da Morte na série e temos a participação de outra figura importante dos Perpétuos.

É uma ideia inteligente, até para iniciar a expansão de uma propriedade com potencial de um universo compartilhado nas telinhas. Mas não se enganem, Garotos Detetives Mortos é diferente em tom, estilo e proposta narrativa da história de Morpheus. Saíssem os temas sombrios, o cenário macabro e a direção surrealista, para termos espaço para uma obra sobrenatural teen com muitos toques de comédia e dramas adolescentes, com pitadinhas de horror aqui e ali. A proposta pode até não soar atrativa, mas a premissa é relativamente divertida com uma história sobre dois fantasmas que se recusam a ir para o além, decidindo resolver problemas sobrenaturais e investigar incidentes que variam entre outros fantasmas, demônios, bruxas, duendes e afins.

A dupla principal de Charles Rowland (Jayden Revri) e Edwin Payne (George Rexstrew) recebe o auxílio da médium Crystal Palace (Kassius Nelson), que acaba sendo o segundo caso que vemos os detetives resolverem, quando salvam a jovem de uma possessão demoníaca. A partir desse encontro, a obra ganha uma narrativa procedural com o “caso da semana”, algo que não desce muito bem na forma de maratona que a Netflix oferece, enquanto lida com alguns arcos e subtramas recorrentes ao longo da temporada, mas sem uma trama principal por assim dizer. O grupo acaba ficando preso em uma pequena cidade – que poderia muito bem ser o filho maldito de Salem com a Transilvânia considerando a quantidade de monstros na localidade -, onde a maioria das investigações são resolvidas.

A produção é superficialmente carismática. Não gosto tanto da atriz de Crystal, mas os intérpretes dos detetives têm boa química e personalidades bem delineadas, além de alguns coadjuvantes divertidos, com destaque para Niko (Yuyu Kitamura) e uma dupla de duendes com boca suja. Apesar de nunca criar um ambiente efetivo de terror – o mais próximo disso é a casa amaldiçoada do terceiro episódio -, a produção sabe utilizar o gênero para fins cômicos, principalmente quando se apropria de narrativas visuais com muita bizarrice, como uma árvore com dentes, ou então quando o texto quer ser sarcástico e brincar com alguns clichês. A obra nunca se torna uma paródia ou uma sátira, mas é um horror com momentos pontuais que conseguimos rir e que mantém um tom descompromissado ao longo da temporada.

A grande questão é que a produção como um todo é genérica e extremamente limitada. Minha principal crítica é sobre a falta de mistério da série, que tenta vender a todo tempo que essa é uma história detetivesca, mas que nunca realmente cria um processo investigativo engajante de assistir, mesmo que seja algo mais adolescente. Os casos sempre se resolvem pelo acaso ou por conveniências, além de que a direção não consegue preencher a falta de urgência do texto com um senso de aventura. Na grande maioria das cenas de ação, de apuro e de correria dos casos, é fácil ficar indiferente. O descaso da produção com mitologia e com surrealismo também são sentidos na maneira como tudo sobre esse universo é meio bobo e padronizado sobre o que esperamos de uma história sobrenatural, bem distinto do interesse que The Sandman cria com sua imaginação e construção de mundo.

Também é difícil cobrar algo substancial das partes dramáticas do seriado. Muitos dos cacoetes de séries teens no estilo da CW aparecem aqui, como diálogos ruins, triângulos amorosos e namoricos desinteressantes, adultos infantilizados e subtramas inúteis – aquela historinha sobre a psicopata apaixonada pela açougueira é absolutamente terrível e um bom exemplo desse problema. Chega a ser interessante perceber como sempre que o roteiro que dar mais atenção para os arcos dos personagens principais e seus backgrounds do que para os casos semanais, a série perde força e curiosidade. Eu entendo que Dead Boys Detectives é mais Riverdale do que The Sandman, mas mesmo nessa proposta, penso que a série não tem charme e criatividade o suficiente para sair do razoável. Com um possível segundo ano mais desgarrado dos passados dos personagens e, se possível, não limitado a uma única localidade natural, a produção tem chance de se sair melhor com sua estrutura procedural se souber explorar melhor seu universo esquisito e fascinante.

Garotos Detetives Mortos (Dead Boys Detectives) – 1ª Temporada | EUA, 2024
Desenvolvimento: Steve Yockey (baseado na série de quadrinhos homônima de Neil Gaiman)
Direção: Lee Toland Krieger, Glen Winter, Cheryl Dunye, Andi Armaganian, Amanda Tapping, Richard Speight Jr., Pete Chatmon
Roteiro: Steve Yockey, Shoshana Sachi, Cheech Manohar, Ian Weinreich, Kristy Lowrey, Joshua Conkel, Kristin Layne Tucker, Kelli Breslin, Jeremy Kaufman, Beth Schwartz, Oscar Balderrama, Ross Maxwell
Elenco: George Rexstrew, Jayden Revri, Kassius Nelson, Briana Cuoco, Ruth Connell, Yuyu Kitamura, Jenn Lyon
Duração: 08 episódios de aprox. 60 min. cada

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