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Crítica | I, Davros + The Davros Mission

por Luiz Santiago
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estrelas 4,5

A série I, Davros foi produzida e lançada pela Big Finish entre setembro e dezembro de 2006. O objetivo central da série era trazer informações do passado de Davros, antes da criação dos Daleks. Dividida entre 4 capítulos — Innocence, Purity, Corruption e Guilt — a saga começa com cenas da infância do protagonista da série e preciosas informações sobre a situação política em Skaro durante a Thousand Year War, travada entre Thals e Kaleds.

Os motivos que impulsionaram a guerra entre os dois povos nativos de Skaro não são revelados, e é bom que seja assim. Já nas primeiras cenas de Innocence temos um perfeito retrato de um planeta em guerra, com duas frentes de vida ocorrendo ao mesmo tempo: uma do lado de batalha e luta contra os inimigos e outra pessoal, com direito a intrigas familiares, disputas políticas e algum tipo de entretenimento. Destaca-se nesse início a mãe do jovem Davros, Lady Calcula. Um intrigante Complexo de Édipo se ergue nesse início, com a irmã mais velha de Davros, Yarvell, sendo colocada de lado pela mãe e Davros recebendo o máximo de atenção possível.

Confesso que conhecer a adolescência, juventude e início da vida adulta do criador dos Daleks foi um verdadeiro acontecimento épico. Muito mais do que conhecer a infância, juventude e vida adulta de Darth Vader. Davros é um personagem extremamente rico em drama e motivos psicológicos e sua concepção com base nos ideais nazistas de purificação racial, inferioridade de “raças alheias” e conquista de espaço vital fica clara durante a série. Ele passa de um garoto muito curioso em relação à vida (parece-nos que tem tendência à área biológica) para alguém fissurado pela guerra e com ideais racistas cada vez mais fortes e mortais.

O processo para a criação dos Daleks é longo e a série atravessa décadas a vida do protagonista. Para efeito de melhor compreensão, vamos estabelecer a datação da saga — sabendo que todos os eventos ocorrem no Planeta Skaro. Também vale dizer que os anos indicados no início dos capítulos são anos terráqueos:

683 – Innocente (Davros aos 16 anos)

696 – Purity (Davros aos 29 anos)

709 – Corruption (Davros aos 42 anos)

759 – Guilt (Davros aos 92 anos)

O mais interessante dessa timeline é que o primeiro modelo falante de um Dalek só surge em 759, depois de um número enorme de tentativas, assassinatos, uso de corpos vivos de adultos e crianças e manipulações políticas das mais diversas por parte de Davros. O cientista chega a usar o corpo da própria irmã (que é assassinada pela mãe!) e da própria mãe como cobaias para testes laboratoriais. Toda a escalada de Davros ao poder é, no mínimo, emocionante e marcada por um traço de morte tanto para os outros quanto para ele mesmo, que após um acidente em um laboratório, se torna um cadeirante e perde a mobilidade em seu braço esquerdo.

O motor para I, Davros é curioso. Toda a história é um flashback, um relato do próprio Davros para os Daleks, que o capturam e querem julgá-lo por motivos que perderá a graça se dermos [mais] spoilers aqui. Esse evento é melhor trabalhado em The Davros Mission, que como o próprio nome diz, traz uma missão de resgate ao cientista e termina com um rumo completamente inesperado. Davros é, de fato, um cientista genial, mas alguém cuja maldade é incomensurável.

Talvez o leitor fique um pouco confuso em relação aos eventos aqui narrados e o estabelecimento da criação dos Daleks em Doctor Who. O fato é que não é simples falar da criação desses saleiros de Skaro. Parece-nos que existem duas fontes essenciais sobre a origem: o arco The Daleks, que mostra a primeira aparição dos vilões e o arco Genesis of the Daleks. Com um pouco de especulação, porém, conseguimos montar uma estrutura aceitável sobre os eventos. Vamos a eles.

759 – EVENTO 1: I, Davros: Corruption – surge o primeiro modelo de sucesso dos Daleks.

760 – EVENTO 2: Genesis of the Daleks – o 4º Doutor, Sarah e Harry vão a Skaro. O Doutor explode o bunker de Davros (que foge) e acredita ter atrasado o desenvolvimento dos saleiros por pelo menos 1000 anos. A “Thousand Year War” termina neste momento, com o extermínio dos Kaleds (ou Dals, o povo de Davros, e dos Daleks).

Dentro desse evento, duas possibilidades se erguem:

  • Evento 2, possibilidade 1: Os Daleks soterrados conseguem, de alguma forma, fugir e se tornam conquistadores galácticos, voltando, depois, para Skaro.
  • Evento 2, possibilidade 2: Os Daleks soterrados morreram.

c.1360 – EVENTO 3: Genesis of Evil — Uma “nova raça” (na verdade, remanescente dos soterrados pelo 4º Doutor) começa a se desenvolver em Skaro. Também podemos entender esses “Dals” ou “Daleks” de pele azul e forma humanoide como sobreviventes dos Kaleds que entraram em mutação OU Daleks mutantes que escaparam do bunker.

1760 – EVENTO 4: Genesis of Evil — Yarvelling, um cientista Dal, constrói uma caixa metálica que parece com a Mark III de Davros, mesmo que não tivesse o mesmo desenho, parecendo mais com o que aparece em The Daleks e também em The Dalek Invasion of Earth, o que faz a teoria ter todo sentido). Veja animação de uma fã abaixo:

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1763 – EVENTO 4,5 (retirado de uma citação de The Daleks): Os Dals desenvolvem a Bomba Neutrônica e a explodem (deliberada ou não deliberadamente, segundo fontes diferentes), levando a vida de Skaro ao limite da contaminação por radiação. As espécies nativas e já passadas por mutação (Thals e Dals) entram em um outro processo de transformação.

2167 – EVENTO 5:  The Dalek Invasion of Earth – alguns Daleks desenvolvem uma sede neurótica pela conquista do espaço e chegam à Terra. Outro grupo de Daleks permanecem em Skaro e começam a morrer, confinados em sua cidade.

2263 – EVENTO 6: The Daleks – Enfim, fechamos o ciclo de “criação”. O 1º Doutor encontra os Daleks pela primeira vez. Temos uma versão sobre como tudo começou (uma versão que sabemos não estar correta, algo muito comum em eventos históricos narrados por um dos lados em guerra). Alguns Daleks estão confinados em sua cidade e outros morrendo. A Guerra Neutrônica é citada. A bomba explodida 500 anos atrás é citada. Tudo começa a fazer sentido.

A coroação de todo esse processo de criação dos Daleks vem em The Davros Mission com a missão de resgate. Suas criaturas se voltam contra ele e pretendem matá-lo, mas isso não é nem de perto o fim da jornada. O episódio, que foi um lançamento especial da Big Finish e serviu de continuação para a já terminada série I, Davros, traz um enredo quase filosófico em relação ao personagem, apresentando alucinações, um certo sentimento de culpa em relação ao passado e a visão geral de que pela ciência e pela vida — principalmente a vida Kaled/Dal/Dalek — tudo é válido.

I, Davros e The Davros Mission são obras que qualquer fã de Doctor Who deveria ouvir. Assim, muito do que se fala sobre Davros e sua grande criação poderia mudar e alcançar um nível completamente diferente, fora do óbvio, profundo. Um nível exterminador.

I, Davros (Reino Unido, set – dez, 2006)
Produção: Steve Foxon
Direção: Gary Russell
Roteiro: Gary Hopkins (episódio 1); James Parsons, Andrew Stirling-Brown (episódio 2); Lance Parkin (episódio 3); Scott Alan Woodard (episódio 4).
Elenco: Terry Molloy, Nicholas Briggs, Rory Jennings, Sean Connolly, Rita Davies, Richard Franklin, Richard Grieve, Scott Handcock, Lizzie Hopley, Carolyn Jones, Peter Sowerbutts, Joseph Lidster, John Stahl, Andrew Wisher, David Bickerstaff, Sean Carlsen, Daniel Hogarth, Katarina Olsson, Lisa Bowerman,  Jennifer Croxton, Peter Miles
Duração: 4 episódios de 60 min.

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The Davros Mission (Reino Unido,nov, 2007)
Direção: Nicholas Briggs
Roteiro: Nicholas Briggs
Elenco: Terry Molloy, Nicholas Briggs, Miranda Raison, Sean Connolly, Gregg Newton
Duração: 1 episódio de 80 min.

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