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Crítica | Jonah Hex – O Caçador de Recompensas

por Ritter Fan
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Não se pode dizer que a DC Comics (aqui entendida com o conglomerado que inclui a Vertigo e diversos selos menores) não tenta aproveitar seus personagens de menor destaque. Naturalmente aproveitando seus pesos-pesados – leia-se Superman e Batman – a editora, ao longo dos anos, não esqueceu de nomes como Monstro do Pântano, Supergirl, Aço, Mulher-Gato e John Constantine, com resultados muitas vezes menos do que satisfatórios, só para usar um eufemismo.

Jonah Hex, o pistoleiro desfigurado criado por John Albano e Tony DeZuniga em 1972 e que originalmente surgiu na HQ All-Star Western #10 e 11, compartilhou o ano de 2010 com RED: Aposentados e Perigosos e Os Perdedores em termos de adaptações da editora. Com Josh Brolin como o personagem-título e John Malkovich como o vilão Quentin Turnbull, o filme até chegou a prometer bons momentos quando as primeiras imagens foram lançadas, somente para capotar completamente em sua execução tão inepta que até o próprio Brolin e também Megan Fox (que vive a prostituta Lilah, que tem um caso com Hex) chegaram a falar negativamente da obra algum tempo após seu lançamento.

Talvez o maior problema da adaptação tenha sido a falta de identidade do roteiro de Mark Neveldine e Brian Taylor (ambos responsáveis por Adrenalina 1 e 2 e Gamer) que, apesar de trazer elementos diretamente dos quadrinhos do anti-herói, muitas vezes parece desconfortável em encarar o filme como um faroeste, transformando o personagem-título em um ser com super-poderes (de conversar com os mortos e de basicamente ser imortal, algo que nunca existiu nas HQs) e que enfrenta tecnologia bobalhona muito na linha do que vemos no exagerado e histriônico As Loucas Aventuras de James West. Assim, sem se decidir entre um western soturno de vingança e uma aventura que se leva a sério demais com um anti-herói poderoso enfrentando um vilão que, como sempre, “quer destruir o mundo”, o resultado deixa a desejar e faz um desserviço a mais um personagem que tinha potencial nas telonas.

E isso não acontece em razão da invenção dos poderes de Hex, pois eles são realmente interessantes e poderiam ter sido trabalhados mais organicamente dentro da narrativa. O problema é a forma atabalhoada com que o roteiro nos apresenta à história e a desenvolve, algo que a direção de Jimmy Hayward (que co-dirigiu a divertida animação Horton e o Mundo Dos Quem! dois anos antes) não só não corrige como agrava. Para perceber essa questão, basta reparar na forma como o prólogo de origem de Jonah Hex é conduzido. Vemos o personagem pré-cicatriz como um soldado confederado sentindo-se integrado à situação de guerra. Corta e o vemos amarrado por Turnbull enquanto seu capanga tatuado Burke (Michael Fassbender) ateia fogo em sua família, com seu rosto sendo então marcado por um ferro quente. A narração em off de Brolin durante os momentos de guerra e o diálogo entrecortado do personagem de Malkovich deixam entrever situações pregressas de dúvidas sobre os horrores do conflito bélico, traição e o assassinato do filho de Turnbull por Hex, mas o resultado final é confuso, enigmático (e não no bom sentido) e repleto de buracos que, de forma mais confusa ainda, vão sendo preenchidos na medida em que o filme tenta progredir. E não ajuda em nada a abordagem do lado sobrenatural dos poderes de Hex com uma animação desanimada logo em sequência.

Fica evidente que não havia necessidade de tudo isso. Bastava que o roteiro distribuísse os momentos de recontam a origem de Hex ao longo da narrativa no presente, pois, afinal de contas, há repetidos e repetitivos retornos ao passado justamente para “esclarecer” o queijo suíço que é esse prólogo alongado e que em momento algum diz a que veio.

Mas se a fraqueza estrutural da obra ficasse confinada a esse começo turbulento, ela teria o potencial de ser bem melhor. No entanto, quando a situação já está toda estabelecida, a falta de identidade narrativa começa a sobressair-se, com o roteiro e a direção lidando com um filme genérico de um super-herói que por acaso tem uma cicatriz horrenda no rosto e se veste com um puído uniforme confederado mesmo após o fim da Guerra Civil. Não faria nenhuma diferença se a ação fosse transportada para os anos 2000 ou para um futuro pós-apocalíptico mil anos no futuro. Neveldine e Taylor esvaziam o personagem de qualquer traço diferenciador – fora sua cicatriz – e criam uma versão tão genérica dele que ela é intercambiável com qualquer outro anti-herói do Cinema ou TV, de Dirty Harry ao Justiceiro.

A grande arma cujos pedaços Turnbull e sua gangue vão roubando pelos EUA, deixando uma pilha de corpos em seu rastro, torna tudo ainda pior, quase involuntariamente risível. A questão é que os roteiristas tentam encaixar narrativas sobre terrorismo doméstico e anti-belicismo de maneira tacanha e imbecilizante, abordando armas de destruição em massa como algo corriqueiro e mágico, movido a esferas brilhantes que nem tentam ser explicadas. E, apesar de um orçamento razoavelmente polpudo de 47 milhões de dólares, os efeitos especiais necessários para dar vida ao gigantesco canhão não são muito melhores do que os de um videogame de geração anterior ao lançamento do filme, o que força que a maioria das sequências em que o CGI se faz necessário de maneira mais pesada se passe à noite para que a escuridão esconda os defeitos.

Se pelo menos a fotografia de Mitchell Amundsen (que, não surpreendentemente trabalhou em G.I. Joe: A Origem de Cobra) conseguisse lidar com a escuridão de maneira razoavelmente eficiente, esse não seria um problema, mas Jonah Hex não só tem a noite forçada goela abaixo, como tudo o que acontece nesses momentos não são muito mais do que borrões mal-iluminados, com uma montagem que impede que ação seja acompanhada com algum traço de lógica. Assistir à queda de um câmera de filmar escadaria abaixo teria mais ou menos o mesmo efeito, só para se ter uma ideia.

Mas isso não quer dizer que o filme é perda total como seus “colegas” Supergirl, Mulher-Gato e Lanterna Verde. Apesar de o papel não exigir muito, Brolin está muito bem como o pistoleiro ranzinza, deformado e caladão, como um Clint Eastwood clássico. Além disso, o trabalho de prótese e maquiagem em seu personagem, apesar de não ser a coisa mais complexa do mundo, está absolutamente perfeito, emprestando a necessária credibilidade à horrenda marca na metade do rosto de Hex. Finalmente, o figurino de época, tanto nas cidadezinhas do interior americano quanto na capital ainda em construção ajudam na pouca imersão efetiva que o filme permite, com detalhes bem executados nos uniformes confederados e unionistas tanto durante a guerra quanto após seu fim.

Jonah Hex é um daqueles filmes que deixam entrever seu potencial jogado no lixo. Um intrigante e sobrenatural personagem quase completamente desconhecido dos quadrinhos poderia ter resultado em um faroeste de respeito. No entanto, o que temos é uma bobagem genérica que cansa já em seu terço inicial, tornando a jornada de curtos 81 minutos arrastada e enjoada. Uma pena.

Jonah Hex – Caçador de Recompensas (Jonah Hex, EUA – 2010)
Direção: Jimmy Hayward
Roteiro: Mark Neveldine, Brian Taylor, com base em história dos dois e de Brian Farmer (baseado em personagem criado por John Albano e Tony DeZuniga)
Elenco: Josh Brolin, John Malkovich, Megan Fox, Michael Fassbender, Will Arnett, John Gallagher Jr., Tom Wopat, Michael Shannon, Wes Bentley, Julia Jones, Luke James Fleischmann, Rio Hackford
Duração: 81 min.

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