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Crítica | Meet Cute (2022)

Sempre o mesmo encontro, sempre a mesma noite.

por Luiz Santiago
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A vida de todo mundo é marcada por momentos de grandes decepções, lapsos de enorme felicidade e longos períodos de recuperação que normalmente desembocam em amadurecimento, em engrandecimento pessoal. Em Meet Cute, a personagem vivida por Kaley Cuoco demora muito tempo para perceber que momentos ruins precisam ser enfrentados, com ou sem a ajuda de outras pessoas (dependendo do caso), para chegarem ao estágio de superação. Toda cura precisa ser iniciada com a aplicação de um remédio, e em termos sentimentais ou de olhares para a vida, isso significa que fugir dos problemas, ignorá-los ou encobri-los num loop de distrações viciosas não irá trazer nada bom; só piorará a situação, criando outros problemas em vez de consertar aquele que já existia.

Meet Cute é um filme que progride de forma um tanto improvável, neste campo. O roteiro de Noga Pnueli herda aqueles clichês de filmes envolvendo viagens no tempo, e explora essa questão com base em uma interessante mudança no que diz respeito ao destino dos protagonistas. Quando vemos o primeiro encontro entre Sheila (Kaley Cuoco) e Gary (Pete Davidson), o papo estranho sobre viagem no tempo através de uma “máquina insperada” salta à vista e nos faz questionar se realmente existe uma viagem no tempo ou se a personagem é meio maluca, com um jeito peculiar para o flerte. O diretor Alex Lehmann faz com que essa impressão ganhe corpo no primeiro flashback e só um pouco mais adiante assume-se como verdade. É um jogo muito bem pensado em termos de organização da história, conseguindo trazer uma boa compensação para o público, ao final.

A estranheza comportamental do casal protagonista é o charme que nos captura desde o início, e a comédia romântica se constrói bem a partir daí. A dúvida sobre a viagem no tempo acaba sendo explorada diegeticamente, porque o personagem de Pete Davidson, até certo ponto, se comporta como qualquer pessoa que porventura ouvisse esse tipo de bobagem, mas suspeita levemente quando algumas coincidências se apresentam e sugerem que as alegações de Sheila são verdadeiras. Depois, esse comportamento passa para o lado do exagero e da repetição, mas para ser justo, não é algo exclusivo do personagem (Gary é quase decentemente desenvolvido, considerando a proposta imediatista da obra), mas de todo o filme. No geral, as escolhas visuais dão um primeiro banho de simpatia em toda a situação do flerte, com uma direção de fotografia cheia de filtros e saturação, algo mais presente no bar (com destaque para o vermelho e o laranja) e no restaurante indiano (com destaque para o rosa, o branco e o azul), os espaços-chave dos encontros.

Depois de estabelecida a verdade sobre a viagem no tempo, o longa se torna bastante repetitivo. A intenção de fazer com que o público note a derrocada emocional e da saúde mental de Sheila é compreendida, mas o ciclo de reafirmação não é necessário nesse tipo de enredo. Isto, aliás, é o que minimiza o bom trato que o diretor dá ao clichê, problema do qual se recupera nos últimos momentos do filme, mas apenas parcialmente. Em última instância, a obra chama a atenção para o fato de que um dos aspectos mais gostosos da vida, o amor e os relacionamentos, não são livres de problemas e não precisam ser perfeitos em todos os aspectos. As pessoas possuem seus problemas e traumas pessoais, e uma vida a dois, ou mesmo o início de uma conversa entre duas pessoas podem ser atrapalhadas por consequência desses traumas.

Lidar com isso é um grande desafio, e tem se tornado mais difícil com o passar do tempo. É necessário saber onde parar e nunca usar esses problemas pessoais como motivação para controlar o outro ou estabelecer uma relação codependente. Meet Cute olha para esses problemas de maneira honesta, e apesar do tom repetitivo no desenvolvimento de seu enredo, transmite bem o recado sobre saúde mental, depressão, relacionamentos e traumas da vida. Problemas, todos temos. Buscar o amor, todos buscados. O difícil é fazer essas coisas em bons termos para os dois lados, sem querer fugir de uma fase pessoal e sem querer moldar o outro à sua “imagem de uma pessoa perfeita“. Depois do choque de realidade e de entender que mudar coisas na linha do tempo não é a resposta para os problemas, Sheila parece ter aprendido a lição. E ao que tudo indica, parece também ter encontrado alguém para caminhar ao seu lado.

Meet Cute (EUA, 2022)
Direção: Alex Lehmann
Roteiro: Noga Pnueli
Elenco: Kaley Cuoco, Pete Davidson, Deborah S. Craig, Sierra Fisk, Kirk Kelly, Wesley Holloway, Rock Kohli, Daniela Reina, Andrew Stevens Purdy, Benjamin Brody, Gina Jun, Bob Leszczak
Duração: 89 min.

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