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Crítica | Missão Azul

por Leonardo Campos
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A preservação do meio ambiente é um fator que depende não apenas de nós, mas dos grandes conglomerados capitalistas que lucram bilhões anualmente com a pesca, modo de aquecimento da economia que não leva em consideração qualquer preocupação com a sazonalidade e tem, gradativamente, devastado os oceanos e transformado algumas espécies em criaturas praticamente extintas. O problema, caros leitores, é grande e complexo, abordado ao longo dos 94 minutos de Missão Azul, documentário sobre a trajetória da pesquisadora Sylvia Earle, bióloga que durante décadas de trabalho árduo, palestra, publica e milita em eventos diversos e programas midiáticos, preocupada com o que as gerações futuras enfrentarão como desdobramento do atual cenário de poluição, aquecimento global e extinção de espécies importantes para o adequado equilíbrio de nossos ecossistemas. Nós, do lado de cá da tela, observamos com encantamento a postura da pesquisadora, mas nos perguntamos o que é possível fazer além das postagens nas redes sociais e WhatsApp, posicionamentos válidos, mas que ficam apenas na seara do discurso. A questão norteadora: como lidar?

Primeiro, a humanidade precisa refletir os seus hábitos. Queremos abandonar os salgados com camarão e outras iguarias marinhas para permitir que a fauna marinha consiga se reestabelecer? E no caso do atum, quem está disposto a consumir menos sushi e sashimi para permitir que haja uma regulação na quantidade destes peixes devastados, em especial, no oceano pacífico? Os chineses vão se conscientizar quando em relação ao consumo de barbatanas de tubarões para a famosa e caríssima sopa servida em restaurantes e eventos sofisticados do país? De volta ao atum, podemos deixar de utiliza-los como parte da nossa dieta para investir noutros recursos substitutivos? Todos esses pontos são importantes para o questionamento estabelecido por aqui. Ao passo que damos menos munição para a indústria pesqueira, permitimos que os recursos captados em suas reservas sobrem e assim todo um longo processo de caça e pesca diminuem.

Ainda assim, o leitor pode se questionar: e no caso dos desastres ambientais causados por plataformas derramadoras de petróleo? E o aquecimento global causado por outros motivos que vão além do drama da pesca predatória? Foi assim que me direcionei ao longo da sessão de Missão Azul, pensando que podemos reagir parcialmente diante do assunto, mas dependemos de várias outras forças externas. Assistir ao documentário e se posicionar já é um caminho. O resto nós vamos na busca pela conquista, mesmo que a sensação seja a de nadar num mar de utopias. Vamos, agora, nos deter especificamente ao seu conteúdo. Dirigido por Robert Nixon e Fisher Stevens, dupla que toma como guia o roteiro de Mark Monroe e Jack Youngelson, acompanhamos a trajetória de Earle, uma dama da pesquisa científica, mulher destemida que desde jovem se mostrou apaixonada pela vida marinha, ânsia temática que saiu do diletantismo e se tornou parte de sua formação profissional. Idealista, ela acredita que ainda haja possibilidade de mudarmos o atual cenário e permitirmos que os impactos inevitáveis diminuam, já que diante dos estragos, sentiremos de qualquer maneira a crise num futuro que não está tão distante.

Ela é parte das “Áreas de Segurança”, rede que compõe em média 100 pesquisadores interessados em multiplicar as suas ideias para a sociedade. No geral, a frase problema de sua pesquisa e do documentário é a seguinte: “um mundo sem oceanos é um mundo impossível”. Diante do exposto, os seus depoimentos e histórias buscam conscientizar, reflexão em suporte audiovisual que também funciona como obra de entretenimento. Enquanto o roteiro se dedica em trazer dados biográficos desta mulher de forte personalidade, acompanhamos a beleza das imagens de um mundo que precisa urgentemente ser poupado de tanta destruição. Com edição de Peter Livingston, montador responsável por expor imagens de arquivo com o material produzido pela direção de fotografia da equipe formada por Will Bates, Bryce Geroak e Damien Broke, Missão Azul é narrado sem sensacionalismo, mas não deixa de colocar um tom emergencial nos assuntos abordados. No final, saímos da sessão informados sobre a importância das algas-pardas, oxigenadoras do nosso planeta; desmitificamos o ômega 3, supostamente presente nos peixes, parte de uma indústria falaciosa; aprendemos que os golfinhos são os rins dos oceanos, dentre tantas outras coisas desta produção belíssima e necessária.

Missão Azul — (Mission Blue) Estados Unidos, 2014.
Direção: Fisher Stevens, Robert Nixon
Roteiro:  Mark Monroe, Jack Youngelson
Elenco:  Sylvia Earle, James Cameron, Michael deGruy
Duração: 94 min.

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