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Crítica | Natal Sangrento (2025)

O Papai Noel está diferente.

por Felipe Oliveira
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Retirado dos cinemas às pressas na época do seu lançamento, Natal Sangrento (1984) sofreu repressão dos pais conservadores que não concordaram com a ideia do Papai Noel punindo as pessoas por suas transgressões. Porém, esse movimento possibilitou o status de filme cult do longa, além das sequências cada vez mais descabidas e absurdas. Anunciada há um ano, a segunda tentativa de refilmagem do clássico oitentista chega com a expectativa de tocar em pontos controversos uma vez que foi divulgada pela equipe dos filmes de Terrifier, além de ser escrita e dirigida por Mike P. Nelson, mesmo nome responsável pelo remake de Pânico da Floresta. Levando em consideração em como o contexto atual da sociedade demonstra um pensamento conservador ao mesmo tempo que vemos o cinema do terror olhar para aspectos tradicionais, a impressão era que a nova versão de Natal Sangrento voltaria para os moldes clássicos do slasher: um assassino fantasiado, a violência como linguagem e resposta para quem não seguia os valores morais. Contudo, P. Nelson quer um caminho alternativo, subversivo na sua vez de refilmar o clássico do terror natalino.

A ideia de ter um filme natalino às avessas não era uma novidade, mas o longa escrito por Michael Hickey e Paul Caimi era influenciado pela mitologia de Halloween – A Noite do Terror e Sexta-Feira 13, porém, P. Nelson parece trazer um pouco da história de Batman e ter se inspirado na franquia de Venom para contar a história de Billy, um jovem atormentado que, após ter testemunhado o assassinato dos pais por um homem vestido de Papai Noel na véspera de Natal, se comprometeu com uma missão suicida: todos os anos, na festa natalina, usa o traje vermelho buscando punir as pessoas por suas maldades. Ou seja, não temos aqui um serial killer clássico do slasher e sim um assassino que acredita ser um anti-herói e no seu senso de justiça questionável. Das inúmeras possibilidades que este remake poderia seguir ou de cair na comparação do gore explícito de Terrifier, o caminho seguido por P. Nelson é, sem dúvidas, uma experiência interessante.

Para além da mudança na origem de Billy e dos easter-eggs sobre as sequências da franquia que o diretor-roteirista insere, Silent Night, Deadly Night mantém a base e os aspectos tradicionais do original, mas também incrementa a história com elementos de um drama romântico com toques de humor, como boa parte das produções contemporâneas. E mesmo se passando nos dias atuais, P.Nelson tenta imprimir uma espécie de anacronismo na estética do filme e no uso da trilha sonora, então, há momentos que o longa remete ao filme de John Carpenter, a Friday the 13th ou a Noite do Terror (1974) pela maneira que está sendo filmado. Nesse sentido, fica clara a tentativa do cineasta em trazer um pouco de estilo na forma que a história é contada, mas que termina caindo em um lugar amador, como se boa parte das escolhas se resumisse a fazer alusões à época e também causar um sentimento de nostalgia.

Embora não se possa concordar com todas as escolhas que P.Nelson atribua, a sua versão de Natal Sangrento é simpática e convincente por ele acreditar nas mudanças de tom e ajustes na história. O resultado é um filme irregular com cara de uma produção barata que foi lançada diretamente em DVD e que poucas pessoas irão descobrir em algum momento, porém, possui seu charme peculiar com uma estética de filme B que parece digna o suficiente para chamar de seu. Quando o longa deixa de lado as referências e investe no que seria a marca de subversão do cineasta, temos uma refilmagem que flerta com elementos sobrenaturais — o que explica o voice off como a franquia da simbiose — e exagero do terror trash para justificar a violência (mesmo que moderada) do filme que promete dar uma nova visão para um clássico polêmico na história do slasher.

Se a promessa da divulgação fez imaginar um Natal Sangrento com um nível insano de violência e brutalidade insana como em Terrifier, o que temos aqui é um filme com ação coreografada, um slasher que pouco utiliza galões de sangue falso e  uma matança que quer ser convincente, não chocar a audiência que está assistindo à regravação de um longa famoso por incomodar o conservadorismo, agora beirando a um didatismo enfadonho ao apresentar um anti-herói que não possui as motivações moralistas do subgênero, e sim um viés ideológico. Neste caso, P. Nelson dá ao seu filme um objetivo político, porém, didático demais para que não caia numa ambiguidade sobre o que representa. Muito provavelmente essa nova versão de Silent Night, Deadly Night não terá uma cena a là garbage day para ser comentada, porém, não vai demorar para cair na análise de uma representatividade queer na história de Billy, afinal, não foi à toa a primeira imagem divulgada ter sido Rohan Cambell descamisado e o filme ter um take muito específico na cena ou o marketing divulgar que, ao mostrar seu ingresso para o filme, verá o pé do ator. Seja como for, ter um Papai Noel matando nazistas não faz o filme de terror natalino da década.

Natal Sangrento (Silent Night, Deadly Night – 2025, EUA)
Direção: Mike P. Nelson
Roteiro: Mike P. Nelson (baseado no filme de Michael Hickey e na história de Paul Caimi)
Elenco: Rohan Campbell, Ruby Modine, Mark Acheson, David Lawrence Brown, David Tomlinson, Logan Sawyer, Erik Athavale, Rick Skene, James Durham, Sharon Bajer, Delphine Anderson, Tom Young, Krystle Snow
Duração: 97 min

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