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Crítica | O Caso do Rosto Substituído (Perry Mason #12), de Erle Stanley Gardner

Quem é quem?

por Luiz Santiago
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Nas últimas páginas de O Caso do Canário Coxo, Perry Mason e sua secretária Della Street (agora, assumidamente, também um interesse amoroso — embora ela coloque a casca dura da não-relação e recuse romanticismos e pedidos de casamento por um motivo nada empoderado, ao contrário do que o autor sugere…) estão embarcando em uma viagem de férias. Eu não imaginei que a viagem aconteceria, então confesso que fiquei impressionado com o fato de que o navio realmente partiu e a dupla seguiu com destino ao Oriente. No retorno para casa, no momento em que estão no Havaí, Mason e Della conhecem uma família, ouvem algumas coisas suspeitas e acabam envolvidos em um caso que já é bastante interessante na teoria, mas que fica ainda mais denso quando o assassinato da vez acontece.

Como tem acontecido muito frequentemente nos livros da série Perry Mason, eu acabo gostando menos da obra na reta final, quando o julgamento já está chegando ao fim e quando as respostas são finalmente organizadas pelo autor. Não raro, a impressão é de um verniz de complexidade, na conjunção de fatos, que torna o caso estranho e, às vezes, afasta o leitor. Aqui em O Caso do Rosto Substituído, o único momento que eu realmente desgosto da escrita de Erle Stanley Gardner antes do final é quando ele dá uma grande quantidade de diálogos para a jovem Belle, e faz com que ela se comporte como uma das piores caricaturas daquilo que o autor acreditava ser uma “dondoca” dos anos 1930. Cada palavra pronunciada por Belle, nesse início, é afetada, ridícula, e quase estraga a personagem. Ainda bem que essa afetação é deixada de lado nos outros capítulos, e, ao cabo, até gostamos da jovem e conseguimos entender muito mais de sua personalidade e amor à vida.

O crime, aqui, é algo que chama a atenção. Primeiro porque sua bifurcação narrativa é moderada, sem aquelas dezenas de caminhos dispensáveis que o autor gosta de criar para encher espaço de investigação com coisas simples. O fato de Mason e Della estarem fora do ambiente comum, já ajuda bastante. Faz, inclusive, com que o autor utilize de meios pouco comuns no princípio de um processo de checagem de dados, o que é um deleite para o leitor que vem acompanhado a saga desde o início e já está acostumado com o modus operandi. Não chega a ser exatamente uma reinvenção, mas uma organização diferente das buscas e, em parte, até da investigação. É por isso que gosto do desenvolvimento do livro. Além de cenas genuinamente prazerosas (como o interrogatório de Mason para a professora arrogante que dizia ter visto tudo com requintes de detalhes), temos boas surpresas, como o envolvimento direto de Della no caso, seu desaparecimento e certas revelações envolvendo o assassinato que muda toda a percepção do caso e mostra a excelente estratégia de tribunal arquitetada por Perry.

Então, quando chegamos ao fim, um turbilhão de explicações rápidas, atropeladas e sem graça tomam conta das páginas. O problema começa já no interrogatório final, quando o advogado protagonista narra, aos borbotões, tudo aquilo que, de fato, aconteceu. Não tenho problemas com esse tipo de escolha para a revelação de um caso, mas o momento, as palavras, o caminho utilizado e a repetição de conceitos já compreendidos pelo leitor é que atrapalham a nossa boa visão do todo — para mim, o livro ganharia até 4 de 5, se não fosse o estilo de escrita de Gardner no encerramento do caso. E parece que o autor gostou tanto de iniciar a trama com a dupla Mason-Street fora de um ambiente conhecido, que o assunto do livro seguinte já é iniciado aqui mesmo, com ambos embarcando em outra viagem, rumo ao escritório onde são esperados com um caso que promete chocar Perry Mason. Quanto ao “rosto substituído”, digamos que todos os personagens da trama recebem o encaminhamento que merecem. O autor não cria boas justificativas para alguns crimes e passa tempo demais fechando um caso já esgotado, mas pelo menos na indicação do destino de seus personagens, ele acerta em cheio.

Perry Mason – Livro 12: O Caso do Rosto Substituído (The Case of the Substitute Face) — EUA, 1938
Autor: Erle Stanley Gardner
Publicação original: William Morrow and Company (Abril de 1938).
Edição lida para esta crítica: Ankerwycke, 2016
342 páginas

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