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Crítica | O Grande Mestre 3

por Rodrigo Pereira
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Após assistir aos dois primeiros filmes da franquia O Grande Mestre, de Wilson Yip, e ter adorado ambos, principalmente o primeiro, minha vontade era de correr para conferir a terceira parte da história do mestre de Bruce Lee. Para minha tristeza, o honconguês passou longe da qualidade das suas outras duas obras. 

Depois de sobreviver a invasão japonesa em seu país e de enfrentar o campeão mundial de boxe em um duro combate, Ip Man (Donnie Yen) vive um momento de relativa estabilidade, com sua escola de artes marciais crescendo e cada vez mais reconhecido e respeitado em Hong Kong. Sua paz, porém, começa a mudar quando seu caminho cruza com o de mafiosos do ramo de construções e que também organizam lutas clandestinas. O grupo pretende comprar a área da escola que estuda o filho de Ip man e, após a recusa do diretor da instituição em vender o imóvel, começa a ameaçar a integridade de profissionais, estudantes e familiares, obrigando nosso protagonista a tornar-se vigia do local.

Logo de cara já é possível que algumas dúvidas surjam diante das primeiras sequências apresentadas. Onde encontra-se Wong Shun-Leung, primeiro aluno da escola de Ip Man e personagem com maior destaque dentre seus aprendizes no segundo longa? Ele simplesmente deixa de existir, jogando fora uma interessante relação de mestre e aprendiz que, mesmo sem ser o ponto central da narrativa, vinha sendo construída de maneira bastante competente.

Alguém poderá dizer que ele simplesmente desistiu de lutar, mudou-se de cidade ou algo parecido. É uma possibilidade, de fato, mas o que dizer do filho recém nascido de Ip Man e Cheung Wing-Sing (Lynn Xiong) apresentado no último ato do segundo filme e que desaparece da mesma forma, sem maiores explicações? Ou de Zhou Qing Quan (Simon Yam), irmão de Ip Man, que já havia perdido muito espaço no anterior e também desaparece? São pontos de ligação com a história anteriormente apresentada e que são simplesmente excluídos.

Todavia, caso fossem esses os maiores problemas da obra, ainda teríamos um resultado bastante satisfatório, no mínimo. Os problemas, entretanto, se agravam. O antagonista e aparente líder dos mafiosos é Frank, representado por ninguém menos que Mike Tyson. Além da atuação de Tyson não convencer nada, fazendo com que vejamos o famoso pugilista e não um gangster poderoso e perigoso, sua personagem pouco aparece, impossibilitando que seja visto pelo público como o vilão e o grande desafio de Ip Man.

Na verdade, quem passa a maior parte do tempo ocupando esse posto é Ma King-Sang (Patrick Tam), um de seus capangas, e que é descartado em determinado momento pelo próprio Frank sem grandes cerimônias. Essa confusão dificulta a identificação de uma real ameaça para nosso herói, algo bem definido nos outros filmes com o General Sanpo e o boxeador Twister.

Ainda há o caso de Tsui Lik (Louis Cheung), artista marcial e pai de um dos colegas do filho do protagonista, que acrescenta mais confusão para a obra. Seu desejo é se provar um lutador melhor que Ip Man e, para isso, topa até mesmo juntar-se ao grupo de mafiosos. O problema é que a direção não define de qual lado ele está, fazendo com que Tsui Lik ora ajude, ora enfrente o protagonista, criando três candidatos a antagonista sem que nenhum, de fato, ocupe a posição de maneira convincente.

De positivo podemos citar as sempre bem dirigidas e coreografadas cenas de luta da franquia, que sempre nos trazem pelo menos uma sequência memorável (a desse longa é a do elevador/escadaria, sem dúvidas). Além disso, o que há de melhor em O Grande Mestre 3 é justamente algo que ficou a desejar principalmente no anterior: a relação entre Ip Man e Cheung Wing-Sing.

Toda a insatisfação da esposa por sempre ser preterida pelo esposo em razão das artes marciais nunca esteve tão presente. Para evitar spoilers, me limitarei a dizer que o surgimento de um problema muito sério é a razão dessa aproximação dos dois, o que gera cenas emocionantes de amor e afeto entre o casal, evidenciando a competência do diretor para além das cenas de ação.

Infelizmente, só isso não basta para tornar a película minimamente satisfatória. As críticas ao imperialismo de povos estrangeiros, tão presente anteriormente, são esvaziadas, quase inexistentes, assim como a já citada confusão para definir o antagonista. Os furos na edição, como quando Tsui Lik vai preso e magicamente aparece livre na sequência, também marcam presença com uma frequência que incomoda. Sem contar a presença de Mike Tyson interpretando a ele mesmo. No final, o que salva são as boas lutas e a emocionante relação amorosa, pouquíssimo se comparado aos antecessores. Uma pena.

O Grande Mestre 3 (Yip Man 3) — China, Hong Kong, 2015
Direção: Wilson Yip
Roteiro: Tai-Li Chan, Lai-Yin Leung, Edmond Wong
Elenco: Donnie Yen, , Lynn Xiong, Zhang Jin, Patrick Tam, Karena Ng, Kent Cheng, Louis Cheung, Leung Kar-Yan, Mike Tyson, Danny Chan Kwok-Kwan
Duração: 105 minutos

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