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Crítica | Pacificador – 2X01: Os Laços Que Desgastam

Retcon espertíssimo, episódio nem tanto.

por Ritter Fan
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  • spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios da série.

Como fazer com que Pacificador, série cuja primeira temporada fazia parte da versão original do Universo Cinematográfico DC, transforme-se em uma série do novo Universo Cinematográfico DC? Alguém muito preocupado em dar satisfações para fãs inventaria um monte de imbecilidades exageradas e pseudoteológicas ou mágicas para resolver o problema, mas James Gunn, pelo visto, não está interessado em complicar e, ao simplificar, ele genialmente – sim, genialmente – converteu a chegada da Liga da Justiça ao final de Chutando o Pau da Bavaca na chegada da Gangue da Justiça, de seu Superman, com uma refilmagemzinha marota, sem firulas, em uma cena que aparece não no episódio inicial da segunda temporada, mas sim na recapitulação da temporada anterior. Se a Marvel Studios “inventou” as cenas pós-créditos, agora a DC Studios pode bater no peito e afirmar com orgulho que inventou (sem as aspas), o retcon no recap. E, assim, como um juiz batendo seu malhete, Gunn disse para todo nós que sim, Pacificador inteira é uma série do UCDC 2.0 e ponto final.

Pena que a única sacada genial de Os Laços que Desgastam foi essa, pois o restante foi, em resumo, James Gunn sendo James Gunn quando tenta fazer humor para adultos sem supervisão superior, algo que já deu errado nas primeiras temporadas da Pacificador e Comando das Criaturas e se repete aqui. O cineasta simplesmente precisa ajustar sua noção do que é humor escrachado e subversivo, pois tudo o que ele consegue fazer quando decide embarcar nesse tipo de comicidade é criar sequências talhadas exclusivamente para adolescentes impúberes que riem até quando a bunda vermelha de um babuíno aparece em um documentário da National Geographic, o que se traduz em gente pelada, palavrões e violência aleatória em geral. E, quando ele acerta no humor, ele não larga a gag, como é o caso da looooonguííííííííssima e arrastaaaaaaaadaaaaaa sequência da entrevista do Pacificador com a Gangue da Justiça naquele pardieiro, com a graça indo embora nos primeiros 10 segundos.

Em termos de história, o episódio é o básico “primeiro episódio de nova temporada” em que o status quo atual dos personagens principais é apresentado, status esse que basicamente coloca Christopher Smith (John Cena), Leota Adebayo (Danielle Brooks) e Emilia Harcourt (Jennifer Holland) como três desempregados não empregáveis, com apenas Adebayo não tendo, pelo menos não aqui nesse começo, tendências autodestrutivas. Ou seja, Gunn revisita a mesma situação sob três ângulos diferentes que nem são tão diferentes assim, ainda que o destaque dado para a personagem vivida por sua esposa tenha me surpreendido pelo nepotismo cara-de-pau à la Francis Ford Coppola, mesmo que a sequência de pancadaria no bar tenha sido boa. John Economos (Steve Agee) e Adrian Chase (Freddie Stroma), ao contrário, estão empregados, o primeiro na A.R.G.U.S., agora comandada por Rick Flag Sr. (Frank Grillo), e o segundo em um restaurante, mas ambos aparecendo no episódio apenas para marcar ponto.

O que parece ser o catalisador da temporada é a transformação (outro leve retcon) do “armário quântico” do finado Auggie Smith Prime (Robert Patrick) em um armário tipo o de Monstros S.A., com portas para outras realidades, uma delas em que uma versão aparentemente não racista e bom pai de Auggie está muito viva ao lado tanto de seu filho Christopher Smith quanto de seu outro filho Keith (David Denman), com Christopher Prime tendo mais do que um vislumbre do que sua vida poderia ter sido, vislumbre esse que será certamente bem mais do que isso agora que ele matou (se matou?) Christopher 2. Acho interessante, também, a correlação do tipo de energia que a tecnologia desse armário tem com a que criou o universo de bolso de Lex Luthor no filme inaugural do UCDC 2.0 e a fissura que quase destruiu o planeta, com Rick Flag, claramente com uma agenda anti-Pacificador pelo assassinato de seu filho, perseguindo o protagonista. É uma pena que Gunn demore demais para chegar no filé do episódio, preferindo enrolar sem realmente desenvolver.

Claro que ainda está cedo para dizer (e não, eu não vi as cenas do próximo episódio, pois não tenho pressa) se o multiverso será a base da nova temporada ou se esse artifício será apenas o catalisador para alguma outra coisa que talvez reúna o Pacificador com sua família. Eu torço para a segunda opção que é mais gerenciável em uma série de TV, mas o que eu torço mesmo é que James Gunn acerte no tom de seu humor supostamente adulto e faça do Pacificador aquilo que ele tem potencial de ser, um “anti-Superman” que, nesse começo de novo universo, precisa existir para criar equilíbrio entre o lado mais comportado e o mais rebelde. E eu já disse que o retcon no recap foi uma sacada genial?

Pacificador – 2X01: Os Laços Que Desgastam (Peacemaker – 2X01: The Ties That Grind – EUA, 21 de agosto de 2025)
Criação: James Gunn
Direção: James Gunn
Roteiro: James Gunn
Elenco: John Cena, Danielle Brooks, Freddie Stroma, Jennifer Holland, Steve Agee, Robert Patrick, David Denman, Frank Grillo, Sol Rodríguez, Isabela Merced, Nathan Fillion, Sean Gunn
Duração: 45 min.

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