Home QuadrinhosOne-Shot Crítica | Piteco – Presas

Crítica | Piteco – Presas

Procurando alimento.

por Luiz Santiago
341 views

Confesso que não entendo como a editoria da Graphic MSP simplesmente aprovou um enredo como este que Eduardo Ferigato apresentou para a terceira aventura do Piteco no projeto. Muito do que foi apresentado antes manteve-se no cotidiano do personagem nesta nova edição; mas a maneira como o ambiente de vivência e a ameaça foram explorados me deixou triste e irritado, pois entendo-os como uma descaracterização da proposta inicial. Para falar a verdade, eu já tinha achado Fogo uma história bem inferior a Ingá, do Shiko. Mas pelo menos ali, Ferigato manteve as características centrais de uma “saga pré-histórica em território brasileiro“, como tinha sido estabelecida na trama ambientada na “Paraíba Neolítica”.

Aqui em Presas (2021), o artista simplesmente ignora a ótima ambientação brasileira anterior e nos entrega uma trama em montanhas gélidas, trazendo yetis como inimigos. Sim, yetis. Eu sei que nas historinhas infantojuvenis do Piteco, todo tipo de criatura, real ou não, aparecia nas páginas. Assim como não havia uma definição específica de cenário. Já a versão do personagem na Graphic MSP foi perfeitamente marcada como “aventura brasileira” em Ingá e Fogo. Em ambas as histórias, até a abordagem mais fantasiosa se alinha aos mitos ou narrativas que podemos reconhecer como típicas ou possíveis para o nosso território, fazendo desse Piteco um verdadeiro homem do Neolítico Pindorama. Bem, pelo menos até Presas.

Verdade seja dita: a jornada do protagonista ao lado da filha Thala é sim instigante. Eles vão até as gélidas montanhas de uma determinada localidade, a longa distância da aldeia de Lem. O motivo é trágico: o inverno chega com força na região (não há nada que indique uma “Era do Gelo”, apenas um inverno rigoroso mesmo), e a caça está cada vez mais difícil. Groto, um grande amigo de Piteco, foi para as montanhas em busca de alimento, mas não voltou. Isso impulsiona Piteco a se arriscar nas temidas montanhas e salvar o amigo. Em seu desenvolvimento (com bons diálogos entre ele e a filha, por exemplo), a trama discute temas como família, amizade, cooperação e empatia, ressaltando a ideia de que muitas espécies (e pelo visto, também os yetis) possuem um vital senso de comunidade. No geral, todo o processo de busca por Groto é bom. E mesmo que a fuga, na reta final, não tenha trazido nada de grandiosamente chamativo para mim, também não me afastou da história.

O que me pega de forma negativa aqui é essa criação vilanesca sem graça (yetis? Tenha santa paciência!) e um espaço geográfico que não creio ser aceitável para o Piteco das Graphic MSP. A qualidade de Presas é, no geral, bastante similar à de Fogo, ou seja, são boas histórias, apesar dos pesares. Mas eu definitivamente fiquei muito mais irritado e decepcionado com as escolhas artísticas e editoriais desta presente edição. Nada contra Eduardo Ferigato, no entanto, penso que é a hora de passar o bastão para outro escritor/artista e voltar a centrar as histórias do Piteco em ambiente, escopo vilanesco ou fantasioso tipicamente brasileiros. Extensão territorial, flora, fauna e criaturas para isto é o que não faltam por aqui.

Jeremias – Alma – Brasil, dezembro de 2021
Graphic MSP #31

Roteiro: Eduardo Ferigato
Arte: Eduardo Ferigato
Cores: Marcelo Costa
Editora: Panini Comics, Graphic MSP, Mauricio de Souza Editora
Páginas: 98

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais