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Crítica | Predador: Assassino de Assassinos

Jogando seguro em todas as pontas.

por Ritter Fan
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Dan Trachtenberg, apesar de ter jogado seguro ao retornar às raízes mais viscerais da franquia com seu O Predador: A Caçada, teve o grande mérito de arriscar-se na escolha de seu protagonista humano e da época e contexto em que o filme se passa, apostando suas fichas em uma jovem nativa americana no começo do século XVIII, nas planícies do que viria a ser os EUA. O sucesso inesperado – e merecido – de sua empreitada, garantiu-lhe a continuidade nesse universo, com o longa live-action Predador: Terras Selvagens, prometido para o final de 2025, sendo precedido por uma animação “surpresa” no meio do mesmo ano que prepara o terreno, digamos assim, para o que está por vir.

Usando um formato de semi-antologia, com as histórias de três guerreiros de três épocas diferentes enfrentando três predadores – ou yautjas – convergindo em uma quarta história que introduz uma novidade na mitologia dos caçadores alienígenas que cria uma “caixinha de areia” bastante ampla para Trachtenberg brincar quando quiser. No entanto, sendo bem chato, não fosse essa mudança de status quo que é aludido no final de cada um dos dois primeiros curtas e que serve de continuidade do final do terceiro para o começo do quarto, Predador: Assassino de Assassinos seria apenas mais uma exploração padrão da premissa magistralmente trabalhada – e esgotada – no ainda sensacional e facilmente melhor longa original de 1987.

Afinal, o que Trachtenberg faz é não só retornar ao básico, ou seja, pancadaria pura, mas em épocas que chegam a dar preguiça de tão óbvias para serem aplaudidas de pé por aqueles sedentos de mais do mesmo. Com isso, vemos guerreiros vikings guerreando entre si e, depois, contra um predador bombado e extremamente violento no primeiro capítulo; guerreiros do Japão feudal lutando entre si e, depois, contra um predador esguio e extremamente ágil no segundo capítulo e, finalmente, pilotos da Segunda Guerra Mundial guerreando entre si e, depois, contra um predador piloto no terceiro capítulo, tudo para, então, introduzir a pièce de résistance que é o quarto capítulo que dá sentido a tudo, mas que serve de tira-gosto ao que está por vir, já que tudo acaba em um cliffhanger completamente desnecessário. O design da animação não é também fora desse mundo, pois a paralelização entre estilos de guerreiros humanos e alienígenas parece o que séries de TV dos anos 80 teimavam em fazer para forçar paralelismos. Com isso, como descrevi acima, os predadores têm as características de suas presas. E a técnica de animação em si, apesar de muito boa quando a pancadaria corre solta, o que, admito, é quase o tempo todo, muito claramente economiza onde pode em termos de panos de fundo e detalhes de tudo aquilo que não esteja em primeiro plano e que não possa ser “borrado” como parte da ação.

Mas claro, como todo ser humano normal, eu apreciei as lutas todas, pois a equipe de produção soube trazer detalhes interessantes a cada uma delas, como a vingativa viking Ursa (Lindsay LaVanchy) lutando com dois escudos quebrados como armas de ataque e não somente de defesa, o segundo capítulo ser completamente sem diálogos e o terceiro contar com um piloto/mecânico americano que é um divertido misto de MacGyver com Ethan Hunt. Há de tudo um pouco, menos de sangue, que tem muito e de todos os jeitos, com duas constantes inamovíveis: a completa imortalidade dos protagonistas humanos e a total incompetência dos predadores que só conseguem mesmo matar quem não interessa, como de costume. Com isso, Trachtenberg, que dirige os episódios ao lado de Joshua Wassung, tem uma caixinha de areia bem mais limitada em termos criativos e de riscos narrativos do que a de seu filme de 2022, mas que, claro, ao revés, tem recursos ilimitados para fazer o que bem entender para extrair urros de excitação e socos no ar dos espectadores.

E essa é uma estratégia válida que os diretores empregam sem moderação, mas, ainda bem, com suficiente qualidade para fazer de Predador: Assassino de Assassinos (eu ainda acho que a melhor tradução é “dos assassinos”, mas não entrarei nessa seara aqui) o típico divertimento descerebrado que só não é completamente descartável justamente pela boa sacada – mas com potencial de criar uma muleta nostálgica para futuros longas – que se materializa na citada quarta e sem dúvida melhor parte de seu mais recente longa. A mitologia de um dos melhores alienígenas do audiovisual mudou para sempre com essa animação só bacaninha, criada justamente com o objetivo único de introduzir essa novidade em meio à pancadaria infinita do tipo que agrada facilmente a todos. Resta, então, esperar que o uso futuro dessa ideia justifique esse esforço todo e que Trachtenberg tenha planos mais ousados para a franquia.

Predador: Assassino de Assassinos (Predator: Killer of Killers – EUA, 06 de junho de 2025)
Direção: Dan Trachtenberg, Joshua Wassung (Josh Wassung)
Roteiro: Micho Robert Rutare
Elenco (vozes originais): Lindsay LaVanchy, Cherami Leigh, Louis Ozawa, Rick Gonzalez, Michael Biehn, Doug Cockle, Damien Haas, Lauren Holt, Jeff Leach, Piotr Michael, Andrew Morgado, Alessa Luz Martinez, Felix Solis, Britton Watkins
Duração: 90 min.

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