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Crítica | Sussurros do Coração

por Luiz Santiago
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Único longa-metragem dirigido por Yoshifumi Kondo, Sussurros do Coração é uma história de amor centrada no crescimento interno de dois adolescentes, um garoto que quer ser um fabricante de violinos e uma garota que quer ser escritora. Como é de praxe nos filmes do Estúdio Ghibli, a jornada dos personagens também é de amadurecimento e encontro com surpresas que os tornam pessoas melhores, não sem antes visitarem ou serem visitados por ingredientes fantasiosos, oníricos ou simbólicos, tornando o filme um belo exemplar do rico Universo que encontramos nas animações desse icônico estúdio japonês.

Shizuku passa praticamente todo o seu verão mergulhada nos livros. Ela desafiou a si mesma, estabelecendo que durante esse período de férias irá ler 20 livros, e por isso faz constantes visitas à biblioteca da cidade e da escola. Certa noite, a menina se dá conta de que os livros que escolheu para ler já haviam sido lidos por uma pessoa chamada Amasawa. E é na esteira desse pequeno mistério que o roteiro de Hayao Miyazaki (baseado no mangá de Aoi Hiiragi) começa a desenvolver sua personagem, fazendo com que o espectador acompanhe o seu cotidiano, sua reação a algumas situações familiares e sua progressiva irritabilidade ao ser surpreendida por um sentimento que não esperava encontrar nesse período de seu ano letivo.

A introdução de Seiji Amasawa na obra é realizada de maneira inteligente pelo diretor, que escolhe exibir o garoto como uma espécie de intrometido de quem o público não necessariamente irá gostar. É claro que nessas primeiras cenas não temos certeza se ele é realmente o “misterioso leitor dos mesmos livros de Shizuku“, mas olhando em retrospecto, é muito interessante perceber esse primeiro contato afastado e quase hostil em relação ao personagem, para que depois nos aproximemos dele. Melhor ainda: esse processo de aproximação não se dá de forma bobinha ou conveniente demais, como talvez fosse de se esperar numa história de amor entre dois adolescentes. E isso ocorre porque a costura das relações humanas aqui é apenas uma camada secundária do drama, cuja verdadeira força só se mostra na derradeira cena da fita.

Por todo o restante do filme notamos a intensa busca de Shizuku e Seiji para encontrar o seu lugar no mundo, tendo a via dos estudos e da profissão como foco. Há um elemento cultural tipicamente japonês que grita ao longo da película, ao expor esse tipo de cobrança aos estudantes, algo que podemos encontrar, essencialmente, em qualquer cultura, mas que no Japão recebe um certo refinamento de plena dedicação ao trabalho e aos estudos como motivo de honra pessoal/familiar. E é esse peso que acompanhamos a dupla protagonista carregar, aprendendo a lidar com ele em dado momento; curiosamente, um momento de fuga, onde podem enxergar melhor essas cobranças e direcioná-las para aquilo que lhes dá prazer.

A fuga de Shizuku é a que recebe mais atenção no filme (e é notável como ela vê a fuga do garoto como uma prisão, representada por uma xilogravura que, a despeito do ar de esperança vinda pela confecção dos violinos, não deixa de ser uma prisão) e as suas cenas de voo com o gato Barão e todos os estonteantes cenários de fantasia desenhados por Naohisa Inoue são realmente de tirar o fôlego.

Sussurros do Coração entrelaça as primeiras descobertas sentimentais de dois adolescentes com as suas projeções para o futuro, com seus desejos profissionais e suas primeiras responsabilidades. É uma história sobre conhecimento e desafios. E sobre surpreender-se com as pérolas que a vida consegue esconder aqui e ali no meio de toda essa caminhada.

Sussurros do Coração (Mimi wo sumaseba) — Japão, 1995
Direção: Yoshifumi Kondô
Roteiro: Hayao Miyazaki (baseado nos quadrinhos de Aoi Hiiragi)
Elenco: Yoko Honna, Issey Takahashi, Takashi Tachibana, Shigeru Muroi, Shigeru Tsuyuguchi, Keiju Kobayashi, Yorie Yamashita, Maiko Kayama, Yoshimi Nakajima, Minami Takayama, Mayumi Izuka, Mai Chiba, Satoru Takahashi, Akiko Sakaguchi, Hiromi Yasuda
Duração: 111 min.

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