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Crítica | Asterix e Obelix: Missão Cleópatra

por Ritter Fan
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Asterix, Obelix e os demais irredutíveis gauleses criados por René Goscinny e Albert Uderzo em 1959 ganharam diversos longas animados nas décadas seguintes, mas só foram brindados com uma adaptação com atores reais 40 anos depois, em 1999, com o lançamento da milionária co-produção francesa, alemã e italiana Asterix e Obelix contra César, estrelando Christian Clavier como Asterix e Gérard Depardieu como Obelix. O sucesso foi imediato e estrondoso o que, claro, acabou gerando uma continuação direta três anos depois que custou 58,5 milhões de dólares, quase 16 a mais que o longa anterior que já havia sido o mais caro filme francês na história até aquele momento.

Mas, diferente de Hollywood, que costuma entregar continuações inferiores aos originais, Asterix e Obelix: Missão Cleópatra, novamente com a mesma dupla de atores vivendo os inesquecíveis protagonistas, mas desta vez escrito e dirigido por Alain Chabat, que também faz o papel de Júlio César, é um grande acerto, muito superior ao primeiro e, se duvidar, a melhor obra audiovisual da franquia até hoje, contando até com as animações. E a primeira escolha de qualidade da produção é focar em apenas um álbum da série original e um dos melhores, Asterix e Cleópatra, que já havia sido adaptada em animação em 1968, evitando a dispersão que aconteceu com o longa anterior que, ao tentar pinçar situações de diversas HQs, acabou se perdendo.

Além disso, o roteiro de Chabat é preciso primeiro em manter-se incrivelmente próximo ao material fonte, mas sem que o ator transformado em cineasta deixasse de imprimir sua própria pegada que consegue manter as características mais cartunescas que fizeram sucesso no primeiro filme e que facilitam a aceitação dos personagens como eles nos são apresentados, adicionando a elas uma verve satírica que consegue fazer visualmente o que Goscinny fazia em seus textos, ou seja, trazer elementos de crítica social, além de um infindável número de referências das mais diversas naturezas, desde filmes chineses de kung-fu dos anos 70, passando por Star Wars e chegando até mesmo à pintura A Balsa de Medusa, de Théodore Géricault, sem que, porém, a narrativa fique escrava delas. Por incrível que pareça, é o roteiro que mais consegue se aproximar do espírito do trabalho original dos criadores dos gauleses mais adorados do mundo.

Para além do roteiro, vê-se muito claramente onde o dinheiro foi investido. O design de produção é suntuoso e detalhado, com cenários e figurinos variadíssimos, além de um número enorme de extras que emprestam aquele tipo de verossimilhança cartunesca que esperamos de uma obra dessa natureza. Se Asterix (Clavier), Obelix (Depardieu) e Panoramix (Claude Rich), que vão ao Egito ajudar o incompetente arquiteto Numerobis (Jamel Debbouze) que fora escalado para construir um palácio para Júlio César (Chabat) como parte de uma aposta de Cleópatra (Monica Bellucci), mantêm todas as características físicas dos quadrinhos, sem alterar maquiagem, cabelo e figurinos, os demais personagens, o que inclui também o arquiteto rival e sabotador Timetamon/Amonfobis (Gérard Darmon), são regalados com um apuro estético de dar inveja. Claro que o destaque vai mesmo para a estonteante Bellucci como a última faraó do Egito que, a cada nova cena, usa um figurino diferente e provocante, mas sem resvalar na vulgaridade, ainda que sua personagem seja muito mais um “enfeite” narrativo (essencial, não tenham dúvida) do que propriamente alguém com desenvolvimento próprio.

A computação gráfica também merece destaque, pois, assim como as referências do roteiro, é usada com cuidado e parcimônia, sem prender a história à ditatura dos bits e bytes. O filme funciona independentemente do CGI, já que há emprego generoso de efeitos práticos que por vezes lembram os que vemos na versão live-action dos Flintstones, além de animação clássica como na cena em que os gauleses mais Ideiafix ficam presos em uma pirâmide no completo escuro, e que só contribuem para amplificar a sensação de transposição perfeita da HQ para o audiovisual. Há, claro, um certo desgaste considerando a época em que o longa foi feito se aplicarmos o olhar de hoje em dia, mas, em linhas gerais, todos os efeitos digitais sobreviveram bem ao teste do tempo.

E é curioso notar como um diretor bom pode fazer a diferença no que se refere aos atores. A mesma dupla protagonista teve uma performarce carismática, mas não mais do que isso no longa anterior, mas, aqui, além do carisma, que é mantido e amplificado, Chabat abre espaço para que Depardieu e Clavier realmente mostrem que suas escalações foram realmente acertadas, indo além do trabalho meramente físico. Da mesma forma, Chabat extrai convincentes trabalhos de Rich e Debbouze, este último resvalando no pastelão, mas de forma muito divertida, especialmente na luta estendida que ele tem com seu arqui-inimigo.

Asterix e Obelix: Missão Cleópatra é um deleite cômico que não só sabe respeitar o material fonte, como também exemplarmente adaptá-lo ao audiovisual live-action de maneira contemporânea e relevante, mas perder a essência do original. Alain Chabat, corajosamente controlando a superprodução, entrega uma improvável continuação que não só consegue ser muito superior ao primeiro longa, como até hoje, na data de publicação da presente crítica, continua sendo o ponto alto de Asterix e Obelix no audiovisual.

Asterix e Obelix: Missão Cleópatra (Astérix & Obélix: Mission Cléopâtre – França/Alemanha, 2002)
Direção: Alain Chabat
Roteiro: Alain Chabat (baseado em criação de René Goscinny e Albert Uderzo)
Elenco: Gérard Depardieu, Christian Clavier, Jamel Debbouze, Monica Bellucci, Alain Chabat, Claude Rich, Gérard Darmon, Edouard Baer, Dieudonné, Mouss Diouf, Marina Foïs, Bernard Farcy, Jean Benguigui, Michel Crémadès, Jean-Paul Rouve, Edouard Montoute, Chantal Lauby, Noémie Lenoir, Fatou N’Diaye, Monia Meflahi, Pierre Tchernia
Duração: 107 min.

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