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Crítica | Terminator: The Sarah Connor Chronicles (Série Completa)

por Ritter Fan
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estrelas 4

Três anos antes de encarnar Cersei em Game of Thrones, Lena Headey viveu outro personagem fortíssimo: Sarah Connor, a mãe de John Connor (Thomas Dekker), salvador do futuro. E arrisco dizer que sua intepretação não deixa nada a dever ao trabalho de Linda Hamilton em O Exterminador do Futuro, de 1984, em que fazia a versão “frágil donzela em perigo” e em O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final, de 1991, em que fazia a versão “guerreira destemida” da personagem. Headey é sua própria Sarah Connor, não há dúvidas, e por isso mesmo talvez ela tenha sido tão vitoriosa nesse infelizmente curto papel.

É que a série foi cancelada pela Fox em 2009, ao final de sua segunda temporada (sendo que a primeira teve, apenas, nove episódios em razão da greve de roteiristas de Hollywood), sem que o showrunner Josh Friedman tivesse tempo de amarrar as pontas soltas. Com isso, o intempestivo cancelamento desse spin-off da franquia criada por James Cameron acaba em um dos mais tensos e incríveis cliffhangers da televisão recente e que nunca terá resolução. De toda forma, mesmo com a maneira abrupta com que tudo chega ao (sem)fim, ainda vale muito a pena assistir Terminator: The Sarah Connor Chronicles.

E a principal razão para isso é que a série pode ser considerada como a verdadeira e sensacional continuação de T2, algo que O Exterminador do Futuro 3 – A Rebelião das Máquinas tentou, mas não conseguiu e O Exterminador do Futuro – A Salvação não chegou nem perto de ser. Sem qualquer cerimônia, aliás, a primeira temporada começa a partir dos eventos de O Julgamento Final, com John Connor ainda adolescente, ignorando (negando, na verdade) completa e misericordiosamente a existência dos outros dois filmes. Só por isso a série já mereceria aplausos. Mas tem mais, muito mais.

Como o título deixa claro, a série foca em Sarah Connor e sua obsessão em manter o filho a salvo para que um dia ele possa liderar a rebelião dos humanos contra as máquinas. A primeira temporada abre e ela está em 1999, no meio oeste americano, com identidade falsa, sempre sendo exageradamente cuidadosa com seu rebento. Por impulso, Sarah abandona seu namorado e ela e John partem novamente para recomeçar a vida, apesar dos protestos dele. Esse evento catalisa sua localização por um androide exterminador vindo do futuro para eliminar John Connor, mas, ao mesmo tempo, permite que uma exterminadora enviada pelo próprio John Connor mais velho equilibre as forças. De um lado, agora, temos Cromartie (Garret Dillahunt), o robô à la Schwarzenegger no primeiro filme e, do outro, uma exterminadora com rosto de adolescente batizada de Cameron (adivinhem em homenagem a quem…), vivida por Summer Glau, de Firefly. Convenientemente, porém, nenhum dos dois é um modelo T-1000, de metal líquido. São robôs “normais” que saem no tapa o tempo inteiro. Tenho certeza que a razão foi para não encarecer a produção com muita computação gráfica.

Mas a série não esquece sua gênese e, logo no começo, há o bem construído uso da viagem no tempo que transfere a ação para o presente (2007) e muda a dinâmica da história, deslocando Sarah, John e Cameron no tempo, forçando-os a não só reconstruir suas vidas como a adaptarem-se a esse futuro, ainda que não muito distante. Sentindo-se inconformado pela vida de fugas, John acaba convencendo a mãe, com a ajuda de Cameron, a partir para a ofensiva e a tentar destruir a Skynet. Entra na equação, para complicá-la ainda mais, Derek Reese (Brian Austin Green), irmão de Kyle e, lógico, tio de John, também mandado para o passado com o mesmo objetivo de ajudá-lo e James Ellison (Richard T. Jones), agente do FBI que luta para colocar as peças do quebra-cabeças que Sarah Connor no lugar.

Na segunda temporada, de maneira brilhante, os roteiristas resolvem as pontas soltas da situação complicada da primeira e, no mesmo ato, iniciam uma linha narrativa que expande a mitologia ao mesmo tempo em que começa a colocar em xeque a estabilidade e lealdade de Cameron. Essa é a linha mestra da segunda temporada, juntamente com o aprofundamento sobre a misteriosa personagem Catherine Weaver, vivida pela escocesa vocalista da banda Garbage, Shirley Manson. Weaver é a presidente da Zeira Corp., empresa que pode – ou não – estar por trás do nascimento de Skynet, que um dia destruirá o mundo. Há, também, o aprofundamento de Richard T. Jones, que passa a integrar mais completamente a narrativa.

Paralelamente, temos a introdução de duas importantes personagens, Jesse (Stephanie Jacobsen) e Riley (Leven Rambin), a primeira interesse romântico vindo do futuro de Derek e a segunda interesse romântico de John. Essas duas impulsionam muito da trama que se desenvolve e culmina em um sensacional episódio duplo que se passa em um flashback (ou um flashforward, tecnicamente) do futuro envolvendo Jesse e sua equipe de submarino comandada por um exterminador reprogramado. Esse episódio, Today is the Day, é angustiante e um dos vários pontos altos da segunda e robusta temporada.

O que mais chama atenção, porém, para quem conhece e gosta dos filmes da série, é a caracterização de Sarah Connor. Seria difícil aturar uma Linda Hamilton machona e paranoica como vemos em T2. Entra, então, a inglesa Lena Headey para emprestar seu caráter ao personagem, sem, porém deformá-lo. Sarah é durona sim, mas é sentimental e aceita ouvir os outros. Não é um soldado e sim uma mãe querendo proteger o filho, mas que compreende que ser mãe é também soltar um pouco seu filho para o mundo e não encapsulá-lo.

John Connor, vivido pelo ator Thomas Dekker, ao contrário, é bem parecido em personalidade com o John Connor que conhecemos em T2, mas sem a atitude rebelde extremada. A exterminadora Cameron é retratada por Summer Glau de forma razoavelmente eficiente. Digo razoavelmente não necessariamente por culpa da atriz, que é competente em passar aquela frieza curiosa de um exterminador “do bem”, mas muito mais pela certa dificuldade que tive de aceitá-la em seu papel, lutando contra robôs do porte de Cromartie. No entanto, com o tempo fica mais fácil perceber que o showrunner tentou fazer algo diferente e, em última análise, essa disparidade física funciona.

É difícil listar as várias qualidades de Sarah Connor Chronicles. A trama fica mais complexa na medida em que a segunda temporada avança, mas os roteiristas o fazem de maneira muito inteligente e respeitadora da mitologia criada por James Cameron na década de 80. Sem dúvida alguma, com 22 episódios, a segunda temporada é grande demais e vemos alguns episódios que não impulsionam efetivamente a trama. Um deles, porém, é tão bom que quase compensa os demais. Chama-se Self Made Man e trata unicamente de Cameron usando seu tempo livre (as noites basicamente, pois, como todo bom exterminador, ela não dorme) para caçar outros exterminadores. Nesse episódio, ela investiga um possível robô erroneamente enviado para os anos 20 e o enfoque investigativo somado ao maior foco na personalidade de Cameron ajudam o espectador a criar empatia pelo personagem.

Sarah Connor Chronicles era uma série com enorme potencial, pelo menos é isso que mostram as duas temporadas que foram ao ar. Lena Headey já mostrava sua força e como consegue tomar conta de todas as cenas em que aparece em seu processo de construção de uma personagem cativante. Pena que a Fox não insistiu com a série e Headey teve que partir para King’s Landing.

Terminator: The Sarah Connor Chronicles (EUA, 2008/09)
Showrunner: Josh Friedman
Direção: vários
Roteiro: vários
Elenco: Lena Headey, Thomas Dekker, Summer Glau, Brian Austin Green, Garret Dillahunt, Shirley Manson, Richard T. Jones, Leven Rambin, Stephanie Jacobsen, Shirley Manson
Duração: 43 min (por episódio – 31 episódios no total)

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