Home QuadrinhosOne-Shot Crítica | Texone – Vol. 5: Arizona em Chamas

Crítica | Texone – Vol. 5: Arizona em Chamas

por Kevin Rick
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Se existe algo problemático em muitos faroestes clássicos, é o retrato estereotipado de nativo-americanos. O quinto volume original da série Tex Albo Speciale – TexoneArizona em Chamas, coloca Tex Willer e seu parceiro Kit Carson em um emaranhado político estadunidense em relação aos direitos dos povos indígenas, a expansão da civilização americana e o confronto de diferentes culturas em volta de interesses mesquinhos, ideais de honra tribal e, claro, como não poderia faltar em uma história de faroeste, vingança. Mas, acima de tudo, é uma obra com um ótimo, e paralelamente trágico, olhar para a história de povos ameríndios.

Acompanhamos a dupla em uma jornada para evitar uma guerra entre os indígenas e os militares em torno das terras do oeste, trazendo como solução acordos de paz entre os apaches e Washington para divisões de terrenos e criações de reservas que respeitam o legado dos seus povos nativos. Um volume muito mais centrado em diálogos e conflitos de interesses, o texto de Claudio Nizzi é perspicaz em situar sua narrativa menos, digamos, frenética, sempre em movimento. A cadência da história política é extremamente fluida, pois o roteiro mantém Tex e Kit sempre em deslocamento, dando um aspecto de velocidade para uma leitura em grande parte focalizada em exposição.

Outro aspecto interessante está na maneira que Nizzi “foge” bastante de estereótipos indígenas, buscando diversidade cultural, de caráter e de ideais dentro da diversamente vasta comunidade ameríndia. Desde diferentes tribos, modos diversos de liderar dos apaches, feiticeiros que espalham boatos, até mesmo indígenas que traem a própria raça, o volume trata a diversidade cultural exatamente como ela é: cheia de complexidades. Além disso, a inserção de Tex como uma ponte entre tantas discordâncias culturais, é feito com muito cuidado para não soar como o típico “herói branco”, no qual personagem é bem mais situado em um papel de diplomata, conversando com políticos de Washington, apaches e generais militares de modo a evitar a guerra.

Posicionar o Águia da Noite neste papel apaziguador cria uma ótima atmosfera de empatia com o leitor. À medida que o texto de Nizzi desenrola a corrupção política para destruir os indígenas, os vários massacres pelas mãos de Dan Limbert e seus “voluntários do Arizona” e a própria traição de um indígena perspicazmente apelidado de “Olho Branco”, nos pegamos torcendo para o sucesso de uma resolução política pacificadora, um sentimento um tanto inesperado no gênero. Em contraponto, o roteiro coloca em foco as manipulações militares e políticas de um povo a mercê em poderio bélico e conhecimento, como também extremamente ingênuo. É aquele tipo de obra historicamente enervante por seus aspectos de dominação e exploração do outro.

A arte de Victor de la Fuente é extremamente eficiente tanto nos blocos de diálogos, como também na ação. O artista tem um traço fino, mas, curiosamente, passa uma sensação visual de dureza, especialmente nas feições castigadas dos personagens. Dá um belo toque de algo antiquado e clássico para o faroeste, e a própria ambientação recebe esse tratamento mais árduo com seu traçado fino. Acho que o desenhista é comum demais na diagramação das cenas de ação, com aquele molde de tiroteios mais próximos e uma falta de utilização do cenário, mas, novamente, ele é bastante eficiente em todos os planos, mantendo o ritmo imparável do volume.

Por fim, Arizona em Chamas é uma aventura sobre diferentes interesses, proveitos e conveniências pessoais indo de conflito umas às outras. Com excelentes elementos históricos da expansão da civilização americana e seu impacto negativo nos povos ameríndios que já haviam sofrido diversos horrores, Claudio Nizzi traz um trágico, e pelo menos, aqui, otimista em seu desfecho, retrato da exploração e das rivalidades de diferentes civilizações, enquanto um tremendo carismático protagonista luta para encontrar uma solução justa. Só podemos torcer por ele.

Tex: Arizona em Chamas (Tex Albo Speciale n. 5: Fiamme sull’Arizona) — Itália, 1992
No Brasil:
Tex Gigante #5: Arizona em Chamas (Mythos, 2016) – Edição Especial
Roteiro: Claudio Nizzi
Arte: Victor de la Fuente
Cores: Victor de la Fuente
Capa: Victor de la Fuente
240 páginas

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