Robert De Niro não é apenas um ator. Ele é o rosto de um gênero, um ícone de uma tradição cinematográfica essencialmente americana: o filme de máfia. Através de colaborações históricas com Francis Ford Coppola, Martin Scorsese, Brian De Palma e Sergio Leone, De Niro consolidou seu lugar como protagonista de algumas das obras mais emblemáticas da história do cinema. Agora, octogenário, é lindo acompanhar a lenda assumindo desafios com The Alto Knights, de Barry Levinson. O ousado projeto ousado coloca o ator como intérprete dos dois protagonistas deste épico mafioso.
O longa apresenta o submundo do crime nova-iorquino dos anos 1950, narrando a ascensão e o confronto entre dois titãs da máfia: Frank Costello e Vito Genovese ( ambos por Robert De Niro). Antigos aliados, os dois se veem em lados opostos de uma guerra silenciosa, marcada por traições, ciúmes e ambições desmedidas. Enquanto Costello busca uma saída pacífica do mundo do crime, Genovese trama sua ascensão ao poder absoluto, culminando em eventos que redefiniriam a estrutura da máfia americana.
É comovente ver De Niro recusar o papel de mero coadjuvante nesta fase da carreira. Levinson, ciente do peso simbólico que De Niro carrega, constrói seu filme em torno dessa figura monumental mais como um tributo do que como uma narrativa com vigor próprio. A câmera o venera em closes, enquanto a fotografia em tons pastéis e dourados reforça essa aura de um passado que não volta mais. Existe beleza nessa proposta, a de um cinema que sabe que está olhando para trás.
Contudo, nem toda homenagem no cinema sustenta uma dramaturgia. A estrutura narrativa, que lembra muito O Irlandês, aposta na narração em off e no olhar melancólico de um protagonista que revisita os escombros do passado. Mas o que Scorsese mostra como algo épico e pungente, aqui soa moroso, quase apático. Falta o dinamismo, falta o peso dramático. A amizade entre Frank e Vito, eixo emocional da trama, é narrada, mas raramente vivida em cena. O roteiro opta por contar, não mostrar, uma escolha que mina o envolvimento emocional.
Já que estamos relembrando grandes momentos da filmografia de De Niro, se em Era Uma Vez na América o protagonista nos conduzia por décadas de cumplicidade e traição com uma riqueza de detalhes que nos fazia viver junto aos personagens, The Algo Knights parece apenas recitar as glórias passadas, como um velho álbum de fotos folheado com desinteresse. Não se trata de esperar da obra algo que ela não é, mas se a proposta é evocar com frequência este legado do gênero e do ator, torna-se inevitável criar conexões. Nessas comparações, o trabalho de Levinson cai consideravelmente.
Apesar disso, há momentos em que o filme encontra brilho. A maquiagem, por exemplo, surpreende ao evitar a homogeneização dos dois protagonistas. Vito possui traços mais duros, refletindo sua teimosia, enquanto Frank exibe uma suavidade que reforça seu papel de herói trágico, não por suas ações, mas por sua presença. Além disso, a direção de arte reconstrói os anos 50 com precisão e a direção acertadamente aposta mais no prático do que no digital. Isso deixa a obra com textura, algo que sempre agrada.
No fim, The Algo Knights é mais um conto do que um épico. A obra parece lamentar não apenas o fim de uma amizade, mas o declínio de um gênero e de uma forma de fazer cinema. O filme de máfia, tal como o faroeste, pertence ao imaginário americano, mas foi sendo deixado para trás por uma indústria que já não sabe muito bem de onde veio. Tampouco para onde vai. Barry Levinson não aponta novos caminhos. Seu filme olha para trás e apenas suspira. Resta a nostalgia. E, talvez, só ela.
The Alto Knights (EUA, 2025)
Direção: Barry Levinson
Roteiro: Nicholas Pileggi
Elenco: Robert De Niro, Debra Messing, Cosmo Jarvis, Kathrine Narducci, Michael Rispoli, Michael Adler, Ed Amatrudo, Joe Bacino, James Ciccone, Anthony J. Gallo, Wallace Langham, Belmont Cameli, Louis Mustillo, Frank Piccirillo, Tim Livingood, Matt Servitto, Robert Uricola
Duração: 123 min