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Crítica | The Boys – 2X06: The Bloody Doors Off

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas da 1ª temporada e demais episódios e, aqui, de todos os quadrinhos.

Serei um pouco mais chato ainda, se vocês me permitirem. Tenho adorado The Boys e definitivamente há muita coisa boa para falar sobre The Bloody Doors Off, pois não é toda série de super-herói que tem uma super-estrovenga ou uma super-transa no beco ao lado de um corpo com a cabeça esmigalhada, mas decidi começar pelos aspectos que me incomodaram, um deles “exclusivo” do episódio e outro que é mais macro e, portanto, mais problemático. Lógico que chegarei nos elogios, mas peço paciência para minhas reclamações.

A primeira delas é a localizada, ou seja, é a que está presente apenas neste episódio por enquanto e que espero que não se repita. E muitos de vocês, leitores, revirarão os olhos quando eu disser o que é, especialmente depois desse suspense todo: a montagem. Sim, a montagem. Detalhe desimportante que só crítico chato percebe? Nem de longe, meus caros, nem de longe. Peguemos, por exemplo, Nothing Like it in the World como exemplo ilustrativo. No episódio, nenhum personagem foi esquecido e nenhuma sub-trama deixou de ser abordada e, em momento algum, ao longo de seus 68 minutos que, diga-se de passagem, quase não tem ação alguma, houve a impressão de que as linhas narrativas estavam se chocando umas com as outras. Tudo correu de maneira fluida, lógica, com cada segmento tendo o tempo necessário para ser desenvolvido sem que a trama paralela o interrompesse e sem que o raciocínio fosse quebrado, resultando em uma joia narrativa como poucas.

Em The Bloody Doors Off, a direção de Sarah Boyd erra na decupagem e na minutagem, quebrando as sequências em pedacinhos que vão sendo intercalados de forma constante demais que quebram a ação completamente, retirando seu peso e tornando a duração – aqui de 66 minutos – algo muito perceptível, o que sempre é ruim. Não falo aqui nem de longe daquele tipo de montagem de milissegundo de filmes de diretores como Michael Bay que acham que Cinema é liquidificador. Não é nem de longe algo assim. O ponto é a maneira como cada sub-trama é travada pela outra, como se fosse o primeiro dia de auto-escola de um jovem que nunca sequer sentou no banco do motorista antes e que, portanto, não sabe controlar o freio e o acelerador.

E é uma pena que isso aconteça, pois a trama no hospital Sage Grove é um grande avanço na história da Vought e uma que, como Tempesta deixa sobejamente claro para o Capitão Pátria ao final, pode mudar o jogo completamente, afastando o lado comercial da empreitada e trazendo uma tentativa de Nova Ordem Mundial – quiçá até um Quarto Reich – com base em seres super-poderosos, ou seja, uma versão muito vitaminada do que efetivamente acontece nos quadrinhos, provavelmente sem ciência de Stan Edgar. Essa sensação problemática de ritmo do episódio afeta até mesmo a introdução efetiva de Shawn Ashmore como Lamplighter (Faroleiro na versão brasileira das HQs e Facho de Luz na série), que tem o avanço de sua história prejudicado pelo vai e vem entre tramas.

Aliás, usarei Lamplighter como gancho para abordar o problema macro que este episódio deixa bastante evidente: a inserção de histórias e informações pregressas que caem de paraquedas. Se a série vem se mostrando muito superior aos quadrinhos de Garth Ennis, pelo menos nesse aspecto específico a impressão é justamente a contrária. A entrada da Coronel Mallory na segunda temporada funcionou, mas, com ela, vieram situações que me parecem perdidas e “inventadas” para a nova temporada e que sequer foram aventadas antes. Ora, se ela teve seus netos assassinatos pelo Lamplighter e Francês carregava a culpa disso nos ombros, inclusive sofrendo bullying de seus demais colegas de grupo, é no mínimo estranho que essa circunstância só seja mencionada aqui, neste episódio. E como um retcon mal-feito, em que informações novas, desconexas com o que veio antes, tivessem sido derramadas na série como se elas sempre estivessem lá. Ainda que seja possível aceitar essa circunstância, hummm, especial que The Bloody Doors Off traz, não sei se isso significa que outras situações parecidas não serão introduzidas assim, na base da mão pesada, em episódios posteriores.

Dito isso, a maneira como o Lamplighter é abordado no episódio é exemplar. No lugar de um ex-super-herói unidimensional que parece ter prazer em queimar os outros, o que o roteiro de Anslem Richardson faz é criar mais um personagem complexo, cheio de culpa e de dor que parece ter largado sua vida nos Sete para ser um enfermeiro de hospital com a função de eliminar experiências da Vought (ou seriam experiências secretas de Tempesta sem aval da empresa?). Ashmore constrói muito bem seu personagem no pouco tempo que tem, seja no flashback em que o vemos uniformizado, seja no presente, em que percebemos suas dúvidas e o que parece ser sua genuína vontade de expiar seus pecados. Será interessante ver aonde é que isso vai parar, agora que ele parece ter ingressado de verdade como espião dos Rapazes na organização super-heroica.

A sequência de ação em Sage Grove, protagonizada por MM, Francês e Fêmea, é o ponto alto do episódio, com a oportunidade de introdução do esperado Salsicha do Amor (Andrew Jackson), com direito a um particularmente repugnante (MM tem ficar traumatizado depois dessa, coitado) e hilário ataque da anaconda. O mesmo vale para a apresentação de Cindy (Ess Hödlmoser) que, mesmo perfurada por balas e eletrocutada por Tempesta, parece que tem ainda muito o que fazer na série com suas habilidades particularmente úteis para causar morticínio generalizado.

Mais uma vez desapontando, Billy Bruto ficou no banco de reserva, tendo apenas que lidar com Hughie extremamente ferido. Para não dizer que sua presença foi completamente inútil no episódio, a improvável conexão que é estabelecida entre Annie e Billy, especialmente depois que ela acaba matando o motorista do carro que eles roubam, serve de um excelente primeiro passo para que um potencial conflito maior entre eles seja estabelecido. Ou isso ou uma conexão maior entre Billy e uma super-heroína, o que seria, claro, uma grande surpresa dada a propensão do britânico em exterminar qualquer pessoa poderosa que passa pela frente dele. Vale especial nota o momento em que Annie paraleliza Billy e o Capitão Pátria em um momento muito verdadeiro e que certamente reverberará lá para a frente.

Outros momentos do episódio valem ser mencionados, por ajudarem muito no aumento da complexidade da história como um todo. Temos Maeve com prova em vídeo do literal assassinato em massa que ela e o Capitão Pátria cometeram no acidente de avião e, claro, Elena descobrindo a natureza de sua amante, o que pode precipitar tudo. Na outra ponta, vemos Profundo, depois da completa lavagem cerebral da Igreja da Ciento… digo, Coletividade, recrutando o cabisbaixo Trem Bala para sua causa com a ajuda do líder espiritual Alastair Adana (Goran Visnjic). A que essa sub-trama levará, ainda não está claro, mas a crítica à essas seitas hollywoodianas é um merecido tapa na cara dos atores e atrizes que se deixam influenciar por esses sanguessugas.

The Bloody Door Off, apesar de seus problemas – que não são poucos – tem a grande vantagem de impulsionar significativamente a história principal e de introduzir Lamplighter de uma forma inteligente, que faz ótimo uso de Ashmore. No entanto, faltando apenas dois episódios para a temporada acabar, é chegada a hora em que a construção de personagens e das narrativas precisam ou abrir caminho para ou caminhar de mãos dadas com as famosas e absurdas sequências de ação (mais do que o minhocão no pescoço!) que notabilizaram a série de forma que o encerramento seja literalmente explosivo.

The Boys – 2X06: The Bloody Doors Off (EUA, 25 de setembro de 2020)
Showrunner: Eric Kripke
Direção: Sarah Boyd
Roteiro: Anslem Richardson (baseado em criação de Garth Ennis e Darick Robertson)
Elenco:
– The Boys: Karl Urban, Jack Quaid, Laz Alonso, Tomer Capon, Karen Fukuhara
– The Seven: Antony Starr, Erin Moriarty, Dominique McElligott, Jessie Usher, Chace Crawford, Nathan Mitchell, Aya Cash
– CIA: Laila Robins
– Vought: Colby Minifie, Giancarlo Esposito
– Outros: Shantel VanSanten, Cameron Cravetti, Nicola Correia-Damude, Patton Oswalt, Langston Kerman, Jessica Hecht, David Thompson, Jessica Hecht, Elisabeth Shue, Dan Darin-Zanco, Barbara Gordon, Shawn Ashmore, Claudia Doumit, Goran Visnjic, P.J. Byrne, Lynne Griffin, Katy Breier, Greg Grunberg, Lovina Yavari, Lynne Griffin, Andrew Jackson, Ess Hödlmoser
Duração: 66 min.

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