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Crítica | The Morning Show – 2X10: Fever

Muito pouco e muito tarde.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as demais críticas da série.

“Sua crítica está atrasada.” Esse tipo comentário – que recebemos aqui no site algumas vezes, de formas diferentes, mas não jocosamente, que é justamente onde a graça reside – tornou-se um meme nosso interno e que até mesmo alguns leitores volta e meia usam para brincar com publicações de críticas de obras que não tenha sido lançadas literalmente ontem. E foi isso que me veio à mente quando Fever acabou, pois The Morning Show, em sua segunda temporada e especialmente com esse final, tornou-se uma série atrasada ou, talvez melhor falando, com o timing completamente errado, finalmente confirmando o medo que manifestei lá atrás, em meus comentários sobre My Least Favorite Year.

Diferente de séries como This is Us e Grey’s Anatomy que se aproveitaram da oportunidade de momento para inserir a pandemia mais naturalmente em suas mais recentes temporadas, a produção de The Morning Show resolveu fazer malabarismos artificiais começando com uma clara indicação de que teria o Covid-19 pelo menos como pano de fundo e partindo para um salto temporal que, como já mencionei diversas vezes, esvaziou a nova temporada de todas as linhas narrativas que viriam diretamente a partir dos eventos da sensacional primeira temporada. Para começo de conversa, pelo menos em tese estamos no final da pandemia e ter uma temporada inteira que acaba no começo da praga parece-me contraproducente, especialmente considerando que o vírus só ganhou destaque aqui, bem neste finalzinho. E o que resta para o futuro da série? Continuar de onde a segunda temporada parou e navegar pela evolução da pandemia justamente quando ela – espero! – for apenas uma lembrança indigesta e triste em nossas mentes lá pelo final do ano que vem? Ou será que a showrunner Kerry Ehrin promoverá outro salto temporal, agora para o final da pandemia, o que tornaria a elipse da temporada atual completamente inútil?

Bem, seja qual for o futuro de The Morning Show, o que interessa de verdade é seu presente e esse encerramento de temporada foi uma sucessão de escolhas equivocadas que resultou no pior episódio deste ano da série.

Comecemos, então, pela própria Alex Levy. A personagem seria, de muito longe, minha última escolha dentre os demais da série para falar sobre seu sofrimento com a Covid. Não só seu martírio em seu apartamento de mega-luxo em Manhattan é ridículo por si só – mas eu sei que há um público enorme que gosta de viver vidas vicariantes -, como ela, especialmente, passou a temporada inteira com dores psicossomáticas nas costas causadas pelo futuro lançamento do livro de Maggie em que seu caso com Mitch é revelado ao mundo. Portanto, tudo o que eu conseguia pensar enquanto ela se arrastava no chão da cozinha e ligava para seu assistente para perguntar o que seu cachorro estava fazendo ali era o quanto daquilo era um espetáculo teatral dela “querendo” sofrer muito mais do que estava realmente sofrendo. E de forma alguma eu duvido dos sintomas da Covid, não é isso, mas é que meu reflexo pavloviano, que a própria temporada incutiu em mim, foi duvidar da separação entre mente e corpo de Alex.

E isso tudo porque seu sofrimento ganha gigantesco destaque no episódio, com a personagem falando abobrinhas atrás de abobrinha que, tenho certeza, terá o condão de magicamente desfazer seu cancelamento, reerguendo-a mais uma vez como símbolo feminista, o que será absolutamente ridículo diante do que vemos em nosso cotidiano de cancelamentos semanais pelas razões mais bestas possíveis. Mas mais engraçado – ou trágico – ainda é que a lição que o episódio tenta passar sobre a Covid por intermédio de Alex é completamente minada por Bradley e Cory que, diga-se de passagem, são duas figuras tão importantes para a UBA que a empresa obviamente teria feito das tripas coração para mantê-los completamente isolados, correndo por Nova York sem máscara ou qualquer tipo de proteção atrás de Hal, com direito até à invasão da UTI de um hospital. Só sei que eu ri e não foi apenas de nervoso…

Falando em Hal, o que é essa insistência nessa linha narrativa paralela sobre a família de Bradley, hein? Até mesmo Laura foi defenestrada da série para dar lugar de destaque a esse imbróglio desinteressante e mal abordado por roteiros basicamente maniqueístas que tratam da questão de maneira completamente binária. É literalmente como alguém tivesse se lembrado, no meio da temporada, que talvez Bradley não pudesse ganhar desenvolvimento conectado exclusivamente à sua sexualidade o que, se for verdade, é completamente idiota, pois sim, a temporada poderia ter focado nisso de verdade, sem vergonha de lidar com o assunto apenas de maneira perfunctória, como aquelas manchetes sensacionalistas de jornais só para atrair mais cliques ou substituir a leitura de tudo o que está abaixo delas.

No entanto, felizmente, nem tudo foi imprestável. Gostei do enfoque dado a Daniel, que, em um arroubo de raiva, pede demissão do TMS, deixando Mia “sozinha” e levando a produtora a ter uma significativa conversa telefônica com o jornalista para tentar convencê-lo a voltar, já que ter um negro homossexual como co-âncora do programa – mesmo que em uma substituição desesperada e certamente efêmera – simboliza muito mais para outras pessoas de cor do que pode simbolizar para o próprio Daniel, basicamente tornando seu aceite uma obrigação moral. Com o possível sucesso do videocast noturno de Alex, é até possível que a série seja completamente remexida em sua terceira temporada, realmente pareando Bradley com Daniel para mais do que apenas algumas semanas (mas eu duvido…).

Outra sequência que achei excelente foi o momento em que Paola Lambruschini irrompe na sala de Cory – por sua vez cercado por uma inadvertidamente engraçada barreira vítrea – para pedir dois minutos de audiência que o leva a assistir a integralidade do documentário sobre Mitch Kessler e terminando a sessão com uma oferta que a italiana muito provavelmente não poderá recusar (não foi sem querer a escolha da imagem que ilustra a presente crítica). Será interessante ver se o impacto do documentário, provavelmente transmitido no serviço de streaming UBA+, cujas festas de lançamento tiveram que ser canceladas, será abordado a contento no próximo ano e se Paola passará a ter uma presença mais constante na série, já que sua visão externa sobre os meandros da UBA e sobre as pessoas que povoam a empresa pode ser a base para diversos momentos desconcertantes.

No entanto, mesmo com os esforços de Mia, Daniel e Paola, Fever foi um final patético para uma temporada certamente boa, mas muito cambaleante e que por diversas vezes traiu seus princípios de abordar questões polêmicas com a devida profundidade. O afã para colocar a pandemia em evidência na linha temporal da série acabou privando-a de tudo aquilo que a destacava, especialmente quando lembramos que o evento global dos últimos dois anos (ou quase) só realmente serviu para alguma coisa – coisa essa ruim, diga-se de passagem – bem aqui no encerramento como uma tentativa atropelada e, mais do que isso, equivocada, de surfar na onda do momento. Espero, sinceramente, que The Morning Show retorne à sua glória, caso contrário é melhor fechar as portas da emissora logo de uma vez.

The Morning Show – 2X10: Fever (EUA – 19 de novembro de 2021)
Criação: Jay Carson (baseado em obra de Brian Stelter)
Desenvolvimento: Kerry Ehrin
Direção: Mimi Leder
Roteiro: Kerry Ehrin
Elenco: Jennifer Aniston, Reese Witherspoon, Billy Crudup, Mark Duplass, Néstor Carbonell, Karen Pittman, Greta Lee, Desean Terry, Hasan Minhaj, Valeria Golino, Holland Taylor, Tom Irwin, Will Arnett, Patrick Fabian, Julianna Margulies, Joe Tippett
Duração: 61 min.

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