A série The Resident, que conquistou tanto os corações quanto as mentes de seus espectadores, chegou a sua conclusão em sua sexta temporada, conforme o anúncio de seu cancelamento pela FOX em abril de 2023. Desde seu início, o drama médico ofereceu uma visão penetrante dos bastidores do Chastain Memorial Hospital, em Atlanta, trazendo à tona os dilemas éticos que médicos e enfermeiros enfrentam em um sistema de saúde marcado por corrupção e interesses financeiros. No entanto, a partir da quarta temporada, a audiência começou a diminuir significativamente, culminando na decisão da emissora de encerrar a série após sua sexta e última temporada. Embora os altos e baixos da narrativa tenham sido evidentes, a base de fãs leal, repleta de personagens complexos, foi um testemunho do impacto que este drama médico teve na representação da medicina contemporânea ao longo de seus episódios com estética constantemente esverdeada e duração média de 40 minutos.
Nesta última temporada, os desafios enfrentados pelo Chastain Memorial Hospital se tornaram mais evidentes, com a administração enfrentando a corrupção política que ameaçava a qualidade dos cuidados prestados. Conrad Hawkins, interpretado por Matt Czuchry, não apenas lidera sua equipe em meio a emergências médicas crescentes, mas também lida com as complexidades de ser um pai solteiro. Essa nova dimensão em sua vida pessoal aprendeu a se equilibrar com a pressão do ambiente hospitalar, trazendo um toque emocional à narrativa. A química entre os personagens principais, como Devon Pravesh (Manish Dayal) e Leela Devi (Anuja Joshi), que se destacam como um casal poderoso no impacto real que seus relacionamentos têm na medicina, adicionou uma camada de profundidade à série. A luta de personagens como o Dr. Bell (Bruce Greenwood) da esclerose múltipla em uma história interligada, atingindo uma ressonância emocional com desenvolvimentos anteriores, permitiu que os espectadores vissem o crescimento e as transformações que os personagens experimentaram ao longo da série.
Entretanto, as últimas temporadas de The Resident acabam por cair em fórmulas repetitivas que tornam a narrativa mais genérica. Questões de saúde e o impacto de um sistema de saúde corrupto ainda estavam presentes, mas a inovação e o frescor que marcaram os primeiros anos da série começaram a se dissipar. O final da série, ainda que bem elaborado, deixa uma sensação de completude, porém, paira no ar a impressão de que algo mais poderia ter sido explorado. O que deveria ter sido uma conclusão profunda para os personagens, em vez disso, se transforma em uma série de histórias interligadas que parece apressada e sem o desenvolvimento emocional que muitos fãs esperavam. O maior pecado desta temporada foi a introdução de dois novos interesses românticos para Conrad que, lamentavelmente, não apresentaram a química necessária. A primeira metade da temporada, que explorou um relacionamento forçado com Cade (Kaley Ronayne), deixou muito a desejar, e a transição para outra figura ficcional não trouxe os resultados esperados, gerando uma desconexão significativa.
Em um contexto onde The Resident começou a se destacar, valendo-se de questões sociais e doenças comuns que muitos médicos lidam no dia a dia, a apresentação de relacionamentos amorosos sem química contrasta claramente com o que a série fez de melhor. Sua tentativa de refletir os desafios e as conquistas enfrentados pelos médicos em um cenário hostil, que poderia ser bastante profundo, acaba se perdendo em dilemas românticos que não eram necessários. Essa falha se torna ainda mais evidente ao comparar a narrativa de suas primeiras temporadas, que trazia à luz a ambição por trás da medicina e a luta por justiça em um sistema falido, com as circunstâncias da sexta temporada. O potencial para desenvolver histórias mais impactantes culminando em uma crítica capaz de instigar diálogos sobre o sistema de saúde dos Estados Unidos ficou deixado de lado em favor de conflitos mais superficiais.
Com o cancelamento de The Resident e a subsequente introdução de uma nova série médica chamada Doc, adaptação da série italiana Doc: Uma Nova Vida, os fãs podem sentir um vazio à medida que se despede de Conrad, Devon e da rica tapeçaria que a série construiu. Embora haja uma sensação de encerramento, a ausência de questões não resolvidas, bem como desafios por explorar, deixa os espectadores ansiosos por uma nova narrativa médica que possa oferecer uma mistura de drama emocional, críticas sociais contundentes e a profundidade dos personagens que esta produção inicialmente proporcionou. Ao olhar para o legado da série, é possível reconhecer a importância do que foi criado, mas também vislumbrar o potencial perdido à medida que a narrativa se afastou de suas raízes mais impactantes e significativas. Com certeza, o drama médico abre um espaço para discussões sobre o futuro dos dramas médicos e a representação das realidades das profissões de saúde em um mundo onde a luta por dignidade e integridade é cada vez mais necessária. No geral, o que podemos observar é que a necessidade de atender aos fãs, às vezes, resulta nisso. Mas é parte do processo de produção de entretenimento na dinâmica do capitalismo, não há muito como fugir desse ciclo.
No final das contas, apesar das irregularidades, as seis temporadas deste drama médico abordaram pontos interessantes. A série explora conflitos éticos enfrentados por médicos, particularmente em relação a decisões que envolvem os pacientes e seus tratamentos. A batalha entre o lucro e a saúde do paciente é um tema recorrente, destacando a insegurança nas práticas médicas. Mesmo em suas passagens mais novelescas, The Resident criticou o sistema de saúde dos Estados Unidos, mostrando como questões financeiras muitas vezes priorizam o lucro em detrimento do bem-estar do paciente. Muitos episódios abordaram a forma como seguros e instituições influenciam tratamentos. Personagens femininas como a Dr. Mina Okafor (Shaunette Renée Wilson) e a enfermeira Nic Nevin (Emily VanCamp) nos mostraram a força e a resiliência das mulheres na medicina. A série abordou questões de discriminação e o desafio de equilibrar a vida profissional e pessoal. O tema dos cuidados paliativos e do final da vida sempre foi tratado com sensibilidade, mostrando a complexidade das decisões médicas e emocionais que cercam pacientes com doenças terminais e o suporte necessário para suas famílias. Ademais, com a inclusão de inovações tecnológicas, a série discute o impacto da telemedicina, IA e outras tecnologias no cotidiano hospitalar, sendo que os desafios e benefícios da tecnologia são frequentemente explorados, especialmente em momentos de crise.
Começou muito bem, ficou mediana, mas encerrou com dignidade.
The Resident: 6ª Temporada (idem, Estados Unidos/2022-2023).
Criação: Amy Holden Jones, Roshan Sethi, Hayley Schore
Direção: Phillip Noyce, Rob Corn, Bill D’Elia, James Roday, David Rodriguez, Thomas Carter, Bronwen Hughes, David Crabtree
Roteiro: Amy Holden Jones, Roshan Sethi, Hayley Schore
Elenco: Manish Dayal, Emily VanCamp, Matt Czuchry Bruce Greenwood, Melina Kanakaredes, Tasso Feldman, Shaunette Reneé, Morris Chestnut, Rob Yang
Duração: 45 min (cada episódio – 13 episódios no total)
